SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta forte queda nesta terça-feira (25), com investidores analisando a ata da última reunião do BC (Banco Central) e notícias sobre tarifas dos Estados Unidos.

Às 11h30, a moeda norte-americana caía 0,91%, cotada a R$ 5,697. Já a Bolsa disparava 1,31%, aos 133.041 pontos.

O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC fez um alerta na ata do encontro da última semana, quando optou por aumentar a taxa básica de juros do país, a Selic, em 1 ponto percentual, a 14,25% ao ano.

Segundo o colegiado, a piora nas expectativas para prazos mais longos dificulta a convergência da inflação à meta e exige juros mais altos por mais tempo. A próxima reunião, marcada para maio, deve trazer um novo aperto monetário, mas em menor magnitude.

Para depois de maio, porém, as decisões foram deixadas em aberto, devido à incerteza elevada no cenário econômico.

Na análise de economistas do Itaú, os dirigentes adotaram um “tom mais duro”, especialmente quando se referem à inflação “e seu cenário prospectivo indubitavelmente desafiador”, embora ponderem que há sinais incipientes de desaceleração econômica.

“Mas o fato é que as autoridades se referirem ao fim do processo de ajuste pode ser visto como um sinal de que essa discussão está viva dentro do comitê. No geral, consideramos que o texto é consistente com nosso cenário de duas altas adicionais, encerrando o ciclo com a taxa Selic em 15,25% ao ano.”

A postura mais conservadora do comitê tem sido interpretada pelo mercado como indício de que a taxa Selic poderá atingir um patamar ainda mais alto. “É um sinal que estimula a queda do dólar, porque indica que o diferencial de juros do Brasil vai ser ampliado, atraindo investidores externos”, diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX, o comunicado.

Quanto maior a diferença entre os juros daqui e os dos Estados Unidos, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de “carry trade” —quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.

Os mercados também repercutem os novos detalhes do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Na segunda, o republicano afirmou que poderá conceder a “muitos países” descontos em tarifas que pretende anunciar em 2 de abril, o apelidado “dia da libertação”, quando impostos recíprocos sobre outros países também entrarão em vigor.

A afirmação segue a esteira de reportagens do Wall Street Journal e da Bloomberg, que, também na véspera, informaram que algumas tarifas sobre setores específicos podem ser descartadas ou adiadas.

A reciprocidade tarifária dos Estados Unidos mira espelhar as taxas praticadas pelos parceiros comerciais sobre produtos norte-americanos. Japão, Índia e União são os maiores alvos das novas medidas, segundo disse um funcionário do alto escalão do governo em fevereiro, enquanto o documento informativo da Casa Branca acrescentou o Brasil à lista.

Trump, por outro lado, também afirmou que os EUA irão impor tarifas de 25% sobre todas as importações de qualquer país que comprar petróleo da Venezuela —medida que pode abalar os mercados de petróleo bruto e aumentar drasticamente os impostos sobre produtos da China e da Índia.

Em uma publicação no Truth Social, Trump disse que estava impondo a tarifa por “várias razões”, alegando que “a Venezuela enviou proposital e enganosamente aos Estados Unidos, disfarçados, dezenas de milhares de criminosos de alto escalão e outros, muitos dos quais são assassinos e pessoas de natureza muito violenta”.

Ele se referiu à medida como uma “tarifa secundária” e disse que ela entrará em vigor também em 2 de abril.

A promessa de tarifas recíprocas tem inspirado cautela nos mercados globais, e uma eventual retaliação dos países afetados não é carta fora do baralho. A maior preocupação é que a guerra comercial escale e distorça cadeias de suprimentos globais, o que pode encarecer diversas categorias de produtos. No caso específico dos Estados Unidos e de outras potências econômicas, como a Alemanha, há ainda temores de que o tarifaço provoque uma recessão.

Se o tarifaço aumentar o custo de vida dos norte-americanos, é possível que a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) contra a inflação sofra um revés e force a manutenção da taxa de juros em patamares elevados. Quanto maiores os juros por lá, mais atrativos ficam os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, os chamados treasuries, o que fortalece o dólar globalmente.

O próprio presidente do Fed, Jerome Powell, endereçou esses temores em entrevista coletiva na semana passada, após a autoridade monetária decidir manter os juros na faixa de 4,25% e 4,50% pela segunda vez consecutiva. Ele disse que é “muito cedo para ver efeitos significativos das tarifas”, mas que “o progresso na inflação pode ser adiado por causa delas” e que “boa parte das projeções de alta deriva da política tarifária”.

O cenário desenhado por especialistas é de uma “estagflação”, isto é, quando a inflação está elevada e a economia não cresce.