SÃO PAULO

Segundo especialista em segurança de voo, procedimento só deve ocorrer na falta de aeródromo ou área vazia após imprevisto

(FOLHAPRESS) Em 06/04/2025 18h30

Pousos de emergência em rodovias movimentadas –como o que ocorreu neste sábado (5) em Santa Catarina– devem ocorrer somente em último caso, mas não proibidos nem irregulares segundo as normas de aviação brasileiras. Segundo especialista em segurança de voo, a recomendação é que um procedimento arriscado como esse só deve ocorrer quando outras opções não estão à disposição do piloto.

Um vídeo gravado pelo passageiro de um carro que estava a poucos metros da aeronave, um monomotor ultraleve modelo Pelican 500 BR, mostra que durante o pouso ela ficou a poucos metros de colidir com veículos que estavam na pista. O piloto conseguiu entre dois caminhões que trafegavam na pista –um ficou atrás e outro à frente do ultraleve.

Após pouso de emergência, ultraleve foi levado para acostamento da BR-101 Reprodução Ultraleve faz pouso de emergência na BR-101 em Santa Catarina **** A rodovia tinha tráfego intenso durante o pouso, que ocorreu por volta das 11h50. O pouso foi realizado sem qualquer contato com outros veículos, e o piloto conseguiu conduzir a aeronave até o acostamento, liberando o tráfego.

“Pousar numa rodovia é possível quando um aeródromo ou uma área próxima [sem obstáculos] não está disponível. Lógico que a última opção é numa rodovia com movimento”, diz o especialista em segurança de voo Roberto Peterka. “A responsabilidade é 100% do piloto, o risco é ele quem assume.”

Ele pondera que, conforme mostram as imagens, as duas margens da rodovia tinham árvores e havia risco ainda maior de colisão se o pouso fosse realizado fora do asfalto.

Peterka também ressalta que o ultraleve não é um avião regulamentar –que opera linha aérea de transporte supervisionado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil)–, e sim um equipamento de montagem frequentemente feita em casa, o que aumenta a responsabilidade do piloto e do dono da aeronave sobre as consequências do voo.

A Anac tem instruções para voos de aeronaves desse tipo, inclusive recomendando que sobrevoos em áreas densamente povoadas só sejam feitas quando as máquinas já passaram por um número mínimo de testes e estejam com a manutenção em dia. A agência também instrui os pilotos a estudar possíveis pontos seguros para pousos de emergência.

“É responsabilidade do piloto buscar se manter dentro do cone de segurança de alguma região que possa servir a um pouso de emergência em um voo planado, sem oferecer risco às pessoas e bens no solo”, diz trecho da Instrução Suplementar 91.319-001 da Anac, que trata de sobrevoo de área densamente povoada por aeronave experimental.

“O planejamento do voo deve contemplar ainda o estudo das alternativas possíveis ao longo da decolagem naquela localidade em caso de emergência, tais como pouso em frente, retorno ao aeródromo ou pouso forçado nas áreas disponíveis.”

Galeria Conheça alguns dos termos de atenção usados na aviação Códigos podem sinalizar emergência e até crime a bordo https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1788910087341997-conheca-alguns-termos-de-atencao-em-avioes *** A Força Aérea Brasileira informou que deu início a uma ação inicial de investigação do incidente com o ultraleve que pousou na BR-101 no município de Garuva. Investigadores do Seripa V (Quinto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) devem analisar as condições de voo, se a manutenção da aeronave estava em dia e o que provocou a pane.

“A conclusão dessa investigação ocorrerá no menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade da ocorrência e, ainda, da necessidade de descobrir os possíveis fatores contribuintes”, disse a Força Aérea, em nota. “Quando concluído, o Relatório Final será publicado no site do Cenipa [Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos], acessível a toda a sociedade.”