SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta queda nesta quarta-feira (19), com o mercado à espera das decisões de política monetária do BC (Banco Central) e do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos).

Incertezas geopolíticas globais, de conflitos armados à guerra de tarifas do governo Donald Trump, seguem no radar.

Às 14h14, a moeda norte-americana caía 0,27%, cotada a R$ 5,658. Já a Bolsa tinha mais um pregão de ganhos e avançava 0,62%, a 132.295 pontos.

As expectativas em relação a esta “superquarta” -como é apelidado o dia em que as autoridades monetárias do Brasil e dos EUA decidem sobre juros- pautam a sessão.

Há um consenso entre o mercado sobre os movimentos de cada autarquia. Por aqui, o Copom (Comitê de Política Monetária) deve aumentar a taxa Selic em 1 ponto percentual, a 14,25% ao ano, como já sinalizado pelo próprio colegiado na reunião anterior. Já o Fed deve manter os juros na atual faixa de 4,25% e 4,5% pela segunda vez consecutiva, em meio a incertezas sobre a economia norte-americana.

Com as decisões já dadas como certas, o foco está voltado aos comunicados que as acompanham.

“Essa será a última decisão seguindo o guidance [indicação] da gestão de Roberto Campos Neto. O mercado está dividido quanto ao tom do comunicado: alguns acreditam que manterá a sinalização de novas altas, ainda que em um ritmo menor, enquanto outros esperam que Gabriel Galípolo deixe a decisão em aberto para a próxima reunião, sem antecipar cortes ou novos aumentos”, diz Márcio Riauba, chefe da mesa de operações da StoneX Banco de Câmbio.

O novo patamar da Selic será conhecido por volta das 18h, após o fechamento dos mercados domésticos. Já o Fed divulga a decisão às 15h, seguida por uma entrevista coletiva do presidente da autarquia, Jerome Powell.

O Fed também publicará o chamado “dot plot”, gráfico que apresenta as projeções individuais dos membros do comitê para a trajetória dos juros. As análises “serão um bom guia para os próximos passos da política monetária e devem trazer uma revisão altista para a inflação, dada as recentes medidas tarifárias”, segundo analistas do Bradesco.

Será a primeira bateria de projeções desde a posse de Donald Trump, cuja política comercial tem inspirado cautela nos mercados globais.

Em menos de três meses no cargo, o presidente norte-americano impôs tarifas sobre importações chinesas e compras de aço e alumínio -com ameaças de mais taxas à frente-, intensificou o controle da imigração e iniciou um processo de demissões em massa de funcionários do governo federal.

Depois que as tarifas de importação de 25% sobre produtos de aço e alumínio entraram em vigor na quarta-feira passada, as economias afetadas retaliaram. O Canadá, principal parceiro comercial dos Estados Unidos na categoria, impôs 29,8 bilhões de dólares canadenses (R$ 120,3 bi) em tarifas.

Já a União Europeia anunciou tarifas retaliatórias sobre 26 bilhões de euros (R$ 164,9 bi) em produtos norte-americanos a partir do próximo mês, como barcos, uísque e motocicletas Harley Davidson. Outras categorias também podem entrar na lista.

Trump, em resposta às represálias, subiu o tom e ameaçou aplicar uma taxa de 200% sobre vinhos e outros produtos alcoólicos provenientes da UE caso o bloco não retire a tarifa sobre o uísque. Ele, no entanto, disse continuar aberto a negociações e que tarifas mais altas não são do interesse de ninguém.

As medidas podem, segundo economistas, elevar os preços de uma série de produtos e provocar incertezas nos consumidores e empresários, que segurariam gastos e investimentos. O cenário desenhado é de uma “estagflação”, isto é, quando a inflação está elevada e a economia não cresce.

Além dos efeitos internos na economia norte-americana, os temores também se estendem para os efeitos na política monetária do Fed. O potencial inflacionário das medidas de Trump pode comprometer a briga do Fed contra a escalada de preços e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados por mais tempo, o que costuma desestimular a procura por ativos de risco.

Mas, no caso do Brasil, a tese pode não se concretizar. Quanto maior a diferença entre os juros daqui e os de lá, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de “carry trade” -quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.

Já na ponta geopolítica, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, aceitou um cessar-fogo temporário com a Ucrânia em conversa por telefone com Trump na terça. O russo não concordou com uma trégua total de 30 dias, como havia sido proposto e já aceito por Kiev, mas com a suspensão dos ataques mútuos contra infraestrutura e rede energética.

“Aumenta um pouco a perspectiva de uma melhora do ambiente de riscos geopolíticos, mesmo que sejam passos iniciais. Isso também tende a favorecer o apetite por ativos de risco globalmente”, diz Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.