SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Milhares de manifestantes em Jerusalém protestaram contra Binyamin Netanyahu nesta quarta-feira (19). O primeiro-ministro de Israel foi acusado de adotar uma guinada antidemocrática e de continuar a guerra contra o Hamas sem levar em consideração os reféns ainda sob poder do grupo terrorista na Faixa de Gaza.

A manifestação, a maior dos últimos meses, foi organizada por grupos de oposição a Netanyahu, que contestam sua decisão de destituir Ronen Bar, o chefe do Shin Bet, serviço de inteligência interno e de segurança.

O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, afirmou nesta quarta que, após os bombardeios israelenses que selaram o fim da trégua, subiu para 970 o número de mortos nas últimas 48 horas. O total de palestinos assassinados desde o início do conflito chegou a 49.547 em balanço atualizado.

Duas pessoas, uma delas funcionário das Nações Unidas, foram mortas em ataque que atingiu o prédio da ONU em Deir al-Balah, no centro de Gaza, disse um colaborador da organização internacional à AFP. O Hamas confirma que um trabalhador da instituição mundial está entre as vítimas.

Um dos falecidos trabalhava para o Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos (UNOPS), disse a fonte.

O protesto desta quarta diante do Parlamento israelense também contou com a presença de parentes dos reféns, que criticaram os bombardeios em Gaza, retomados na noite de segunda (17), após uma trégua de quase dois meses.

Dentre as frases entoadas em Jerusalém, “Você é o chefe, você tem a culpa” e “Você tem sangue nas mãos” eram as mais gritadas pelos manifestantes. Outros exibiam cartazes com “Todos somos reféns” ou pedidos para que os Estados Unidos “Salvem Israel de Netanyahu”.

“Esperamos que todo o povo de Israel se una ao movimento e continue até que a democracia seja restabelecida e os reféns sejam libertados”, disse à AFP Zeev Berar, 68, que viajou a Jerusalém de Tel Aviv.

Os parentes dos reféns consideram que, ao autorizar a retomada dos bombardeios na terça (18), o primeiro-ministro “sacrificou os reféns ainda vivos”, que poderiam morrer sob as bombas.

Os manifestantes acusam Netanyahu de aproveitar a guerra contra o Hamas para silenciar as críticas e concentrar o poder nas mãos do governo.

Protestos em 2023 ocorreram quando Netanyahu tentou demitir o então ministro da Defesa, Yoav Gallant, por se opor à reforma judicial, antes dos ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023. Críticos veem Netanyahu, primeiro-ministro seis vezes, como uma ameaça à democracia israelense.

“Este governo não respeita os sinais vermelhos”, disse Yair Lapid, ex-primeiro-ministro e líder do partido de oposição centrista Yesh Atid, na rede social X. “Chega! Apelo a todos vocês, este é nosso momento, este é nosso futuro. Vão para as ruas.”

O bombardeio renovado de Israel em Gaza recebeu condenação de países árabes, Europa e das Nações Unidas.

Netanyahu anunciou no domingo que pretendia destituir o chefe do Shin Bet e afirmou que não tem confiança em Ronen Bar devido ao fracasso dele em impedir o ataque de 2023.

O governo de Netanyahu também iniciou um procedimento legislativo contra a Procuradoria-Geral de Israel, que manifestou reservas sobre sua política.

Enquanto sua coalizão de direita se mantém unida, Netanyahu tem conseguido resistir aos protestos e evitar a pressão por novas eleições. Pesquisas de opinião sugerem que ele perderia um eventual pleito devido à crescente insatisfação pública pelas falhas que permitiram ao Hamas atacar comunidades do sul em 2023.