SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Henrique Louzada vive em Amsterdã, Victor Toyofuku em Nova York, Yohanna Yeshua em São Paulo, e Pepkrakte, conhecido como Zeca Gavião, em Bom Jesus de Tocantins, a 130 quilômetros de Marabá, no sul do Pará. O que os une é uma daquelas histórias que justificam o clichê “é muito mais que futebol”.
A meta é conseguir patrocínio para o Gavião Kyikatêjê F.C, time formado majoritariamente por indígenas e que está na segunda divisão do Pará. Mas a história começou de forma diferente.
Victor, fanático por futebol, ouviu uma entrevista de Abel Ferreira, técnico do Palmeiras. Ele disse que seu time não iria atacar o adversário desde o primeiro minuto, sem organização. “Não somos time de índios”.
A frase soou mal para Victor. Ele passou a pesquisar sobre times indígenas – e não de índios – e descobriu o Gavião, fundado em 2009, por Zeca.
Ele falou com Henrique e Yohanna, seus amigos de um coletivo criativo. Já haviam feito a campanha “Toca na 24”, quando Duílio Monteiro Alves, então presidente do Corinthians, disse que ninguém do clube usaria a 24. Homofobia.
“Nossa primeira ideia era pagar uma passagem para Abel Ferreira ir até o Pará dar uma palestra para o pessoal do Gavião. Ensinar um pouco”, diz Henrique Louzada.
Quando entraram em contato com Zeca Gavião, tiveram uma surpresa. “Vimos que ele é muito bem preparado e que faz um trabalho sério. Precisava mais de apoio do que de ensinamentos”, diz Victor.
Zeca é o cacique da etnia Gavião, que reúne 370 pessoas distribuídas em duas aldeias a 30 e 40 quilômetros de Bom Jesus de Tocantins.
Sempre gostou de futebol. “Eu era Flamengo, mas comecei a namorar a Confita e ela me fez virar vascaíno”. O casamento, que acabou, resultou em nove filhos.
A flexibilidade em mudar de time por causa de um amor não se repete em outras questões futebolisticas.
Zeca é muito firme quando se fala do Gavião. “Sou o presidente e o técnico. Fiz curso de treinador na Universidade de Joinville e agora vou fazer os cursos da CBF”.
Ele é olheiro também. Percorre outras aldeias para observar campeonatos internos e buscar novos jogadores. Mas falta muito. “Quero um alojamento, um campo menor para treinamentos, academia, alimentação para jogadores”.
Foi aí que o coletivo de Victor, Henrique e Yohanna entrou em campo. “Procuramos pessoas da área de publicidade para ajudar e montamos um time de alta categoria. Fizemos um filme que é um mini documentário: mostra a torcida, a camisa que remete à pintura corporal, a organização deles e estamos ajudando na busca de patrocínios”, conta Henrique.
“O BanPará foi o primeiro a patrocinar, mas falta mais. Um fornecedor de camisas, dinheiro para consertar o ônibus, enfim, ter uma fluxo mais constante de patrocínios e não apenas coisas pontuais”, completa Henrique.
E se nada ou pouco for conseguido, Zeca? “A luta continua”. Ou “kuka kormã mumape tawyry tomõ”, na língua gavião.