SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A iluminação é suave, e o clima, intimista, criando uma atmosfera que convida os frequentadores a desbravarem as bocas e os corpos uns dos outros. Mas todos estão aqui por mais um motivo. Nesta sexta-feira (22), o Dédalos, um dos bares e saunas gays mais tradicionais da capital paulista, exibiu o último capítulo de “Beleza Fatal”, novela da Max que se tornou um fenômeno com cenas de nudez e personagens desbocados e provocativos, caso de Lola, vilã interpretada por Camila Pitanga.

O público queer, aliás, é um dos que mais se deliciaram com as tiradas da vilã, que ganhou até num nome para dar a seus fãs, os “lolovers”. Um deles é o gerente de restaurante Leandro Meirida. “Lola é maravilhosa, por mais que seja uma pessoa má. Não tem como não gostar. O jeito dela me atrai”, diz, acrescentando que a novela o agrada por ser mais dinâmica do que as tradicionais.

“Tudo acontece rápido. Você não precisa esperar 200 capítulos para ver o desfecho. As coisas vão acontecendo e te surpreendendo a cada capítulo”, afirma ele, um dos que foram ao Dédalos, um bar restrito a homens, para acompanhar o desfecho de “Beleza Fatal”.

Este, aliás, não é o único lugar que fez um evento dedicado ao último capítulo da trama, escrita por Raphael Montes para o streaming da Warner Bros. Discovery. Eventos semelhantes aconteceram em outros locais de São Paulo e em estados como Rio de Janeiro e Ceará.

Às 20h, a música pop parou de tocar no Dédalos, quando começou a novela. Homens descamisados tiraram os olhos um dos outros e os voltaram para as duas telas fixadas nas paredes da boate. Um rapaz de sunga saiu de uma das salas, pegou uma taça de champanhe e se juntou aos cerca de 25 espectadores que se acotovelavam para assistir ao capítulo.

Nem todo mundo, porém, era fã da trama. “Pô, desliga essa televisão aí. Vou fazer uma reclamação. A pessoa vem pra cá assistir novela das oito?”, gritou um frequentador. O incômodo, contudo, não encontrou eco entre as demais pessoas. A empolgação era o sentimento que predominava.

Ela só desapareceu uns poucos segundos, quando a transmissão da novela travou. O contratempo aconteceu justamente durante o julgamento de Lola, um dos momentos de maior voltagem dramática do capítulo.

Revoltado, o público começou a vaiar e a reclamar da internet, mas o aperto não durou muito tempo. A vilã acabou condenada, para o delírio do público. “Vamos comemorar a prisão da Lola”, disse um homem ao pedir mais champanhe no bar poucos minutos antes de o capítulo terminar.

Quando a trama enfim chegou ao fim, um gemido de lamentação ecoou pela boate. “Eu curti muito a novela e a Lola. Ela virou uma diva dos gays porque é divertida. As piadas dela envolveram bastante”, diz Wellington Rubens de Souza, um dos espectadores.

“A novela é melhor que as atuais da Globo por causa do roteiro e da liberdade criativa que o autor teve”, acrescenta Souza, para quem as tramas dos canais abertos têm se autocensurado. “Tem muita restrição hoje em dia, tipo com o beijo gay. Já ‘Beleza Fatal’ teve menos restrição em relação à nudez, por exemplo. Achei isso da hora.”