RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Alexandre Nero tinha 18 anos quando “Vale Tudo” foi ao ar em 1988. Ele lembra de algumas cenas, mas decidiu rever a novela quando acertou sua participação no remake de Manuela Dias, no final do ano passado. Sentiu que seria importante reviver na memória a trama que parou o país em 1988 e na qual viverá um de seus mais importantes personagens.

Nero será Marco Aurélio, ex-marido de Heleninha Roitman (Paolla Oliveira) e pai de Tiago (Pedro Waddington). Vivido por Reginaldo Faria na versão original, é diretor da TCA, empresa de aviação do Grupo Almeida Roitman, e está longe de ser uma pessoa com princípios. “Ambicioso, autoritário, cafajeste, sem filtro, sem noção, machista e grosseiro”, enumera, ao definir, sem rodeios, traços de seu personagem.

Marco Aurélio enfrenta questões familiares. Uma delas é a falta de aproximação com o filho, Tiago, interpretado por Pedro Waddington. “Ele quer ser um bom pai, mas não consegue. O Tiago é a única coisa que humaniza esse homem”, diz.

Sensível, o rapaz não se identifica com os valores e hábitos do pai, mas tem uma grande afinidade com a mãe. Com ela compartilha o gosto por óperas, concertos e balés. Calouro na faculdade de música, Tiago sonha em ser maestro. Na versão de 1988, ele se dedicava também à natação; agora seu esporte será o hipismo.

Preconceituoso, o personagem de Nero não aceita a relação da irmã Cecília (Maeve Jinkings) com outra mulher (Laís, interpretada por Lorena Lima). “Marco Aurélio é um cara de outra época e, para nós, é uma novidade. Muitos brasileiros ainda têm essa forma de pensar sobre as relações homoafetivas. Não é tão distante do nosso universo”, observa

Nero conta que pediu a bênção a Reginaldo Faria. “Conversamos, e eu perguntei quais foram os caminhos, em quem ele tinha se inspirado. Ele foi muito generoso… Mas o meu olhar sobre Marco Aurélio vai ser certamente diferente do dele”, avisa.

Mesmo sendo um Marco Aurélio diferente, há um ponto em comum que o ator gostaria de manter. Ele sonha em dar uma “banana”, fugindo do Brasil para se safar de um golpe financeiro, no último capítulo da novela, como na versão original. “Quero muito e acredito que Manuela Dias vai manter essa cena”.

Questionado se já conheceu alguém parecido com Marco Aurélio –um homem arrogante, que destrata funcionários e quem quer que o incomode–, ele diz que sim. “Mas nunca trabalhei com uma pessoa daquela magnitude”.

Toparia? “Não tenho ideia. Só estando na pele. Depende do quanto a gente está ganhando (risos). Estou falando isso porque tem uma cena da Karine Teles recém-gravada que retrata exatamente isso. Alguém fala para a Aldeíde que prefere ser demitido a sofrer humilhação, e ela responde: ‘Prefiro ganhar o salário e sofrer a humilhação’. O texto é ímpar. Tem essas sutilezas, essas verdades doloridas. É muito engraçado”. A versão de 1988 de “Vale Tudo” é assinada por Aguinaldo Silva, Leonor Bassères e Gilberto Braga.