RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O Ministério Público Federal instaurou nesta quarta-feira (19) inquérito civil para apurar a atuação da CBF frente ao caso de racismo contra o jogador Luighi, do Palmeiras, durante a Libertadores sub-20 e sobre as fala do presidente da Conmebol, Alejandro Domingues, que afirmou que a competição sem os brasileiros é como “Tarzan sem Chita”.
O procedimento visa também apurar as medidas concretas adotadas tanto pela CBF como pelo Ministério dos Esportes para coibir o racismo no futebol.
O inquérito foi instaurado após pedido da Jus Racial para apurar responsabilidade civil por omissão da CBF no episódio contra Luighi durante partida contra Cerro Porteño, no Paraguai. A entidade, que reúne especialistas em justiça racial, avaliou ter ocorrido negligência da entidade.
Logo após o episódio, ocorrido no dia 6 de março, a CBF emitiu nota de repúdio e afirmou que iria cobrar punições rígidas. A Conmebol determinou neste domingo (9) que o Cerro Porteño dispute com os portões fechados as próximas partidas da edição de 2025 da Libertadores Sub-20.
Procurada, a CBF e o ministério não comentaram a instauração do inquérito.
Luigi foi alvo de racismo durante partida no estádio do Cerro Porteño. Torcedores do time rival fizeram gestos imitando macaco na direção do brasileiro. Um deles, próximo à grade que dividia o campo da arquibancada, segurava uma criança no colo. A partida, válida pelas quartas de final, não foi paralisada no momento do ocorrido.
Após o confronto, questionado sobre o desempenho de sua equipe, Luighi repreendeu o repórter da transmissão oficial do torneio, que havia ignorado o episódio em campo.
“Dói na alma”, disse ele, minutos depois, em publicação nas redes sociais. “É a mesma dor que todos os pretos sentiram ao longo da história, porque as coisas evoluem, mas nunca são 100% resolvidas.”
A Jus Brasil afirma que a CBF não apresentou defesa técnica do atleta por não ter feito impugnação formal contra a falta de punição ao árbitro por não ter interrompido a partida, como prescreve normas da Conmebol. Também não teria questionado, segundo a entidade, o valor da multa imposta, de R$ 288,4 mil.
Menos de duas semanas depois, Alejandro Domingues fez comentário com teor racista ao ser questionado sobre a possibilidade da Libertadores ser disputada sem clubes brasileiros. A sugestão foi feita pela presidente do Palmeiras, Leila Pereira.
“Seria como o Tarzan sem Chita. Impossível”, disse ele. Chita é uma personagem chimpanzé que acompanha o herói Tarzan em aventuras na floresta.
A declaração foi dada em entrevista a jornalistas na noite de segunda-feira (17), após o sorteio da fase de grupos da Libertadores. Domínguez pediu desculpas pelas declarações na terça-feira (18) em nota publicada em suas redes sociais.
“A expressão que utilizei é uma frase popular e jamais tive a intenção de menosprezar nem desqualificar ninguém. Sempre promovi o respeito e a inclusão no futebol e na sociedade, valores fundamentais para a Conmebol”, escreveu.