BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta terça-feira (1º) que o “dinamismo excepcional” da economia brasileira pode indicar a necessidade um ciclo mais pesado de aperto da política monetária.

“Talvez os canais de transmissão da política monetária não funcionem aqui no Brasil com a mesma fluidez que costuma funcionar em outros países, e que eventualmente você precise dar doses maiores de remédio para conseguir o mesmo efeito.”

Em breve discurso, o presidente da autoridade monetária citou a queda da taxa de desemprego e o crescimento do rendimento das famílias como exemplos do que chamou de dinamismo da economia.

Galípolo participou nesta manhã de uma sessão solene no plenário da Câmara dos Deputados em comemoração aos 60 anos da autoridade monetária. Deputados que discursaram durante a cerimônia se queixaram do atual patamar de juros –na mais recente reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, a Selic foi a 14,25% ao ano.

O presidente da autoridade monetária disse que são frequentes os questionamentos dos motivos pelos quais a taxa de juros restritiva não interrompe o crescimento e também a comparação com outros países. “Colocar a questão nesses termos”, afirmou, “me parece que ela não toca o problema de maneira adequada.”

Galípolo disse considerar importante a normalização da política monetária e a melhoria na comunicação das decisões da autoridade monetária. Fez também críticas ao que chamou de “uma série de subsídios cruzados, perversos e regressivos na sociedade brasileira”.

É necessário, segundo ele, superar o “equilíbrio, entre aspas” em que “alguns grupos conseguem exceções para pagar menos, enquanto uma grande maioria é obrigada pagar mais em compensação”.

“Talvez para nós, do Banco Central, esses trade-offs, como a gente costuma chamar, esses ônus e bônus, essas trocas, sejam muito mais evidentes. É natural, todo mundo gostaria de ter o melhor dos dois mundos, mas cabe a gente também, enquanto Banco Central, explicar, transparecer e discutir melhor essas questões com a sociedade.”

Gabriel Galípolo não falou com a imprensa antes ou depois da cerimônia. Sua segunda agenda prevista para esta terça é uma reunião com o CEO do bancos Master, Daniel Vorcaro, na sede do BC em Brasília.

O Banco Central tem até 360 dias para analisar a operação do BRB (Banco de Brasília) de aquisição do Master. A negociação foi tornada pública na última sexta-feira (28). Na segunda, Galípolo se reuniu com o presidente do BRB, Paulo Henrique Bezerra Costa, e com André Esteves, chairman e sócio sênior do Banco BTG Pactual.

Nesta terça na Câmara, Galípolo defendeu as autoridades monetárias dialoguem mais com o público para explicar política monetária, estabilidade e combater desinformação e fraudes. Quando criticado publicamente por suas decisões, disse Galípolo, cabe ao Banco Central explicar “o que faz e porquê faz”.