SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Alunos da UFABC (Universidade Federal do ABC) de Santo André, na Grande São Paulo, têm faltado às aulas no período noturno após o aumento de casos de assalto no entorno do campus. Eles contam que os crimes têm ocorrido após o término das aulas.
No dia 27 de março, dois casos de assalto a mão armada aconteceram na saída da universidade (assista ao vídeo que acompanha esta reportagem). Em um deles, dois estudantes saíam do campus por volta das 23h para entrar em um carro quando foram abordados por três homens em motocicletas. Um dos criminosos disparou para o alto antes de render as vítimas e roubá-las.
O assalto aconteceu poucos minutos após o término das aulas na universidade. No momento em que os alunos foram abordados, um ônibus fretado saía do campus para levar estudantes e funcionários até a estação de trem mais próxima. A ação foi filmada por uma câmera de segurança de um estabelecimento vizinho.
Cerca de uma hora antes, outra estudante também foi roubada ao sair da universidade por três homens que estavam em duas motos.
Estudantes e professores relatam que há anos a universidade sofre com casos de violência, já que fica próxima à avenida do Estado, uma via em que os criminosos conseguem fugir com facilidade. Afirmam, contudo, que a situação se agravou neste ano.
“Há mais de dez anos temos relatos e reclamações da falta de segurança no campus. O problema é que os casos estão ficando mais recorrentes e mais graves. Os bandidos chegam armados, disparam na frente da universidade e nenhuma medida de segurança é tomada pelo poder público”, diz Wilson de Almeida, professor da UFABC.
Segundo ele, estudantes têm faltado às aulas ou estão indo embora mais cedo por receio dos assaltos.
“Os criminosos sabem o horário em que as aulas terminam e ficam rodeando a universidade. Não há policiamento, não tem segurança na universidade para proteger os alunos e funcionários e os ladrões se aproveitam dessa fragilidade”, afirma o docente.
Uma das vítimas roubada no dia 27 de março contou à Folha de S.Paulo que mora a poucos metros da universidade, mas volta para casa de carona com os pais por medo de ser assaltada. Naquele dia, sua mãe foi buscá-la no fim da aula, e quando a estudante estava entrando no carro acabou abordada por um dos criminosos.
Ela estava acompanhada de um colega, e os dois tiveram celulares e mochilas levados. A jovem, de 23 anos, pediu para não ter o nome divulgado.
Segundo o professor Wilson Almeida, a reivindicação por mais segurança no campus já foi feita diversas vezes à reitoria e à Polícia Militar, mas a situação nunca foi resolvida. “A gente pressiona e a polícia acaba vindo alguns dias, mas depois deixa de aparecer e os crimes voltam a acontecer.”
A reitoria da UFABC afirmou que, após os dois casos de 27 de março, encaminhou um ofício à Secretaria da Segurança Pública do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) reiterando a preocupação com o aumento de assaltos violentos no entorno do campus e solicitando reforço na segurança.
Também disse que o problema extrapola o contexto universitário e, que por isso, enfrenta a situação com “responsabilidade institucional”, mantendo diálogo com os órgãos competentes em busca de soluções efetivas.
“A UFABC tem adotado medidas como o aprimoramento da iluminação nas calçadas e pontos de acesso ao campus, além de melhorias na manutenção das áreas externas. A universidade também é membro permanente do Conseg-Norte (Conselho Comunitário de Segurança), articulando ações com a Polícia Militar, a Polícia Civil e a Guarda Civil Municipal”, acrescentou.
Afirmou, ainda, que dispõe de uma equipe de segurança patrimonial e comunitária, sendo que esses profissionais não estão armados e são instruídos a prestar apoio às vítimas desse tipo de crime.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo disse que as forças de segurança “seguem intensificando as ações para coibir esse tipo de crime, não apenas nos arredores da faculdade, mas em toda a cidade de Santo André”.
A pasta afirmou que as operações têm sido direcionadas para as áreas de maior incidência de crimes, mas não especificou se o entorno da universidade tem sido contemplado. Disse ainda que o 2º Distrito Policial de Santo André, que atende a região, prendeu ou apreendeu 80 infratores nos dois primeiros meses desse ano.