SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A Rússia iniciou ontem exercícios planejados envolvendo mísseis balísticos intercontinentais Yars, informou o Ministério de Defesa à agência de notícias estatal RIA.

Regimentos responsáveis pela arma foram “enviados para posições de campo” nas regiões de Sverdlovsk e Altai, ambas próximas ao Cazaquistão, embora esta última também faça fronteira com Mongólia e China.

QUE MÍSSIL É ESTE?

Tem capacidade termonuclear e pode ser transportado em caminhões ou estacionado em silos. Ele é uma arma de segunda geração que funciona por fusão, como a bomba de hidrogênio. Essa maior sofisticação significa um poder destrutivo muito maior do que as bombas atômicas da primeira geração em uma unidade mais compacta.

O Yars tem um alcance de até 12 mil km, podendo cruzar continentes a uma velocidade máxima de 30.600 km/h. Ele tem grande precisão nos seus alvos, de cerca de 100 m, mesmo altamente protegidos. Toda a sua estrutura tem 22,5 m de comprimento, 2 m de diâmetro e chega a 49.600 kg.

O projeto foi desenvolvido em segredo pelos russos. Os primeiros testes em 2007 foram divulgados como uma resposta ao escudo de mísseis que os EUA planejavam instalar na Europa, reportou à época o jornal britânico The Guardian.

Este míssil com capacidade para até dez ogivas, também conhecido como RS-24, passou a ser utilizado em operações em 2010. Em junho de 2017, ele já acumulava mais de 50 lançamentos operacionais, segundo dados do Nasic (Centro de Inteligência Nacional Aeroespacial), dos EUA.

A arma é uma espécie de pomo da discórdia entre americanos e russos. De acordo com documentos do Nasic, os EUA acreditavam desde o governo Bush que o desenvolvimento do Yars era uma violação do tratado Start, um acordo entre os dois países assinado em 1991 que limitava a criação e emprego de armas ofensivas estratégicas de ambas as partes.

Na época em que foi testado pela primeira vez, acreditava-se que o Yars era capaz de penetrar quaisquer escudos antimísseis existentes. Putin afirmou que o projeto não era agressivo, não deveria ser temido, mas justificou a empreitada acusando os EUA de deixar o tratado de mísseis antibalísticos antes da Rússia. “Nós os avisamos que criaríamos uma resposta para manter o equilíbrio estratégico do mundo”, afirmou em coletiva reportada à época pela BBC.

POR QUE A RÚSSIA ESTÁ MOVENDO O YARS AGORA?

As unidades de segurança e suporte que operam o Yars próximo ao Cazaquistão fazem tarefas de suporte de engenharia, explicou o Ministério da Defesa. Atividades de proteção radiológica, química e biológica estão inclusas nos exercícios militares do regimento de mísseis.

Militares ainda realizaram um treinamento em turnos para missões de combate. Equipes de mísseis devem estudar “o funcionamento de treinamento das unidades subordinadas”, preparando-se para uma possível operação mais complexa, que não foi detalhada.

Os exercícios acontecem em meio a negociações para um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia. Representantes americanos e russos voltaram a se reunir ontem na Arábia Saudita para discutir um acordo.

Os Yars já haviam participado de testes com mais de 1.000 militares e cem veículos em 2022, quatro meses após a invasão inicial da Ucrânia. A prioridade do exercício, à época, era “trabalhar uma ampla gama de questões sobre a busca e destruição de sabotagem condicional e formações de reconhecimento durante o dia e à noite”, segundo o Ministério da Defesa russo.

O então presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que o uso de armas nucleares na Ucrânia seria completamente inaceitável e teria resultados “inimagináveis”. Um mês antes, o vice-primeiro-ministro da Rússia, Yuri Borisov, havia prometido que Moscou não seria o primeiro a realizar um ataque nuclear, apenas em caso de retaliação.

Os Yars foram novamente posicionados em 2024, o que foi considerado como um alerta nuclear ao Ocidente diante das crescentes tensões entre a Federação Russa e a Otan. Em fevereiro de 2025, a Rússia também fez exercícios militares com o míssil na fronteira com o Cazaquistão, mas em área mais próxima à Ucrânia.