BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS0 – O preço do diesel praticado pela Petrobras está acima dos valores de referência no mercado internacional e tem condições de cair, avaliam representantes do governo. A visão desse grupo é que o litro do combustível está sendo vendido em território nacional em patamar até R$ 0,40 mais caro.

Integrantes do Executivo ouvidos pela Folha de S.Paulo defendem um corte e dizem que um movimento de redução por parte da estatal poderia ajudar a combater a inflação em um momento de preocupação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com os preços no país. A queda da cotação do petróleo tem alimentado a pressão dentro do governo por uma redução no diesel, especialmente depois de a elevação do valor do combustível no começo do ano ter encarecido os fretes.

Apesar de a diferença de preços entre os mercados nacional e internacional chegar a ser classificada nos bastidores como um “absurdo”, o governo tem evitado uma intervenção direta na Petrobras por entender que a própria empresa e sua diretoria devem ser as maiores responsáveis por avaliar o tema e têm condições de analisar o cenário de forma mais adequada. O grupo de acompanhamento de preços é formado pela CEO, Magda Chambriard, e outros dois executivos da estatal.

O último movimento da Petrobras foi para aumentar o preço do diesel. A estatal elevou em fevereiro o preço médio do combustível para distribuidoras em mais de 6%, para R$ 3,72 por litro. Foi o primeiro reajuste no produto em mais de um ano.

Agora, a interpretação é que o cenário para uma queda ficou mais favorável após o fortalecimento do real frente ao dólar e a queda do petróleo no mercado internacional nos últimos meses. Após um pico recente de US$ 82 em meados de janeiro, o valor do barril do tipo Brent caiu para US$ 72 na última quinta-feira (20).

Com os dados mais recentes, o governo calcula que o diesel está pelo menos R$ 0,20 mais caro. Esse valor está dentro do intervalo estimado pela Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Veículos). Mas se for usado como referência o mercado russo, que a entidade não considera, o valor estaria R$ 0,40 mais caro. Uma redução nesses montantes geraria um corte entre 5,3% e 10,7% no preço do combustível, respectivamente.

O preço do óleo diesel cobrado pela Petrobras nas refinarias está na casa de R$ 3. Mas, com a mistura do biodiesel, os custos de distribuição e revenda e os impostos federais e estaduais, o combustível chega ao consumidor a uma média de R$ 6,43 (considerando a pesquisa de preços encerrada em 15 de março).

A nova política comercial da Petrobras, iniciada no terceiro mandato de Lula, prevê mudanças de preços menos frequentes por parte da diretoria. Há compreensão no governo com isso, já que variáveis acompanhadas pela empresa -como a previsão de um eventual encarecimento do diesel em um futuro próximo, por exemplo- podem indicar a necessidade da formação de um “colchão” para reduzir a volatilidade nos preços e dispensar aumentos.

Mesmo assim, o governo entende que as previsões para o preço do petróleo são de queda neste ano, em especial no segundo semestre. Isso abriria espaço ainda maior para um corte.

No caso da gasolina, o entendimento do governo é que a tendência também é de queda neste ano. Nesse caso, nem tanto devido ao cenário internacional -mas sim devido à concorrência com o etanol.

A produção do álcool tem aumentado muito nos últimos anos e a previsão é de mais crescimento em 2025. O entendimento é que um barateamento expressivo do produto em relação à gasolina provocaria mudanças no comportamento dos motoristas. Nesse caso, a Petrobras precisaria baixar os preços para não perder mercado.

Procurada, a Petrobras afirmou que em maio de 2023 substituiu sua política de preços, que tinha o preço de paridade de importação (PPI) como único parâmetro de referência, e passou a adotar uma estratégia comercial que considera as “melhores condições de produção e logística” para a precificação do diesel e da gasolina.

A estatal afirma que monitora diariamente os fundamentos do mercado internacional e seus possíveis desdobramentos para o mercado brasileiro, tendo como premissas a prática de preços competitivos com as principais alternativas de suprimento e o não repasse da volatilidade externa para os preços internos.

“Dessa forma, proporcionamos períodos de estabilidade de preços para os nossos clientes evitando a prática de reajustes diários, para cima e para baixo, adotada no passado”, afirma a estatal. “Por questões concorrenciais, a companhia não antecipa suas decisões sobre manutenção ou reajuste de preços”, completa a nota.

Chambriard afirmou à Folha neste mês que considera a política de preços da empresa bem-sucedida. “Nós conseguimos abrasileirar os preços dos combustíveis. Tínhamos o objetivo de não repassar para os consumidores a volatilidade dos preços internacionais do petróleo nem a flutuação do câmbio e praticar, ao mesmo tempo, preços competitivos. Acredito que alcançamos esse objetivo”, disse.