MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Após 36 dias internados, o papa Francisco terá alta neste domingo (23), afirmou neste sábado (22) a equipe médica do hospital Agostino Gemelli, em Roma.

O pontífice está em condições clínicas estáveis há duas semanas, ainda de acordo com os médicos, e a recomendação de repouso a partir de agora é de ao menos dois meses. No período, os médicos desaconselham encontros com grupos de muitas pessoas e grandes esforços.

Após deixar o hospital, o papa irá para a Casa Santa Marta, sua residência oficial no Vaticano. Antes, por volta das 12h (8h no Brasil), ele deverá aparecer na janela do décimo andar, onde fica sua suíte, para uma bênção aos fiéis. Será sua primeira aparição pública desde que entrou no hospital. A tradicional oração do Angelus será divulgada online, como ocorreu nos domingos anteriores.

“O Santo Padre terá alta em condições estáveis, que já duram duas semanas. Obviamente, tem a prescrição de continuar parcialmente a terapia farmacológica, ainda por bastante tempo, por via oral. E é muito importante a recomendação de um período de repouso em convalescença, por ao menos dois meses”, disse Sergio Alfieri, diretor da equipe médica do hospital que acompanhou o tratamento do papa.

Nos próximos dias, o pontífice vai continuar a reabilitação motora e a fisioterapia respiratória, em continuidade com que já vinha ocorrendo nos últimos dias no hospital. A Casa Santa Marta é equipada, disse Luigi Carbone, médico do papa no Vaticano, para receber o pontífice, com serviço de emergência 24 horas e equipamentos como o oxigênio suplementar.

“Durante a internação, as condições clínicas do papa apresentaram dois episódios muito graves, em que ele esteve em perigo de vida”, disse Alfieri, em referência às crises respiratórias ocorridas entre o fim de fevereiro e o início de março. Mesmo assim, disse, o pontífice nunca foi intubado e sempre se manteve alerta e orientado.

O especialista afirmou que o papa não tem mais a pneumonia bilateral, mas ainda há presença de vírus, bactérias e fungos nas vias respiratórias, embora a infecção mais grave tenha sido superada. Também explicou que a perda da voz é normal nesses casos e que o papa já estava melhorando.

“Ele queria há dias já ter voltado para a casa, mas a alta é decidida pelos médicos. Ele foi um paciente exemplar e soube nos escutar”, disse Alfieri.

Francisco, 88, tem apresentado melhoras nos últimos dias, com a diminuição da necessidade de oxigênio suplementar e a intensificação de fisioterapia respiratória e motora. A única vez que a equipe médica havia falado com jornalistas sobre o estado de saúde do papa foi em 21 de fevereiro, após uma semana de internação. Depois disso, ele sofreu ao menos quatro crises respiratórias graves.

No período, segundo o Vaticano, o papa manteve parcialmente seu trabalho, despachando documentos e nomeações pessoalmente com colaboradores próximos, como o cardeal Pietro Parolin. No entanto, precisou anular celebrações ligadas ao Jubileu da Igreja, que ocorre a cada 25 anos, e deixou de recitar o Angelus por cinco domingos, uma lacuna para os fiéis acostumados a encher a praça São Pedro.

Francisco foi internado em 14 de fevereiro para tratar sintomas de uma bronquite. Nas semanas anteriores, havia apresentado dificuldades respiratórias que o forçaram a interromper a leitura de textos em cerimônias.

Realizados os primeiros exames no hospital, o papa recebeu diagnóstico de infecção polimicrobiana nas vias respiratórias, causada por fungos, bactérias e vírus. Em seguida, uma tomografia revelou que o papa também sofria de pneumonia nos dois pulmões.

O equilíbrio da terapia farmacológica, à base de cortisona e antibiótico, se tornou um desafio para os médicos, que falaram pela primeira vez com os jornalistas no dia 21 de fevereiro. Na ocasião, disseram que o quadro era complexo, também pela idade e por doenças crônicas, e que o papa, após uma semana de internação, ainda não estava fora de perigo.

No dia seguinte, um susto. O boletim médico informava que as condições do papa eram graves, depois de uma crise respiratória asmática, que exigiu a aplicação de oxigênio por meio de catéter nasal. Também precisou de transfusões de sangue, para combater queda de plaquetas. A evolução do quadro passou a ser considerada incerta, com o “prognóstico reservado”, como dizem os médicos italianos.

Após uma leve insuficiência renal ter sido detectada e sanada, Francisco passou dias de estabilidade e leve melhora. Até que, em 28 de fevereiro, outro episódio grave foi relatado pelo boletim médico: uma segunda crise respiratória havia provocado vômito, que precisou ser aspirado. Pela primeira vez, o papa fez uso de ventilação mecânica com máscara, sem ser intubado.

Outra fase de estabilidade, sempre dentro da complexidade do quadro, foi seguida por duas crises respiratórias agudas no dia 3 de março, causadas por acúmulo de muco nos brônquios. Foi necessária uma broncoscopia para aspiração de secreções, e o papa voltou a respirar com ajuda de ventilação mecânica.

A situação retomou a estabilidade. Na noite do dia 6, o Vaticano divulgou um áudio gravado pelo papa naquele dia, em que ele agradecia os fiéis da praça São Pedro pelas orações. Foi a primeira manifestação sem ser por escrito desde início da internação. A voz afanada confirmava a fragilidade de seu estado de saúde.

Os boletins médicos passaram a ser divulgados somente em alguns dias, dando sinais da estabilidade do quadro. Mesmo assim, o prognóstico continuou reservado até 10 de março, quando os médicos falaram em “melhora consolidada” e boa resposta à terapia farmacológica.

Desde então, apesar da complexidade, a situação era considerada sob controle. No domingo dia 16 de março, foi divulgada a primeira foto de Francisco depois de internado. Ele apareceu quase de costas, olhando para o altar da capela que faz parte de sua suíte no décimo andar do hospital e com a mão direita inchada, segundo Vaticano, devido à falta de mobilidade.