SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O acordo do BRB (Banco Regional de Brasília) para a compra de 58% do capital total do Banco Master, por cerca de R$ 2 bilhões, anunciado na sexta-feira (28), foi interpretado por parte de agentes do mercado financeiro como uma operação de resgate, mais política do que técnica ou empresarial -ainda que o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, tenha dado entrevista insistindo no contrário.
Entre profissionais do setor financeiro, causa estranhamento e preocupação que tenha sido um banco público, também de pequeno porte, a absorver a instituição privada com atuação considerada um tanto extravagante. Ao longo do final de semana, ganhou força a versão de que as negociações entre BRB e Master contaram com ajuda de políticos.
Daniel Vorcaro é próximo do ex-ministro Ciro Nogueira e do presidente do União Brasil, Antonio Rueda. Augusto Lima, o sócio baiano do Master, é casado com a ex-deputada e ex-ministra do governo Bolsonaro Flávia Peres (ex-Arruda), que ainda mantém certa proximidade de Ibaneis Rocha, o governador do DF, controlador do BRB.
Por meio de sua assessoria, Flávia informou que não se encontra com o governador desde a campanha de 2022 e não fez nenhum movimento em relação ao banco. Rueda respondeu, por WhatsApp, que tomou conhecimento do negócio pela imprensa e desconhece qualquer detalhe. Nogueira não se manifestou.
O banco já havia contratado o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega como consultor. Mantega conseguiu apresentar Vorcaro ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), informação publicada pela colunista Lauro Jardim, de O Globo, e confirmada pela Folha de S.Paulo. Procurado pela reportagem, o ex-ministro não comentou o assunto.
O desenho da operação, que também foi muito comentado, tanta criar uma blindagem institucional, o que reforçou a percepção de entendimento político entre agentes do mercado.
Ao comprar 49% das ações ordinárias (com direito a voto), 100% das ações preferenciais (sem direito a voto) e deixar Daniel Vorcaro como controlador, com 51% de participação, o BRB não precisa de aval legislativo distrital e reduz as chances de cobranças do Ministério Público e do Tribunal de Contas, que seriam mais facilmente acionados caso houvesse a aquisição do controle.
Segundo a reportagem apurou com pessoas que conhecem o banco por dentro, os indicadores financeiros sofriam pressão. O volume de recursos em CDBs (Certificados de Depósito Bancário) já ruma para R$ 60 bilhões, praticamente metade do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), hoje na casa de R$ 120 bilhões, que cobre eventuais perdas de investidores quando um banco enfrenta problemas.
O Master acelerou o crescimento nos últimos anos com uma estratégia considerada agressiva. Ofereceu CDBs a taxas que chegaram a 140% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), enquanto o mercado mal encosta em 100%. Na posição de banco de pequeno porte, colocava o produto no mercado por meio de outras instituições. Na outra ponta, fazia empréstimos e investimentos em empresas consideradas problemáticas.
Outras operações também chamaram a atenção. O banco elevou o apetite na aquisição de precatórios, título de dívida do governo. Passou a captar recursos em fundos de pensão de estados e municípios. Tentou fazer captações externas, mas não foi bem-sucedido.
Instalou-se a visão de que o banco tinha uma alavancagem em fontes financeiras de maior risco. No ano passado, várias instituições, temendo que algo desse errado, deixaram de operar com o Master.
A situação do Banco Central, que precisa autorizar a operação, é avaliada por executivos como nada confortável. O entendimento é que a instituição demorou para agir. Só no final do ano passado reforçou as exigências para o Master. Agora, a percepção é que a autoridade monetária tem um dilema sobre a mesa para resolver.
Se aprovar e quando aprovar o negócio, vai estar garantindo a sustentabilidade da operação, abonando todas as condições regulatórias e legais e atestando que tanto o BRB quanto o Master têm saúde financeira suficiente para manter a integração e não oferecem risco sistêmico.
Quanto mais rápido decidir, mais comprometido fica com esse posicionamento. Quanto mais demorar, mais tende a gerar incertezas. A avaliação é que o Banco Central tende a aprovar, mas com ressalvas e condições de garantias adicionais.
Banco Central, Banco Master e BRB não comentaram até a publicação desta reportagem.