BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do Paraguai, Santiago Peña, afirmou nesta sexta-feira (4) que a ação de espionagem realizada pela inteligência brasileira “abre velhas feridas” entre os dois países. A declaração foi dada em entrevista à argentina Rádio Mitre.

“O Paraguai tem uma história bastante dura na região, em um momento da nossa história tivemos que enfrentar uma guerra de extermínio como foi a Guerra da Tríplice Aliança […] o Brasil ficou em território paraguaio por quase uma década. Essas são feridas que estamos procurando curar, e este episódio infelizmente o que faz é abrir essas velhas feridas, quando o que queremos deixar para trás é essa história de ódio, de ressentimento, que vinha principalmente de fora para o Paraguai, infelizmente hoje percebemos que ainda há esse sentimento”, afirmou Peña.

A declaração é a primeira do presidente paraguaio sobre ação hacker da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) contra altas autoridades do país vizinho.

De acordo com o governo Lula (PT), a ação, revelada em reportagem do UOL a partir de depoimentos que foram dados à Polícia Federal, foi planejada pela gestão anterior de Jair Bolsonaro (PL). Tão logo soube da ação, a Abin sob Lula teria descontinuado a ação, ainda segundo o governo.

Peña reforçou fala que seu chanceler, Rubén Ramírez Lezcano, já havia feito durante a semana ao afirmar que o assunto é uma questão entre países, não entre governos.

“Nós claramente temos uma posição de país, e vemos isso com uma tremenda preocupação, porque não condiz com o tipo de relação que queremos propor. Queremos propor uma relação de amizade, de sócio, de amigos, que nos permita construir realmente um Mercosul mais forte”, disse o presidente paraguaio.

A ação de espionagem teria o ocorrido em momento de negociações sobre o tratado da usina de Itaipu e, após a revelação do caso, as discussões a respeito do Anexo C do tratado foram suspensas pelo lado Paraguaio.

“Primeiro saiu um comunicado jornalístico, no qual informavam que, entre março de 2022 e março de 2023 o Brasil e a agência de inteligência do Brasil, por ordem do governo, haviam aberto uma operação de espionagem contra o Paraguai com respeito às negociações do tratado de Itaipu —que efetivamente terminaram mal nesse período, o Paraguai cedeu à pressão do Brasil, que era para redução do preço da tarifa”, afirmou Peña.

Nota do governo Lula, no entanto, diz que a ação teria sido planejada, durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL) em junho de 2022.

A avaliação de integrantes do governo brasileiro que acompanham as conversas com o Paraguai é que esse movimento é um esforço do governo paraguaio para dar algumas respostas internas diante das revelações. Em alguma medida, o caso é visto como uma brecha para dar uma posição mais favorável ao Paraguai na negociação do tratado.