MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – O papa Francisco apareceu neste domingo (23) ao público pela primeira vez desde que foi internado no hospital Agostino Gemelli, em Roma, há 37 dias. Por volta das 12h (8h de Brasília), ele foi a uma varanda do quinto andar da estrutura.
Na cadeira de rodas, ele acenou aos fiéis aglomerados sob a janela e, ao microfone, agradeceu. “Obrigada a todos. Vejo uma senhora com as flores amarelas. Boa!”, disse, com voz ofegante, mas sem interrupções. Depois, fez o sinal da cruz com a mão e aparentou um início de tosse. A aparição durou pouco mais de um minuto.
O pontífice deixou o hospital logo em seguida, conforme anunciado pela equipe médica no sábado (22). Ele usava um cateter nasal dentro do veículo, embora tenha aparecido na janela sem o dispositivo. Em seguida, sua comitiva de carros se dirigiu à basílica de Santa Maria Maior, onde o papa costuma passar depois de viagens e onde já esteve depois de outras internações é lá que ele pediu para ser enterrado. Depois, chegou ao Vaticano.
Pouco antes de o papa aparecer, havia sido divulgado o texto do Angelus, a oração que costuma fazer aos domingos, da janela do Palácio Apostólico, para os fiéis reunidos na praça São Pedro. Foi o sexto domingo que o Angelus foi anunciado por escrito.
“Neste longo período de hospitalização, tive a oportunidade de experimentar a paciência do Senhor, que vejo refletida também na preocupação incansável dos médicos e dos profissionais de saúde, bem como na atenção e nas esperanças das famílias dos enfermos”, disse o papa no texto.
Como costuma fazer, comentou conflitos em andamento e lamentou a retomada dos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza. “Peço que silenciem imediatamente as suas armas e que se tenha a coragem de retomar o diálogo, para que todos os reféns sejam libertados e se alcance um cessar-fogo definitivo. Na Faixa, a situação humanitária é mais uma vez muito grave e exige o compromisso urgente das partes em conflito e da comunidade internacional.”
Única autoridade a visitá-lo no hospital, logo na primeira semana de internação, a primeira-ministra Giorgia Meloni celebrou a alta do papa. “Estou feliz de saber que o papa esteja voltando ao Vaticano. A ele vão um pensamento especial e os melhores votos, com carinho e gratidão pelo seu incansável empenho e preciosa orientação”, publicou a italiana no X.
Desde as primeiras horas desta manhã, pessoas começaram a se aglomerar na entrada do hospital, sob a varanda, em torno da estátua do papa João Paulo 2º, morto em 2005, que foi internado diversas vezes ali. Por semanas, fiéis deixaram velas, flores, rosários e outros objetos em homenagem a Francisco, além de rezarem por sua recuperação.
Aos 88 anos, o pontífice está curado da pneumonia bilateral e superou ao menos quatro crises respiratórias graves. Segundo a equipe médica, em dois desses momentos ele correu risco de morrer.
O tratamento para eliminar totalmente a infecção polimicrobiana continuará na Casa Santa Marta, sua residência oficial no Vaticano, onde o papa deverá ficar em convalescença por ao menos mais dois meses, além de passar por reabilitação motora e respiratória.
No período, os médicos recomendam que ele não encontre grandes grupos nem se esforce demais. Ainda é incerto como ele vai participar, daqui a quatro semanas, das celebrações da Páscoa, o momento mais importante do calendário para o cristianismo.
A alta foi decidida pelos médicos depois de constatada a estabilidade de seu quadro clínico, nas duas semanas anteriores. Nos últimos dias, estava em diminuição o uso de oxigênio artificial, por meio de ventilação mecânica não invasiva e cateter nasal. O papa jamais foi intubado, disseram os médicos.
Mesmo internado, segundo o Vaticano, o papa manteve parcialmente seu trabalho, despachando documentos e nomeações com colaboradores próximos, como o cardeal Pietro Parolin. No entanto, precisou declinar de participar de celebrações ligadas ao Jubileu da Igreja, que ocorre a cada 25 anos, além de deixar de recitar o Angelus.
No domingo dia 16 tinha sido divulgada a primeira foto do pontífice desde que entrou no hospital. Ele apareceu quase de costas, olhando para o altar da capela que faz parte de sua suíte no décimo andar, e com a mão direita inchada, devido à falta de mobilidade.
Dez dias antes, havia ocorrido a primeira manifestação sem ser por escrito. Na noite do dia 6, o Vaticano divulgou um áudio gravado pelo papa em que ele agradecia os fiéis da praça São Pedro pelas orações. A voz ofegante confirmava a fragilidade de seu estado de saúde.
Francisco foi internado em 14 de fevereiro para tratar sintomas de uma bronquite. Realizados os primeiros exames, recebeu o diagnóstico de infecção polimicrobiana nas vias respiratórias, causada por fungos, bactérias e vírus. Em seguida, uma tomografia revelou que o papa também sofria de pneumonia nos dois pulmões. Além da idade, o quadro foi considerado complexo pelos médicos devido a doenças respiratórias crônicas e à mobilidade restrita.