BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A piora nas expectativas para prazos mais longos dificulta a convergência da inflação à meta e exige juros mais altos por mais tempo, alertou o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central em ata divulgada nesta terça-feira (25).

O colegiado do BC ressaltou que as projeções subiram novamente, tornando o cenário de inflação “mais adverso”. De acordo com o comitê, esse é um fator de desconforto comum a todos os membros e deve ser combatido.

“O cenário de convergência da inflação à meta torna-se mais desafiador com expectativas desancoradas [distantes do alvo] para prazos mais longos e exige uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado”, disse.

Segundo o último boletim Focus, os agentes econômicos esperam que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) termine 2026 encostado no teto da meta perseguida pelo BC, em 4,5%. Para 2027 e 2028, as estimativas do mercado financeiro estão em 4% e 3,78%, respectivamente.

O alvo central é 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta é considerada cumprida se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

O Copom prevê um novo estouro da meta de inflação em junho, conforme o regime de avaliação contínua. No cenário de inflação de curto prazo, ressaltou que os preços de alimentos seguem elevados e devem se propagar para outros preços no médio prazo. Disse também que a alta do dólar observada no fim de 2024 deve ser repassada para os preços de bens industrializados no varejo nos próximos meses.

“O comitê acompanhará o ritmo da atividade econômica, fundamental na determinação da inflação, em particular da inflação de serviços; o repasse do câmbio para a inflação, após um processo de maior volatilidade da taxa de câmbio; e as expectativas de inflação, que apresentaram desancoragem [piora] adicional e são determinantes para o comportamento da inflação futura”, disse.

Na última quarta-feira (19), o Copom decidiu por unanimidade elevar a taxa básica de juros (Selic) em um ponto percentual, de 13,25% para 14,25% ao ano, mesmo nível atingido durante a crise do governo de Dilma Rousseff (PT).

O colegiado do BC também sinalizou que os juros vão continuar subindo na próxima reunião, em maio, quando pretende fazer uma nova alta de menor intensidade. Apesar de ter indicado uma desaceleração do ritmo no passo seguinte, evitou se comprometer com um percentual específico de ajuste da Selic.

Na ata, o comitê buscou passar três sinalizações sobre a condução da política de juros. “Primeiramente, julgou que, em função do cenário adverso para a dinâmica da inflação, era apropriado indicar que o ciclo não está encerrado”, afirmou.

Em função do efeito defasado da alta de juros sobre a economia, o Copom disse que considerou pertinente comunicar que o próximo movimento seria de “menor magnitude”, acrescentando que, diante da elevada incerteza, optou por antecipar a direção somente do próximo passo.

Na avaliação do colegiado do BC, os dados mais recentes sinalizaram uma “incipiente moderação do crescimento” da atividade econômica. Por outro lado, ponderou que as informações têm apresentado ” resultados mistos a depender do setor ou da pesquisa” e mostrou cautela antes de tirar conclusões sobre o tema, falando em “parcimônia”.

“O comitê reforçou que alguns indicadores mais recentes, como de serviços, indústria ou população ocupada têm indicado moderação de crescimento após extraordinária resiliência no mercado de trabalho e na atividade econômica”, afirmou. “Ainda que dados recentes sugiram alguma moderação, o mercado de trabalho permanece aquecido”, acrescentou.

Para o Copom, o mercado de crédito se manteve “pujante” nos últimos trimestres. No entanto, houve desaceleração do crédito bancário no período mais recente, com elevação de taxa de juros, menor apetite ao risco na oferta de crédito e redução no ritmo das concessões.

O colegiado disse que seguirá atento à trajetória do PIB (Produto Interno Bruto) e destacou necessidade de recuo da atividade econômica para levar a inflação à meta.

No mercado, há preocupação com a política fiscal expansionista do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em meio à queda de popularidade do presidente, foram apresentadas medidas de estímulo à economia, como o novo consignado para trabalhadores do setor privado e proposta de ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 por mês.

Quanto à questão fiscal, o colegiado do BC repetiu que as políticas devem ser previsíveis e críveis e reconheceu que percepção negativa dos agentes econômicos sobre a sustentabilidade das contas públicas e do nível de endividamento tem impactado os preços dos ativos e as expectativas. “O debate do comitê evidenciou, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas”, reforçou.

“O esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia [aquela que não estimula nem desestimula a economia]”, afirmou.

Segundo o colegiado, isso traz efeitos negativos sobre a potência da política de juros. Em dezembro, o Copom revisou a estimativa da taxa neutra para 5%.

Em relação ao ambiente externo, o Copom disse que parte da deterioração do cenário discutido em reuniões anteriores começa a se materializar. Há dúvidas sobre a condução da política econômica imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em diversas dimensões.

Entre essas dúvidas, mencionou possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho, abrangência e intensidade da elevação de tarifas sobre importações e alterações nos preços em caso de mudanças na matriz energética –elementos podem trazer impactos negativos para o Brasil.

“A incerteza em torno de tais políticas já restringe novos investimentos e tem impacto sobre atividade”, disse. “A incerteza sobre a implementação das tarifas também tem impacto sobre expectativas, determinação de preços e inflação.”