SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O aeroporto de Heathrow, no Reino Unido, começou a retomar os pousos, nesta sexta-feira (21), após um incêndio na subestação elétrica que alimenta o terminal interromper suas operações por 18 horas. O incidente causou um apagão nesse que é o principal aeroporto da Europa e o quarto mais movimentado do mundo.
A interrupção das operações foi responsável por um caos aéreo global o terminal se conecta com 80 países e tinha 1.351 decolagens ou aterrissagens nesta sexta, o que envolveria até 291 mil passageiros.
Pela manhã, o operador do aeroporto, o Heathrow Airport Holdings, afirmou que o terminal ficaria fechado até meia-noite. Já no início da tarde, a empresa disse que não tinha previsão de quando a energia seria restabelecida e que interrupções seriam esperadas nos próximos dias.
Horas depois, no entanto, a companhia disse que havia iniciado seu processo de reabertura. “Agora podemos reiniciar os voos com segurança, priorizando a repatriação e a realocação de aeronaves”, disse o terminal em um comunicado no X. “Esperamos operar normalmente amanhã.”
O primeiro pouso após o incidente ocorreu às 18h15 no horário local (15h15 em Brasília). As operações foram retomadas apenas de forma parcial, entretanto. Até o fim da tarde desta sexta, nenhuma decolagem havia sido registrada.
Construído em 1946, o Heathrow, que fica 25 km a oeste de Londres, é o maior dos cinco aeroportos que atendem a capital britânica e o mais movimentado da Europa, à frente dos de Paris, Amsterdã e Madri, por exemplo.
O incêndio começou na noite de quinta (20). Durante a madrugada, colunas de fumaça laranja foram vistas antes de uma equipe de cerca de 70 bombeiros controlarem as chamas, às 8h locais (5h no Brasil).
Na tarde de sexta, a operadora da rede elétrica National Grid afirmou que a subestação North Hyde havia sido reconfigurada para restabelecer a energia para partes do aeroporto. “Esta é uma solução provisória enquanto realizamos mais trabalhos em North Hyde para retornar a subestação e nossa rede à operação normal”, disse a companhia.
Mesmo sem evidências de que o incêndio tenha sido fruto de um ato criminoso, é a unidade de combate ao terrorismo da polícia que está liderando as investigações. Segundo a corporação, após análises iniciais, os investigadores não acreditam em sabotagem.
“Embora atualmente não haja indicação de sabotagem, mantemos a mente aberta neste momento”, disse o serviço de polícia metropolitana de Londres em comunicado. “Dados a localização da subestação e o impacto que esse incidente teve na infraestrutura nacional crítica, o Comando de Combate ao Terrorismo está liderando as investigações.”
O porta-voz do Corpo de Bombeiros, Jonathan Smith, afirmou que um transformador com 25 mil litros de óleo de resfriamento pegou fogo, causando “risco significativo devido à presença de equipamentos de alta tensão”.
As chamas, então, impediram o funcionamento do sistema de energia para emergências, segundo o ministro da Energia britânico, Ed Miliband. Engenheiros trabalharam para implantar um terceiro mecanismo. “Queremos entender por que aconteceu e quais lições, se houver, esse incidente deixa para nossa infraestrutura”, disse o ministro à Sky News.
Para o porta-voz do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, ainda era muito cedo para especular. “Haverá um momento para uma investigação minuciosa”, disse ele a jornalistas. “Esperamos que essas perguntas sejam respondidas, mas nossa prioridade agora é lidar adequadamente com este incidente.”
O diretor-geral da Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo, na sigla em inglês), o irlandês Willie Walsh, disse que o Heathrow mais uma vez decepcionou os passageiros.
“Como uma infraestrutura de importância nacional e global pode ser completamente dependente de uma única fonte de energia, sem alternativa? Esta é uma falha clara de planejamento por parte do aeroporto”, disse Walsh na rede social X.
A administração do aeroporto disse que tinha geradores a diesel e fontes de alimentação ininterruptas para pousar aeronaves e retirar passageiros com segurança, e que todos esses sistemas funcionaram conforme o esperado. Mas, com o aeroporto consome o correspondente ao que uma pequena cidade consumiria de energia, foi impossível continuar com todas as suas operações.
“Há contingências de certos tamanhos que não podemos nos proteger 100%, e esta é uma delas”, afirmou o presidente-executivo do Heathrow, Thomas Woldbye, a jornalistas do lado de fora do terminal. “[O fornecimento de energia] é um ponto fraco.”
A última vez que aeroportos europeus experimentaram interrupções em grande escala como a desta sexta foi em 2010, quando uma nuvem de cinzas forçou o fechamento de diversos aeroportos no continente. Na época, cerca de 100 mil voos foram cancelados na Europa, e o Heathrow ficou sem operações por seis dias.
Cerca de 120 voos para o aeroporto estavam no ar quando o fechamento foi anunciado, e todos tiveram de ser desviados para outros terminais. Dois voos da Qantas que vinham de Perth, Austrália, e Singapura, por exemplo, tiveram de ser desviados para o Charles de Gaulle, em Paris, segundo a companhia aérea australiana. Outros sete da United Airlines tiveram de retornar ao aeroporto de origem ou ser direcionados para outros destinos, segundo a companhia americana.
De acordo com especialistas do setor, a interrupção ainda vai impactar os voos mesmo após a retomada, já que muitas aeronaves agora estão fora de posição só a British Airways, a companhia aérea que mais usa o Heathrow, tinha 341 voos programados para pousar no aeroporto nesta sexta.
Eles afirmam ainda que alguns passageiros forçados a pousar na Europa podem ter de ficar em salas de trânsito se não tiverem a documentação de visto para sair do aeroporto. “O que as companhias aéreas farão para lidar com o acúmulo de passageiros?”, disse à agência de notícias Reuters o analista da indústria de viagens do Atmosphere Research Group Henry Harteveldt. “Vai ser um par de dias caóticos.”
“Temos colegas de tripulação e aviões que estão atualmente em locais onde não planejávamos que estivessem”, disse o presidente-executivo da British Airways, Sean Doyle, a jornalistas. “Infelizmente, terá um grande impacto em todos os nossos clientes voando conosco nos próximos dias.”
De acordo com o Heathrow Airport Holdings, 5,7 milhões de passageiros viajaram pelo aeroporto no mês passado o fevereiro com mais movimento no terminal já registrado. De março de 2024 a fevereiro de 2025, foram 84,1 milhões passageiros. Para atender toda a demanda, mais de 90 mil pessoas trabalham no aeroporto, o que o torna o maior empregador em um único local do Reino Unido.
O fechamento não apenas atrapalhou os viajantes como também irritou as companhias aéreas, que viram o preço de suas ações caírem enquanto se questionavam como uma infraestrutura tão crucial falhou. A indústria agora deve enfrentar um impacto financeiro de milhões de libras e uma provável disputa sobre quem deve pagar.
Além de afetar o aeroporto, o apagão ainda deixou 100 mil casas sem energia durante a noite, segundo Miliband, ministro da Energia. Às 6h (3h no Brasil), 4.900 casas continuavam sem energia, segundo um porta-voz da National Grid.