Um fuzil é apreendido a cada 12 horas no Rio de Janeiro em meio à intensificação de disputa por território entre as principais facções criminosas e a milícia. A média é a maior registrada desde o começo da série histórica em 2007, quando o índice começou a ser registrado pelo ISP-RJ (Instituto de Segurança Pública do Rio).

PM apreendeu 154 fuzis de janeiro a 17 de março de 2025. Em média, dois fuzis por dia foram encontrados em áreas de domínio do crime organizado em ações da corporação neste ano, segundo levantamento obtido pelo UOL.

Média é superior ao recorte histórico anual de apreensões de 2024. O índice teve ligeira alta em relação ao dado de 732 fuzis apreendidos no ano passado pelas forças de segurança, maior marca registrada na série histórica desde 2007, quando os dados começaram a ser registrados pelo ISP.

Ao todo, 47% dos fuzis apreendidos vem dos EUA, segundo a SSP-RJ (Secretaria de Segurança Pública do Rio). Ontem, a PF fez uma operação no Rio de Janeiro em uma investigação contra um esquema responsável pelo envio de 2.000 fuzis de Miami para as favelas dominadas pelo CV (Comando Vermelho).

Aumento de apreensões de fuzis também indica intensificação de disputa por território entre o tráfico e a milícia, dizem especialistas. Em média, a região metropolitana do Rio tem um confronto armado a cada 84 minutos, indica o Mapeamento dos Confrontos por Território. O estudo, feito em conjunto entre o Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos) da UFF e o Instituto Fogo Cruzado, levou em consideração os tiroteios entre 2017 e 2022.

O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS

“No Rio, há uma disputa constante entre CV, TCP e as milícias. Hoje, os criminosos têm até .50 [metralhadora com capacidade para derrubar um helicóptero. É feito um uso político do dado de apreensão de fuzis, divulgado de forma superficial, porque não há informações sobre uma política integrada de combate ao tráfico de armas”, disse Roberto Uchôa, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e autor do livro “Armas para quem: as buscas por armas de fogo”.

“Seria desejável atuar sobre o mercado de fuzis de forma mais ampla, com identificação de armeiros e locais de montagem dessas armas, com investigações direcionadas que ampliem essa atuação de varejo das operações policiais”, disse Daniel Hirata, coordenador do Geni-UFF.

“O Rio de Janeiro enfrenta um problema crônico de controle territorial armado por facções com uso ostensivo de fuzis. O aumento de apreensões quer dizer que a polícia está intensificando a sua atuação ou indica uma presença maior dessas armas nas ruas? Essa pergunta o indicador não responde e é essencial para entendermos o que está acontecendo na guerra entre facções”, disse Maria Isabel Couto, diretora do Instituto Fogo Cruzado.

“As facções criminosas têm buscado expandir as suas áreas de domínio, tentando tomar território de organizações rivais. Para isso, precisam adquirir mais fuzis, utilizando-se de um esquema de tráfico de armas vindas de outros países. Em muitas favelas do Rio, há criminosos circulando com armas de grosso calibre em qualquer horário do dia”, disse o Delegado Marcus Amim, ex-secretário da Polícia Civil do RJ.

VIOLÊNCIA NO RJ

TCP tem usado a religião para manter o seu domínio em área em disputa com o CV. Uma operação policial na semana passada encontrou um “resort de luxo” com piscina e um lago com carpas no Complexo de Israel, zona norte do Rio, em território que já foi ocupado pela facção rival.

A área de domínio do miliciano confundido com um dos médicos mortos em 2023 tem sido alvo de uma disputa com o CV. Em novembro de 2024, milicianos gravaram vídeo registrando o assassinato de um rival com tiros de fuzil à queima-roupa em Rio das Pedras.

Tiros em helicópteros das forças de segurança. No dia 12 de fevereiro deste ano, uma aeronave da PM foi atingido e precisou fazer um pouso forçado em meio a um tiroteio na zona norte do Rio em uma área em disputa entre o CV e o TCP. Uma semana depois, um helicóptero da Polícia Civil foi alvo de disparos em uma operação em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, esbarrando em fios da rede elétrica.

Governo do RJ propôs cooperação com o governo dos EUA para combater o CV. Secretaria quer que o CV seja reconhecido como uma “organização criminosa transnacional”.