SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os ferroviários de São Paulo aprovaram em assembleia realizada na noite desta terça-feira (25) a suspensão da greve das linhas 11-coral, 12-safira e 13-jade da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
A paralisação estava prevista para começar a partir da 0h desta quarta (26) e tinha como alvo a proposta da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) de privatizar o serviço. O governo de São Paulo leiloa na sexta (28) as três linhas de trens, cujos investimentos previstos serão de R$ 14,3 bilhões em 25 anos de concessão.
Na assembleia, foram 23 votos contra a paralisação e 20 a favor, com 4 abstenções. A categoria aceitou ainda que os funcionários usem preto como protesto contra a privatização e a formação de uma comissão para debater o tema.
Segundo Fernando Ricardo da Costa diretor de conselho fiscal do sindicato, será dado um prazo até sexta-feira para o governo dar um posicionamento sobre garantia de 2.300 empregos nas duas linhas.
“Se isso não acontecer, não sei o que vai ser, isso aqui pode ficar lotado de gente”, afirmou. Como a categoria está em estado de greve, uma assembleia pode ser chamada rapidamente, explicou ele.
A votação ocorreu com mais de uma hora de atraso, em meio a protestos de outros sindicatos, partidos e movimentos de esquerda, que foram até a sede do sindicato no Brás, região central de São Paulo, apoiar a greve.
A categoria aprovou ainda a realização de um protesto no mesmo dia em frente a sede da Bolsa de Valores (B3) no centro de São Paulo, contra a privatização. O leilão vai acontecer no local.
O resultado da assembleia deverá ser apresentado em audiência presencial prevista para ocorrer na Justiça do Trabalho por volta das 23h.
Na apresentação das propostas, a diretoria chegou a afirmar que o sindicato iria à audiência no TRT ciente de que não conseguiria reverter a privatização das linhas, pois era um projeto político do governo Tarcísio.
Do lado de fora, ocorreram uma sequência de discursos contra a decisão e a privatização.
Houve gritos de guerra contra o governador Tarcísio e de greve já.
Com um sistema de som do lado de fora, na calçadas, sindicalistas e representantes de outros movimentos chamavam os diretores do sindicato de pelegos e diziam que iriam passar um abaixo assinando nas estações para convocar uma nova assembleia para greve nesta quinta-feira (27).
Para a oposição do sindicato, a categoria perdeu uma oportunidade de pressionar o governo, ao não parar quando há grandes eventos na capital, a final do Campeonato Paulista de futebol, nesta quinta, entre Corinthians e Palmeiras, em Itaquera, zona leste, e o festival Lollapalooza, também a partir desta quinta no autódromo de Interlagos, na zona sul.
“Não vamos estar desmobilizados, vamos manter o estado de greve e o ato do dia 28 na B3”, afirmou Costa, pouco antes da votação.
A proposta de suspender a greve foi levantada durante audiência no TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da 2ª Região na tarde desta terça. O desembargador Francisco Ferreira Jorge Neto propôs uma cláusula chamada de paz temporária para adiamento da paralisação, inicialmente marcada para começar a partir da 0h desta quarta-feira.
Foi essa a proposta levada para os ferroviários na noite desta terça -a assembleia já estava marcada para ratificar a greve. Ela tinha sido aprovada inicialmente na semana passada.
De acordo com a proposta do desembargador, a paralisação seria suspensa até sexta.
Enquanto isso, segundo o tribunal, os empregados estariam autorizados a fazer assembleias nas estações para conscientizar a população sobre as ameaças aos postos de trabalho que entendem haver com a concessão das linhas.
Costa, do sindicato, disse que a Justiça abriu a possibilidade de os ferroviários protestarem dentro das estações. “Isso não era possível.”
Uma greve pode atingir cerca de 550 mil passageiros que usam as linhas 11-coral, 12-safira e 13-jade.
A CPTM afirmou que em caso de greve iria pedir que a Justiça determinasse a manutenção de 100% do efetivo dos ferroviários no horário de pico e 80% nos demais horários
O número representa, aproximadamente, a média diária dos quase 17 milhões embarques nas três linhas em todo o mês de janeiro, dado mais recente disponível nas estatísticas da companhia.
Na manhã desta terça-feira, representantes da categoria fizeram um protesto na frente da B3, no centro de São Paulo. Ao mesmo tempo, os grupos CCR e Comporte, os únicos concorrentes do leilão pelo lote Alto Tietê, um conjunto de linhas da CPTM que serão concedidas pelo governo de São Paulo na sexta, entregaram envelopes com suas propostas.
Questionada sobre como vai tentar amenizar os efeitos da greve junto aos passageiros, caso ela ocorra, a CPTM não respondeu.