SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mercados começam a semana tensos com o que vem dos EUA, uma bomba-relógio chamada dívida americana e outros destaques do mercado nesta terça-feira (1º).

**BEM-VINDO À MUSKLÂNDIA**

Assim como palhaços assustam uns e divertem outros, a ideia de um parque de diversões povoado por ideias de Elon Musk podem atrair reações distintas.

O bilionário está colocando seu reino em pé em uma cidade a 50 quilômetros da capital do Texas, Austin. A Folha visitou o lugar e te conta o que há na Musklândia.

O sonho da casa própria se realizou em Bastrop –um condado de três cidades, uma homônima, Elgin e Smithville. Apesar de ser possível ver uma ou duas Cybertrucks nas ruas de lá, o conglomerado fica em uma propriedade rural.

As construções ocupam cerca de 65 mil metros quadrados. Nelas, são fabricadas as peças de foguetes da SpaceX e satélites da Starlink. A Boring Company (Empresa Chata, em tradução literal do inglês) fica em um galpão do outro lado da rua.

Pausa…para explicar o que faz cada companhia sob o comando do empresário.

– SpaceX é o braço de exploração espacial. Constrói foguetes e outras ferramentas para facilitar as missões. No final de 2024, valia cerca de US$ 350 bilhões (R$ 1,9 tri).

– A Starlink fornece internet e serviços de telefonia via satélite. É a principal fornecedora desse tipo de serviço em regiões afastadas do Brasil –atende cerca de 224 mil clientes, entre famílias e instituições.

– A Boring Company constrói túneis e outras soluções de infraestrutura. É a casa do projeto mirabolante “loop”, um transporte subterrâneo que ofereceria viagens de um ponto a outro usando SUVs da Tesla.

Retomando. Ainda, há o Hyperloop Plaza, uma espécie de centrinho comercial à là fanático por tecnologia. Lá dentro, um pequeno mercado chamado de Boring Bodega abriga um bar, um salão de beleza e área de jogos, bilhar e videogames.

O lugar é mais frequentado por funcionários das empresas muskianas, mas se você quiser dar uma voltinha por lá, pode.

A ideia do braço direito de Donald Trump é construir uma cidadezinha para que os funcionários de suas companhias morem.

E aí…para você, a ideia do seu inquilino ser também o prefeito da sua cidade, além de CEO da empresa que você trabalha e ministro do país em que você mora é mais assustadora ou intrigante?

**ROENDO AS UNHAS**

Chegou a semana em que mais tarifas de Donald Trump devem ser anunciadas, enquanto outras antigas entram em vigor.

Com isso, os mercados no mundo estão roendo as unhas, suando frio e com as pernas tremendo. Não que já não estivessem antes, mas a ansiedade piorou um pouco.

Guerra comercial foi a pauta das bolsas de valores ontem e deve continuar sendo nos próximos dias.

As ações europeias e asiáticas abriram o pregão desabando, intensificando um movimento de queda que começou na semana passada.

O índice pan-europeu Stoxx 600 caiu 1,4%, enquanto o FTSE 100, da Bolsa de Londres, perdeu 0,9%.

“Estamos vendo outra onda de vendas liderada pelos EUA”, disse Trevor Greetham, chefe de multiativos da Royal London Asset Management. “Não houve trégua por parte de Trump”.

TRADUZINDO

Com medo de as empresas em que investem serem atingidas em cheio pelas tarifas, investidores estão se desfazendo de papéis antes que percam valor.

PROBLEMAS EM CASA

A questão se estende para o cenário doméstico americano. Os índices dos EUA caminham para o pior trimestre desde 2022.

– O S&P 500 acumula queda de mais de 5% neste início de ano;

– O Nasdaq Composite, que abriga as maiores empresas de tecnologia, terminou a segunda em queda. Nvidia e Tesla sofreram perdas importantes no pregão, 1,6% e 2,3%, respectivamente.

E NÓS COM ISSO?

