RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Em um movimento esperado, a taxa de desemprego subiu a 6,8% no Brasil no trimestre até fevereiro, apontam dados divulgados nesta sexta (28) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O indicador estava em 6,1% no intervalo até novembro, que serve de base de comparação. Esse foi o menor patamar de toda a série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012.
Considerando somente o trimestre até fevereiro, a taxa de 6,8% repete a mínima da pesquisa. O mesmo número havia sido registrado no início de 2014.
O novo resultado veio em linha com a mediana das projeções do mercado financeiro, que também era de 6,8%, segundo a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 6,6% a 7%.
O desemprego costuma subir no começo de ano com a busca por recolocação após o fechamento de vagas de trabalho, incluindo postos temporários.
“É um movimento de certa forma esperado nesse período de transição do encerramento de um ano para os primeiros meses do ano seguinte. Há movimento de queda da ocupação”, afirma Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE.
Em entrevista a jornalistas, a pesquisadora também disse que ainda é cedo para identificar eventuais impactos da alta dos juros sobre o emprego nas diferentes atividades econômicas.
BRASIL TEM 7,5 MILHÕES DE DESEMPREGADOS
A Pnad examina as condições do mercado de trabalho formal e informal. Para ser considerada desempregada na pesquisa, que segue parâmetros internacionais, uma pessoa de 14 anos ou mais não pode estar trabalhando e precisa estar à procura de oportunidades.
Conforme o IBGE, a população desocupada foi estimada em 7,5 milhões até fevereiro.
Isso representa um crescimento de 10,4% (mais 701 mil pessoas) frente ao trimestre encerrado em novembro. Na comparação com igual período de um ano antes, houve recuo de 12,5% (menos 1,1 milhão).
EMPREGO COM CARTEIRA BATE NOVO RECORDE
Já a população ocupada com algum tipo de trabalho foi de 102,7 milhões até fevereiro. O número caiu 1,2% (menos 1,2 milhão) ante novembro e cresceu 2,4% (mais 2,4 milhões) em um ano.
Um dos pontos destacados pelo IBGE é o novo recorde do contingente de trabalhadores com carteira assinada: 39,6 milhões. A máxima anterior havia sido registrada no trimestre até janeiro (39,3 milhões).
Com mais trabalhadores formais, a taxa de informalidade recuou a 38,1% no intervalo encerrado em fevereiro, após marcar 38,7% até novembro. Esse indicador mede a proporção de informais em relação à população ocupada.
Taxas de informalidade menores do que a mais recente (38,1%) só foram verificadas durante a pandemia, que expulsou brasileiros sem carteira ou CNPJ do mercado em um primeiro momento.
O novo resultado, segundo o IBGE, pode mostrar que mais profissionais têm buscado postos com algum tipo de registro. “Esse retrospecto é bem consistente, um indicativo de um processo maior de formalização”, disse Adriana Beringuy.
RENDA RENOVA MÁXIMA COM SAÍDA DE INFORMAIS
Outro destaque da Pnad é o novo recorde da renda do trabalho de quem seguiu ocupado. O rendimento médio foi estimado em R$ 3.378.
O indicador subiu nas duas comparações: 1,3% no trimestre e 3,6% no ano. A máxima anterior havia sido verificada até janeiro de 2025 (R$ 3.365).
Segundo Adriana, a saída de informais do mercado levou a renda para cima na média. Tradicionalmente, esses profissionais ganham menos.
Fatores como o aumento do salário mínimo também podem ter contribuído, apontou a técnica.
“Apesar de os dados indicarem uma estabilização do nível de ocupação, o quadro ainda é de um mercado de trabalho bastante aquecido”, disse a economista Claudia Moreno, do C6 Bank. “A renda do trabalhador brasileiro se manteve forte”, acrescentou.
De acordo com o economista Igor Cadilhac, do PicPay, os dados da Pnad sugerem que o mercado continua “robusto”, embora “sinais de deterioração” comecem a surgir.
“Para os próximos meses, esperamos uma desaceleração gradual, especialmente a partir do segundo trimestre. Ainda assim, o mercado de trabalho deve permanecer aquecido e pressionando a inflação por um período prolongado”, disse.
Em 2024, a desocupação mostrou sucessivas quedas no Brasil. A redução ocorreu em meio a um desempenho acima do esperado para a atividade econômica.
Analistas dizem que o PIB (Produto Interno Bruto) respondeu a medidas de estímulo do governo federal, o que teria gerado uma demanda maior por trabalhadores.
Em 2025, o mercado financeiro e o governo preveem um cenário de desaceleração do PIB em meio ao ciclo de alta dos juros, que encarece o consumo e os investimentos produtivos. Apesar disso, as projeções não indicam até o momento grande elevação no desemprego.
A taxa de desocupação já havia alcançado 6,5% no trimestre até janeiro. O IBGE, contudo, evita a comparação direta entre intervalos com meses repetidos, como é o caso dos períodos encerrados em janeiro e fevereiro.