SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Bom dia! O mundo está acabando. Não é para tanto, mas o mercado financeiro parece acreditar que sim e outras notícias do mercado nesta segunda-feira.
Também aqui: o BRB acha mais sarna para se coçar no Banco Master, a Rússia escapa do tarifaço e os americanos ficarão chupando o dedo sem o Switch 2.
*SALVE-SE QUEM PUDER*
Você mal acordou e o mercado financeiro já está em desespero. A semana começa no mesmo tom que a anterior acabou: salve-se quem puder.
O mundo ainda está confuso com o que será do comércio com o tarifaço imposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, no dia 2. Pois é, já faz quase uma semana e todos ainda estão perdidos.
🇺🇲 Nos EUA os índices acionários futuros estavam no vermelho no domingo. Eles mostram as tendências para os pregões que vêm aí. São referências em dias sem negociações (feriados e fins de semana), ou quando queremos ter uma visão de maior prazo.
Na sexta-feira, US$ 5 trilhões (R$ 29 trilhões) foram retirados do S&P 500.
🌏Na Ásia o dia começou agitadíssimo. Teve até paradinha nas negociações. O nome dessas pausas é circuit breaker. Funciona como um disjuntor elétrico: ele interrompe o fluxo de eletricidade para evitar um incêndio.
↳ Na bolsa de valores, ele para a negociação por alguns minutos quando há quedas muito bruscas.
↳ Outro jargão que você pode ler por aí nos próximos dias é sell-off, quando muitos investidores estão vendendo ativos ao mesmo tempo.
A Bolsa do Japão caía 8,4% no início do pregão e teve um circuit breaker de dez minutos;
A Bolsa da Coreia do Sul também teve uma pausa e recuava 5%;
O índice chinês Hang Seng chegou a cair mais de 9%, com ações das gigantes Alibaba e Baidu recuando mais de 12%..
Medo de quê? De uma recessão global. Os investidores temem que as tarifas levem a uma contração tão repentina do comércio, que a economia dos países comece a encolher.
Daí vem uma série de efeitos, como aumento do desemprego, redução da atividade econômica, maior endividamento, aumento das taxas básicas de juros.
Economistas do J.P. Morgan esperam que a maior economia do mundo (os EUA) contraia 0,3% neste ano sob o peso das tarifas.
Antes delas, a projeção do banco era de um crescimento de 1,3%.
*QUEM PROCURA, ACHA*
Se tem uma coisa que gostamos nesta newsletter, são histórias que nunca acabam. Há uma semana, o BRB (Banco de Brasília) anunciou que compraria 58% do Banco Master, assumindo o controle das operações. Desde então, não passamos um dia sem ler novidades sobre o caso.
Desta vez, o BRB encontrou R$ 2 bilhões a mais em ativos de maior risco e baixa liquidez na instituição adquirida. Essa parte não deve entrar na operação. Com a descoberta, os ativos apartados chegaram a R$ 25 bilhões.
💸 Renegados. O BRB tem dispensado as operações mais polêmicas do Master no processo de adquiri-lo. Se vai comprar um pouco mais da metade, melhor deixar a metade podre para trás, certo? O problema é que mesmo a parte considerada ruim, tem compromissos a honrar.
O bagaço da laranja é composto por precatórios, direitos creditórios de ações judiciais, ações de empresas e parte de crédito da fatia do Master.
Os precatórios merecem uma explicação:
São pagamentos pendentes de decisões judiciais. Há quem goste de negociar esses ativos, há quem não. A maioria não quer, pois podem demorar para receber o dinheiro e é difícil vendê-los.
Para melhorar, uma parte da carteira do Master é composta por pré-precatórios, ativos que nem têm o recebimento de dinheiro confirmado ainda dependem de uma decisão judicial favorável para tal.
↳ Esse resto, que ficou com o fundador do banco, Daniel Vorcaro, pode ser vendido a um consórcio de bancos com garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito).
Resolvendo os detalhes. O assunto foi pauta de uma reunião entre o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e os dirigentes dos principais bancos privados do país (Itaú, Bradesco, Santander e BTG Pactual).
Ninguém topou ainda um acordo para comprar os ativos preteridos como consórcio. Eles saíram com a lição de casa de estudar o que foi excluído pelo BRB e entender como seria uma aquisição que daria ao Master o fluxo de caixa necessário para pagar suas pendências com alguma paz.
*SINAIS MISTOS*
Inimigos históricos, Estados Unidos e Rússia aparentam estar no momento mais amigável da relação em muito tempo. A melhora no clima se deve à chegada de Donald Trump à Casa Branca.
Mesmo com a resistência de aliados europeus, o republicano ficou mais amigo de Vladimir Putin, líder russo, nos três primeiros meses de seu governo. Tanto que a Rússia se livrou do tarifaço.
