SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O biólogo catarinense Christian Raboch Lempek fez o registro de um momento inusitado entre duas cobras. No vídeo, publicado nas redes sociais dele, uma cobra-coral aparece de “bucho cheio” e “gordinha”. Depois, a serpente é resgatada e, devido ao estresse, vomita uma cobra-de-duas-cabeças. “A natureza é sinistra”, escreveu o especialista. O registro foi publicado no último domingo.
COBRA PODE COMER COBRA?
Sim, mas depende da espécie. A bióloga Daniella França, que estuda répteis há 17 anos, explica que existem espécies de serpentes, como a cobra-coral, que são especialistas em se alimentar de outros répteis com corpo serpentiforme (comprido e sem patas, mas não necessariamente uma serpente), como cobras e anfisbenas (um réptil parecido com uma cobra, mas que está mais próximo dos lagartos, como a própria cobra-de-duas-cabeças).
“Aqui no Brasil, temos algumas espécies ofiófagas, ou seja, que se alimentam especialmente de outras serpentes, como as muçuranas, que se alimentam inclusive de serpentes peçonhentas como jararacas e cascavéis, e as corais-verdadeiras, como a do vídeo”, disse Daniella França.
Espécies de serpentes têm hábitos alimentares diferentes entre elas. A bióloga, também doutora em zoologia pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), conta que algumas serpentes podem comer sapos, insetos e outros invertebrados. “Algumas espécies se alimentam de aves, morcegos e de peixes, enquanto outras, de roedores, e assim por diante”, diz.
POR QUE COBRA-CORAL VOMITOU?
Devido ao estresse do resgate realizado pelo biólogo. França explica que as serpentes concentram muita energia na digestão e ficam lentas, o que dificulta uma possível fuga. “Quando se sentem ameaçadas após ingerir uma presa, elas regurgitam porque ficam mais ágeis e precisam usar sua energia para a fuga imediata”, afirma a bióloga.
Cobra-de-duas-cabeças que cobra-coral regurgitou não é bem uma cobra. Por definição, ela é uma anfisbena, que, segundo França, está mais próxima dos lagartos que das cobras, do ponto de vista evolutivo. “É um réptil parecido com uma cobra, mas não é uma cobra. Também não possui duas cabeças, mas recebe este nome porque a cauda, curta e arredondada, parece uma cabeça na outra extremidade do corpo. Mas como o nome comum/popular é a população que escolhe, podemos chamá-la de cobra-de-duas-cabeças”, diz.