CAMPINAS, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Os 35 indígenas que foram resgatados de condições análogas à escravidão na última segunda-feira em Pedreira, no interior de São Paulo, voltaram na madrugada deste sábado para o Mato Grosso do Sul, estado de origem. A informação foi confirmada pelo MPT (Ministério Público do Trabalho).
Volta para casa aconteceu na madrugada de hoje, em um ônibus fretado pela terceirizada, como confirmou o MPT. Indígenas trabalhavam com a coleta de frangos para uma terceirizada, que abastecia um grande frigorífico de São Paulo. Todas as 35 vítimas viviam alojadas em uma casa em “péssimas condições”, e dormiam em colchões úmidos, infestados com besouros e mosquitos
Escravizados foram recrutados em aldeia Amambai, no Mato Grosso do Sul. O frigorífico prometeu a eles alojamento mobiliado com camas, alimentação custeada pelo contratante e trabalho registrado, mesmo que 28 dos 35 indígenas não tivesse carteira de trabalho. Para cada trabalhador, o cacique da aldeia recebeu R$ 70 -totalizando R$ 2.450. Eles foram levados da aldeia há 15 dias.
Donos de terceirizada, que não teve nome divulgado, terão de pagar R$ 255 mil em indenizações. O valor compreende R$ 170 mil de multas rescisórias e R$ 85 mil em danos morais individuais. A Auditoria Fiscal ordenou a paralisação de todas as atividades da empresa, garantindo também o retorno dos indígenas.
MPT investiga possível tráfico de pessoas nesse caso. “Lideranças indígenas podem ter recebido vantagens financeiras por cada trabalhador enviado para Pedreira”, disse o coordenador regional do Conate (Coordenadoria Nacional de Enfrentamento e Tráfico de Pessoas), Marcus Vinícius Gonçalves.
CONDIÇÕES PRECÁRIAS
Indígenas tinham que dormir até em varanda, ficando expostos à chuva e sol. Todos dividiam somente um banheiro. “Não havia espaço para lavar ou secar roupas, e alguns trabalhadores estavam usando a mesma vestimenta há duas semanas. O alojamento, além de sujo e fétido, não possuía qualquer condição digna de moradia”, publicou o MPT.
Vítimas só comiam arroz e bebiam água de aviário. Quando os fiscais vistoriaram a casa, a única comida disponível era “arroz empapado”. Os indígenas afirmaram aos agentes que comiam sentados no chão, e tinham de beber a água disponível no aviário do local, com as galinhas que coletavam.