WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, flerta com a hipótese de tentar um terceiro mandato à frente do país -algo proibido pela Constituição- desde que foi eleito, em novembro do ano passado. Republicanos, porém, não só evitaram respaldar esse projeto como o minimizaram, dizendo que o chefe do Executivo estaria adotando tom jocoso, numa estratégia diversionista.
Trump repetiu a ideia no domingo (30) e acrescentou, pela primeira vez, que não está brincando. Afirmou ainda que recebe apoio e que haveria métodos para driblar a lei, sem especificar quais são.
Nesta segunda (31), Trump foi questionado se esse projeto não abriria espaço para que Barack Obama também disputasse um terceiro mandato, como democratas aventaram nas redes sociais em tom de brincadeira. O republicano respondeu dizendo que amaria competir contra o ex-presidente pela Casa Branca.
“Eles dizem que tem uma forma de fazer isso [disputar o terceiro mandato], mas eu não olhei isso, eu não sei. Eu quero fazer um trabalho fantástico. Temos quatro anos”, afirmou Trump no Salão Oval da Casa Branca.
Diferentemente de outras bandeiras polêmicas, que costumam ser chanceladas por assessores, a hipótese de o atual presidente disputar mais uma vez a eleição não teve respaldo público, até esta segunda-feira (31), de seus aliados mais proeminentes.
O nome mais conhecido a falar sobre o tema foi Steve Bannon, ex-estrategista-chefe de Trump, que durante jantar com apoiadores perguntou se eles não gostariam de uma terceira gestão do republicano.
O bilionário Elon Musk, defensor ferrenho de Trump nas redes sociais, preferiu o silêncio. Já o diretor de comunicações da Casa Branca, Steven Cheung, minimizou a polêmica. Ao portal Axios, ele afirmou que o presidente acha que “ainda é muito cedo para pensar” em mais um mandato.
No Congresso, o presidente do Senado, o republicano John Thune, afirmou que Trump só poderia concorrer novamente caso os parlamentares decidissem mudar a Constituição. O senador foi além e disse acreditar que o presidente está só provocando a oposição, mesmo após ele dizer que não está brincando com o tema.
“Vocês continuam fazendo essa pergunta, e ele [Trump] provavelmente está se divertindo com isso e provocando vocês”, disse Thune, nesta segunda, a jornalistas no Capitólio.
Em janeiro, a secretária do Departamento de Justiça, Pam Bondi, foi questionada sobre o assunto durante sua sabatina e também disse que a única forma de o presidente continuar no poder em um terceiro mandato seria com mudanças na Constituição.
Em fevereiro, aliados de Trump disseram ao jornal The New York Times que, em conversas particulares, o presidente dizia que estava adotando uma estratégia de diversionismo para chamar a atenção dos republicanos. O presidente teria 82 anos em 2028 e seria mais velho do que Joe Biden quando o democrata fez campanha para se reeleger.
O novo comentário sobre o terceiro mandato, feito no domingo ao canal NBC News, ocorreu após o governo receber uma enxurrada de críticas devido ao vazamento de informações sigilosas sobre ataques das forças americanas no Iêmen.
Foi a quarta vez que o republicano flertou com o terceiro mandato de forma pública desde que ele foi declarado vencedor do pleito presidencial, em 6 de novembro. Pela primeira vez, ele disse estar falando sobre o assunto de forma séria, mesmo que seus aliados duvidem.
O primeiro comentário de Trump sobre o tema ocorreu uma semana após ser eleito. “Suspeito que não vou concorrer novamente a menos que vocês digam: ‘Ele é tão bom que precisamos descobrir outra solução'”, disse o republicano em 13 de novembro a correligionários no Congresso, onde foi aplaudido por apoiadores.
Em 6 de fevereiro, em um café da manhã em um hotel em Washington, Trump voltou a insinuar a hipótese. No final de fevereiro, ele perguntou a uma plateia num evento na Casa Branca se deveria se candidatar mais uma vez.
Pouco depois da posse de Trump, o deputado Andy Ogles, do Tennessee, propôs uma emenda à Constituição para permitir que o atual presidente disputasse de novo. Para isso, o texto precisaria da aprovação de dois terços do Congresso, maioria que o governo não tem. Por isso, dificilmente o projeto seria aprovado. De 1956 a 2019, foram 46 tentativas de mudar esse trecho da Constituição.
Agora, Trump fala que haveria outros métodos, embora especialistas de direito constitucional rejeitem essa hipótese. O professor David Super, da Universidade GeorgeTown, diz que a única forma de ele concorrer sem ferir a lei é mudando a Constituição.
Durante a entrevista no domingo, Trump não descartou a possibilidade de que uma pessoa de confiança, como o vice-presidente J.D. Vance, concorra e depois dê lugar a ele.
David explica que essa chance é vedada porque Trump não poderia concorrer a vice-presidente. Outra hipótese poderia ser via Judiciário, se o Supremo se recusasse a determinar que estados o deixassem de fora das cédulas em 2028. Ainda assim, seria muito difícil.
“O limite de dois mandatos tem sido uma norma sólida neste país desde o nosso primeiro presidente, George Washington”, diz o professor. “Quando um presidente extremamente popular, Franklin D. Roosevelt, ignorou essa norma, ambos os partidos políticos rapidamente concordaram com a Vigésima Segunda Emenda para impedir que futuros presidentes concorressem a um terceiro mandato”, afirma David.