SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Neste Lollapalooza, Alanis Morissette precisa de introdução. Seu show na noite deste sábado (29), segundo dia do festival em São Paulo, começou com um clipe exibindo nos telões imagens antigas e novas dela no palco, em casa e dando entrevistas.
Com uma pegada cafona de TV aberta dos anos 1990, o vídeo apresentou o universo de onde vinha a cantora. Ícone do pop rock daquela década, Alanis foi escalada num dia permeado por atrações pop jovens, como o headliner Shawn Mendes, muitas delas que explodiram no TikTok recentemente, casos de Benson Boone e Tate McRae nos palco principais.
A diferença esta menos na faixa etária do que na estética e na postura. Boone emendou acrobacias vocais e físicas num pop rock épico que mira Freddie Mercury enquanto McRae embalou com danças intensas seu pop no estilo Britney Spears.
Fosse na sexta (28), Alanis estaria melhor encaixada. Artistas como Girl in Red e, em especial, a atração principal, Olivia Rodrigo, são descendentes no sentimento e na sonoridade do pop-rock pós-grunge de Alanis.
O show de Rodrigo, aliás, dialogou diretamente com a grande obra de Alanis o disco “Jagged Little Pill”, lançado em 1995. Hoje com 50 anos, a canadense tinha quase a mesma idade (21) que agora tem a americana (22) quando gravou suas principais músicas.
Mesmo madura, em outra fase da vida, aquelas músicas ainda fazem sentido em sua voz e, de certa forma, também na postura de Alanis. Não se trata da mesma jovem arredia de 30 anos atrás, mas é possível reconhecer a persona de “Jagged Little Pill” disco que teve as músicas mais tocadas por ela no Lollapalooza na espontaneidade da cantora no palco.
Acompanhada por duas guitarras, baixo, bateria e teclado, ela não teve telões e sua cenografia era resumida à imagem de uma lua na parte de trás do palco. O show foi puxado pela energia das canções e suas performances orgânicas, como se estivessem sendo tocadas por amigos numa garagem.
Esse sentimento, aliás, é um dos combustíveis por trás do clássico álbum que até hoje ressoa relevante. No começo dos anos 1990, Alanis se mudou de seu Canadá natal para Los Angeles e passou a compor como se escrevesse um diário, cuspindo tudo aquilo que lhe afligia sem muito rodeio.
Ela gravou quase tudo daquele disco nos primeiros takes, sem muito retoque. “Hand in My Pocket”, a música que abriu a apresentação no Autódromo de Interlagos, foi escrita em poucas horas, prática que a compositora repetiu em outras faixas de “Jagged Little Pill” e que denuncia a urgência de sua arte naquele momento.
Se hoje Alanis não soa urgente, pelo menos a crueza se mantém intacta na estética e na performance. Casual com uma blusa colorida simples e uma calça preta, ela mal conversou com a plateia e cantou tudo sem muita cerimônia ou esforço para agradar.
Isso não significa que seu show tenha sido burocrático Alanis se esforçou para conseguir cantar todas as notas de suas músicas. A serenidade também é a cara da canadense, uma estrela pop única que alcançou seu maior sucesso exatamente quando foi mais intimamente ela mesma.
Ainda assim, antes de uma performance acústica de “Perfect”, ela se derreteu pela plateia, dizendo que a amava. Também distribuiu sorrisos, reverenciou o público e deu a impressão de estar aproveitando a multidão no Brasil ela não lotava estádios aqui até 2023, quando cantou no Allianz Parque, em São Paulo.
É bem verdade que, no Lollapalooza, Alanis não empolgou o tempo todo. Em 1h30 no palco, ela passeou por mais de 20 músicas, encurtando algumas, de todas as fases de sua carreira. Foi nítido o desinteresse da plateia quando ela cantou seu repertório mais recente, como “Lens”, de 2014, e “Reasons I Drink”, “Smiling” e “Rest”, todas essas lançadas de 2020 para cá, entre outras mais antigas.
Na mesma medida, as dezenas de milhares de pessoas espalhadas nos morrinhos do palco Galaxy pularam e gritaram em hits como “Ironic” e “You Oughta Know”. Esta última, cantada já na reta final, foi um dos mais intensos momentos do Lollapalooza deste ano até agora algo que não deve mudar até o último acorde tocado no domingo (30), quando o festival chega ao fim.