Calma lá na verdade, os russos já sofrem com uma série de sanções econômicas americanas, a maioria instaurada na invasão que fizeram à Ucrânia, em 2022. Elas impedem qualquer comércio significativo entre os países.
Rivais tradicionais dos EUA, como Cuba, Coreia do Norte e Belarus também não foram atingidos pelo tarifaço pelo mesmo motivo, segundo o informado pela secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt.
Mas a história não procede em todos os casos. A Síria comercializa com os Estados Unidos ainda menos que a Rússia exportou US$ 11 milhões (R$ 64 milhões) em mercadorias em 2024 e foi presenteada com uma alíquota de 41%, entre as mais altas da lista.
A Ucrânia, que guerreia com os russos neste momento, recebeu uma tarifa de 10% sobre suas exportações aos americanos. Representantes do país se manifestaram, dizendo que o imposto prejudicaria desproporcionalmente os pequenos produtores.
Em 2024, a Ucrânia exportou US$ 874 milhões (R$ 4,9 bilhões) em mercadorias para os EUA e importou US$ 3,4 bilhões (R$ 19,3 bilhões).
💰 Dinheiro está no cerne de todas as guerras. Não é diferente no caso da Rússia e da Ucrânia. Os americanos sabem disso e estão tentando usar a grana a seu favor uma história que já se repetiu muitas vezes.
Trump tenta negociar um acordo para acessar os minérios ucranianos com vantagens, em troca de negociações de paz com os russos. As tarifas são uma forma de pressionar mais o governo do país: para aliviar os encargos, eles precisarão oferecer algo que os americanos querem em troca.
↳ O presidente dos EUA reforça os gastos que o país que ele comanda teve ajudando a Ucrânia a se defender da Rússia. A troca não vai sair barata para os europeus.
Trump também cobra do outro lado. Em março, ele disse que aplicaria tarifas de 50% à importação de produtos russos, caso o país não topasse um cessar-fogo.
*GAME OVER*
Ok, leitor, talvez você tenha razão. Os últimos dias têm sido monotemáticos. Não há como fugir: Trump sequestrou a pauta.
Para remediar um pouco do tédio, vamos falar sobre as repercussões menos óbvias das tarifas impostas pelo governo americano. Uma delas atinge diretamente os amantes de games, que esperavam há anos o lançamento da segunda geração do console Switch, da Nintendo.
O timing foi péssimo: o anúncio veio junto com o tarifaço, que impôs um encargo de 24% às importações japonesas para os EUA. Caso você não tenha somado A + B, a Nintendo é do Japão. O resultado da conta é: a pré-venda do Switch 2 foi adiada para os americanos, e os gamers de lá ficarão babando enquanto o resto do mundo desbrava o console.
✏️ Detalhes. As reservas começariam nesta quinta-feira, dia 9, mas foram adiadas por tempo indeterminado pela fabricante. A data de lançamento, no entanto, não foi alterada e está prevista para 5 de junho.
👾 O novo console. O Switch foi lançado pela primeira vez em 2017 o que significa que a espera por uma nova versão completa oito anos. O aparelho, sem considerar impostos, custará US$ 449,99 (R$ 2.623).
Ele é maior e mais robusto, além de ter cores mais sóbrias que o vermelho e o azul neon que compõem a primeira versão um game para adultos, por assim dizer.
🗺️Em todos os cantos. A Nintendo é um bom exemplo do que é o comércio global hoje. A sede da empresa fica em Quioto, no Japão, mas boa parte da produção está espalhada entre China e Vietnã. Que sorte! Todos no topo da lista dos mais tarifados pelos EUA.
O Vietnã foi taxado em 46%;
A China, em 34% (se as alíquotas não forem cumulativas).
O impacto será maior do que o previsto pela fabricante de jogos, segundo a Niko Partners, consultoria voltada à indústria dos games.
Achamos improvável que a Nintendo aumente o preço do console neste momento, mas também não deve reduzi-lo nos próximos cinco anos, escreveu.
🇧🇷 No Brasil o Switch 2 ainda não tem data de lançamento nem preço previsto.
*O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER*
🛒 Enchendo a despensa. Com medo dos impactos do tarifaço em seus bolsos, os americanos correm para os supermercados para abastecer seu estoque de itens básicos.
🦁 Nada fica de fora. A Folha mostra como declarar bens como casa, carro, apartamento e outros no Imposto de Renda.
🤯 Encucados. A maior preocupação do brasileiro deixa de ser a violência e passa a ser a economia, segundo pesquisa do Datafolha.
🚛 Carga pesada. Uma quadrilha conseguiu roubar R$ 1,5 milhão no produto mais valioso do Brasil hoje: café.