BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) sinalizou a aliados que vai procurar dirigentes partidários e integrantes da cúpula do Congresso Nacional a partir desta semana para avançar com as negociações de uma reforma ministerial em seu governo.
Apesar de até mesmo auxiliares do petista não arriscarem precisar o alcance dessas trocas na Esplanada, há uma expectativa de que essa conversas possam destravar as negociações -que se arrastam há meses.
A ideia é que isso possa acontecer agora que Lula está de volta ao Brasil, depois de viagem internacional para o Japão e o Vietnã na última semana. Para a missão internacional, o presidente da República convidou os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), além de ministros e líderes de partidos como MDB, União Brasil e PP, na sinalização de uma busca por aproximação com o Congresso.
Também estiveram na comitiva o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) e o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Tanto Pacheco como Lira integravam a bolsa de apostas para assumir ministérios. No entanto, Pacheco se reuniu com Lula no último dia 15 e descartou sua ida para o governo.
Já Lira tem afirmado a interlocutores que não houve conversas concretas sobre o assunto e que ele pretende se dedicar à presidência da federação entre PP e União Brasil, caso essa aliança entre os dois partidos seja confirmada. Um aliado do deputado, no entanto, diz que não está descartada sua entrada no governo, caso haja o convite para uma pasta considerada estratégica.
Quatro parlamentares que integraram a comitiva disseram à reportagem que essa atuação de Lula para se aproximar dos deputados e senadores ajuda o governo. Eles reconhecem que a viagem tem um saldo positivo nesse sentido, diante do esforço do presidente.
Eles afirmaram que desde o começo do terceiro mandato do petista os congressistas cobram envolvimento direto do presidente na articulação política, assim como um maior diálogo.
Há uma avaliação entre os parlamentares de que o governo tem mostrado desde o começo do ano querer melhorar o ambiente com o Legislativo, após dois anos de relação marcada por tensão entre os dois Poderes.
Nesse sentido, dizem que Lula sinaliza para um novo modelo de relação com os parlamentares, com encontros mais frequentes e diálogo mais estreito. Apesar de essa promessa ter sido feita em outras ocasiões neste mandato, dois congressistas afirmam ter sentido uma mudança de postura do chefe do Executivo na viagem.
Segundo um líder, reduzir as tensões deve permitir que o presidente discuta, num segundo momento e em situação mais favorável, temas como trocas na Esplanada e pautas de interesse do Palácio do Planalto.
Outro congressista que esteve na comitiva afirma que esse movimento de Lula passa por uma aproximação do presidente com Alcolumbre e Motta. Desde a eleição da cúpula do Congresso, em fevereiro, o petista se reuniu por mais de uma vez com os dois parlamentares, além de convidá-los para cerimônias no Planalto e para viagens -algo que quer tornar mais frequente a partir de agora.
Em mais um gesto nesse sentido, Lula deverá procurar Motta e Alcolumbre, individualmente, para tratar das trocas ministeriais, segundo um aliado do presidente da Câmara. Há expectativas de aliados do petista de que essas conversas possam ter avançado durante a viagem, já que os três conversaram a sós em alguns momentos.
Apesar disso, dizem que as conversas mais aprofundadas acerca desse tema devem começar agora. O próprio presidente disse no Japão que “não seria louco” de discutir o assunto durante a viagem. “Trouxe eles e fiz questão que a gente não fizesse nenhuma discussão no avião que a gente poderia fazer em terra. Quando nós voltarmos ao Brasil, vamos discutir as coisas que temos que discutir”, disse.
De acordo com dois ministros, Lula também sinalizou a intenção de procurar os presidentes de partidos que têm representantes em seu governo para avançar com essas conversas. Segundo um desses auxiliares, ele citou os nomes dos presidentes do PSD, Gilberto Kassab, e do Republicanos, Marcos Pereira.
As discussões sobre a reforma da Esplanada ocorrem em um momento de baixa popularidade do governo. Hoje, integram a base aliada siglas que consideram lançar candidatura própria à Presidência, como União Brasil, PSD (cada um com três ministérios) e Republicanos (com uma pasta).
Há também descontentamento entre integrantes do PP, que tem André Fufuca à frente do Ministério do Esporte e uma ala que chegou a ameaçar com um desembarque do governo.
Apesar de algumas legendas se queixarem do espaço que têm hoje na Esplanada, há uma resistência de integrantes do centrão em aumentar sua participação no mandato petista num momento de queda de popularidade.
Além disso, eles dizem que haveria pouco tempo para permanecer à frente de um ministério -já que a legislação prevê que, para concorrer às eleições, um candidato precisa deixar o cargo até abril de 2026.
Presidentes de siglas de centro, na mira das próximas conversas de Lula, não dão garantia de apoio em 2026. Nos últimos meses, alguns deles fizeram críticas públicas à gestão petista. Em janeiro, Kassab chamou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de fraco e afirmou que o PT perderia a eleição se ela ocorresse naquele momento.
Em entrevista à Folha de S.Paulo em março, o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, disse que o petista vivia o pior momento de seu terceiro mandato e que ele precisava ouvir mais os partidos aliados.
Já Marcos Pereira, do Republicanos, partido do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, afirmou publicamente que a tendência é que o partido caminhe com uma candidatura de centro-direita na próxima eleição.
Neste ano, Lula oficializou a troca em três pastas: a chegada de Sidônio Palmeira na Secom (Secretaria de Comunicação Social), no lugar de Paulo Pimenta (PT); a de Gleisi Hoffmann (PT) na Secretaria de Relações Institucionais, no lugar de Alexandre Padilha (PT); e a ida de Padilha para a Saúde, no lugar de Nísia Trindade.
Aliados de Lula também não descartam mais trocas em pastas comandadas pelo PT. Eles citam a Secretaria-Geral da Presidência, chefiada por Márcio Macêdo, o Ministério das Mulheres, comandado por Cida Gonçalves, o Ministério de Desenvolvimento Agrário, que tem Paulo Teixeira à frente da pasta, e o Ministério de Desenvolvimento Social, chefiado por Wellington Dias.