SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Lucas Pereira sonhava em ser jogador de futebol. Lateral-esquerdo e de cabelos compridos, não demorou a ganhar o apelido de “Sorín”, em referência ao argentino que marcou época no Brasil. Ainda na juventude, por conta de “amizades complicadas”, como conta nas palavras do pai, ele foi matriculado no kung fu para defesa pessoal. Depois, passou ao sanda -ou boxe chinês-, quando começou a competir.

As paixões do catarinense pela luta e pelo futebol -principalmente pelo Corinthians- encontraram interseção. Integrante de um torcida organizada ligada ao Alvinegro, Lucas participou de brigas com grupos de clubes rivais, algo que garante ter deixado no passado.

Na noite deste domingo (6), Sorín protagoniza a luta principal do Future MMA 14, em Balneário Camboriú, Santa Catarina, contra o uruguaio Agustin Paez. O torneio já revelou nomes como Renan Problema, campeão da temporada 2023 da PFL, e os atletas do UFC Caio Borralho e Jean Silva.

“Comecei a treinar em 2007, 2008, com uns 15, 16 anos, e já era envolvido com torcida organizada. Era um dos cabeças e fiquei um tempo nisso. Vivi muito essa fase, mas comecei a entender a filosofia e a ideologia das artes marciais, e isso me tirou. Entendi que passou a não fazer mais sentido para mim. Hoje, quero ser exemplo para a molecada daqui da região”, disse Lucas Pereira.

Lucas tem um projeto social em Vila Real, bairro em Balneário. “Abrange também crianças de Barranco e Jardim Iate Clube. A prefeitura já tinha as chamadas escolinhas comunitárias, mas não tinha o sandá. Consegui implantar e trazer uma molecada em situação mais vulnerável para dentro da arte marcial, ao mesmo tempo que começa a formar cidadãos. Quero ser exemplo para eles”.

“Eu queria devolver tudo que o esporte me deu e ajudar de alguma forma esses jovens. Tem um aluno meu, o Eric, que começou no projeto e hoje é atleta de seleção, além de me auxiliar nas aulas”, completou.

Sorin, atualmente, tem 100% da renda adquirida através da luta, seja com aulas ou em competições, mas, antes de alcançar esta realidade, teve outros empregos.

“Por bastante tempo eu fui conciliando. Trabalhei de ‘roadie’ de um grupo de pagode daqui da área, já fui entregador, trabalhei em recepção de hotel, fui porteiro, fiz bico de segurança… Acho que 90% dos atletas de MMA do Brasil já passaram por isso. Até três anos atrás, vez ou outra, quando dava uma falha na renda, fazia uns bicos, mas sempre conseguia me manter treinando e trabalhando para pagar as contas”, explicou o atleta.

Pai virou corintiano para ‘se proteger’ em briga

A paixão de Lucas pelo Corinthians veio pelo pai que, por ironia do destino, é de família palmeirense. O coração de Seu César bateu mais forte quando ele precisou pegar uma bandeira para se proteger de uma confusão.

“Meu pai é de São Paulo. Ele tem cinco irmãos, todos palmeirenses, assim como meu avô. Um dia, meu pai ainda garoto… Eles foram um Palmeiras x Corinthians e estava tendo uma briga na saída. Tinha uma bandeira do Corinthians caída no chão e meu avô falou para ele pegar e levar para eles não se meterem em confusão. Ele guardou aquela bandeira e passou a torcer pelo Corinthians (risos). Meu irmão mais velho é palmeirense porque meus tios conseguiram comprar ele com picolé e pirulito, mas eu sou corintiano”, comentou.

Adotou apelido

Lucas passou a usar ‘Sorín’ como sobrenome e se apresenta assim nas mais diversas competições. “Eu era lateral-esquerdo, tinha um cabelão comprido e a galera começou a me chamar de Sorín. Eu era meio raçudo também. Eu parei de jogar, cortei o cabelo, mas o apelido ficou, mas eu gosto e passei a usar”.

Expectativa para o Future MMA

Lucas não esconde a ansiedade para entrar no octógono nesta noite. “O Future é um evento que por muito tempo, foi considerado o maior de MMA no Brasil. Agora, está retomando. Sempre tive muita vontade [de participar], mas estava em outra fase da minha carreira estava começando no MMA profissional. Continuei minha caminhada, consegui lutar em alguns eventos internacionais, e, agora, o evento veio para a minha cidade. Estou muito animado e sei que a expo [local do evento] vai virar um caldeirão. Estar em uma luta principal de um evento que revelou diversos atletas para o cenário do MMA mundial é uma felicidade