O Brasil pode estar na lista dos países que vão se dar mal com a estratégia econômica do republicano.

Um relatório do USTR (Escritório do Representante de Comércio dos EUA) divulgado ontem considerou que os exportadores americanos enfrentam incerteza no mercado brasileiro.

“A falta de previsibilidade sobre os níveis de tarifas torna difícil prever os custos de fazer negócios no Brasil”, escreve o órgão.

O documento pode servir como base para a decisão que Trump vai nos contar em 2 de abril. A notícia é aguardada com algum nervosismo pelo governo Lula.

“Qualquer retaliação ao Brasil vai soar injustificável à luz dos dados e à luz das décadas de parceria entre os dois países”, disse Fernando Haddad, ministro da Fazenda.

“Nós temos uma balança estável e equilibrada. Nós é que teríamos mais espaço para crescer no comércio com eles”, completou.

**UMA DÍVIDA DO TAMANHO DO MUNDO**

Não se sinta mal por estar endividado. Os Estados Unidos com certeza estão mais do que você: são US$ 36 trilhões (R$ 205 trilhões) a pagar.

BURACO NA CARTEIRA

Os EUA gastam muito. O país sustenta alguns programas de assistência social, além, claro, de gastos com infraestrutura, educação e muitas outras coisas.

Os americanos pagam muito pela defesa do país. As despesas militares bateram os US$ 2,46 trilhões (R$ 14 tri) no ano passado, segundo o Military Balance.

Eles também arrecadam bastante, mas não o suficiente para cobrir todos esses débitos. Por isso emitem títulos e mais títulos de dívida pública, reconhecidos por aí como “treasuries”, “bonds” e outros apelidos.

COMPRA QUEM QUER

Ativos do tesouro americano são considerados os mais seguros do mundo.

Se houvesse um calote, seria uma catástrofe financeira. Boa parte das maiores empresas, bancos, países e instituições têm investimentos no tesouro dos EUA e ficariam sem retorno para cobrir seus próprios buracos.

INDO PRO VINAGRE

O que fazer para pagar suas dívidas? Crie outras! É mais ou menos assim, que ano após ano os americanos cumprem suas obrigações com os credores.

Eles podem fazer isso: o dólar é a moeda que compõem as reservas mundiais. Sempre haverá interessados em sustentar a economia americana. Ou não…?

As tarifas de Trump podem afastar outras economias de negócios com os EUA e estas podem ser atraídas por acordos com outros países, em outras divisas. A competição com o yuan chinês é um exemplo.

É a opinião de Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de ativos do mundo. O assunto entrou voltou ao debate público ontem com a publicação da carta anual do investidor.

“Os EUA se beneficiaram da posição do dólar como moeda de reserva mundial por décadas. Mas não há garantia que isso dure para sempre”, escreveu.

“Se a América não controlar sua dívida, se os déficits continuarem aumentando, corre o risco de perder essa posição para ativos digitais como o Bitcoin.”

Para ele, a tokenização dos investimentos (que você pode entender aqui) pode passar uma sensação de segurança até maior que o dólar no futuro, fazendo com que a base do castelo de cartas caia. E aí, tremeu na base?

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Sem petróleo para você. Os EUA revogaram licenças que permitiam operações de empresas transnacionais de petróleo da Venezuela, pressionando ainda mais o regime de Nicolás Maduro no país sulamericano.

O gerente enlouqueceu. A Petrobras anunciou uma redução nos preços do diesel nas refinarias. A ideia é que o corte possa ajudar a segurar a inflação.

Poderia estar roubando, poderia estar matando…”poderia estar abrindo muitas lojas Atacadão, mas estou pagando juros”, disse o presidente do Carrefour em entrevista à Folha.

Sobe e desce. Depois de disparar no início do governo de Javier Milei, a pobreza na Argentina caiu de 41,7% para 38,1%.

Recebe dinheiro do INSS? Saiba como declarar corretamente seu Imposto de Renda, usando a declaração pré-preenchida ou não.