SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ainda quando estava encenando “Beetlejuice – O Musical”, o protagonista Eduardo Sterblitch, 38, respondia para qualquer um que lhe perguntasse qual seria o próximo espetáculo do gênero: “Acho muito difícil fazer outro.”
Alguns meses depois, o ator chega a São Paulo, com seu segundo espetáculo do tipo, “Uma Babá quase Perfeita”, que já passou por uma estreia bem-sucedida no Rio de Janeiro.
O que mudou? O prazer de interpretar um personagem ícone de um ator que ele admira, Robin Williams.
“Dei essa sorte, de ter dois musicais na sequência que faziam sentido eu interpretar”, diz no hall do teatro Liberdade, na região central, que abriga a peça e que foi a casa da adaptação de “Os Fantasmas Se Divertem”.
“Uma Babá quase Perfeita” é inspirado no filme homônimo estrelado por Williams, segunda maior bilheteria de 1993. O longa e o ator foram premiados na categoria comédia do Globo de Ouro.
Na trama, após um divórcio traumático, Daniel um ator que não consegue se firmar em nenhum trabalho é impedido pela Justiça de ver os três filhos. Assim, ele usa uma roupa de mulher e máscara e para criar a Mrs. Doubtfire, uma senhora inglesa que consegue o emprego de babá na casa das próprias crianças.
“Aceitei o papel pelo filme, acho que foi o que mais vi quando era criança, devo ter assistido mais de 60 vezes”, contabiliza Sterblitch, que acha que esse recorde foi batido na vida adulta por “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick. “Robin Williams é um ídolo da comédia, um cara que fazia de tudo um pouco, dublava, cantava, era bom de comédia e um grande ator dramático.”
Assim como no longa, a vida dupla de Daniel/Mrs. Doubtfire obriga o protagonista a trocar constantemente de figurino no palco, incluindo uma cena-chave na qual ele precisa se passar pelos dois personagens em um restaurante, em um vaivém cômico no melhor estilo clown.
Apesar de começar a se destacar na carreira como comediante, Sterblitch mostra cada vez mais sua versatilidade. “É sempre bom trabalhar na surpresa. Não sabia que ele cantava, ouvi de alguém. Parece que você canta até melhor porque a pessoa não sabia”, brinca. “Acho que as pessoas se surpreendem com a coisa de dançar, cantar, interpretar, mas isso é o barato de ser artista.”
Aliás, a vida do personagem seria fichinha se comparada com a do workaholic Sterblitch. Atualmente, o ator é um dos destaques da novela das seis da Globo, “Garota do Momento”, na qual interpreta Alfredo Honório. No mesmo folhetim, assumiu o papel do gêmeo malvado (e também cantor mexicano), Alfonso.
Fez um vilão-raiz em “Os Outros”, série da Globoplay que teve duas temporadas bem-sucedidas e na qual ele não esperava voltar. “Mas descobri que tenho umas duas ou três cenas na terceira temporada”, conta.
Até outro dia estava em cartaz nos cinemas com “O Auto da Compadecida 2”, ao lado de Matheus Nachtergaele e Selton Mello, filme que teve cerca de 4,3 milhões de espectadores e já está disponível no streaming Amazon Prime Video. “O Selton está rico agora, né?”, brinca sobre o bom momento do amigo, em cartaz em “Ainda Estou Aqui” e na filmagem de um novo “Anaconda”.
Lançou em 2024 outros dois títulos na tela grande: “Dois É Demais em Orlando” e “Grande Sertão”, dirigido novamente por Guel Arraes. Devido ao sucesso no musical “Beetlejuice”, foi chamado para dublar Michael Keaton na sequência cinematográfica “Os Fantasmas Ainda Se Divertem”, além de emprestar a voz para o Gorila e o Pinguim da animação “Arca de Noé”.
Pensa que acabou? Sterblitch apresenta semanalmente o Papo de Segunda, na GNT. “E estou desenvolvendo um programa de humor com a Tatá [Werneck]. Sempre tento aceitar coisas que me apaixonam. Compor personagem é meu grande barato.”
“Ah, e vou fazer o Roberto Marinho em um especial da Globo”, lembra. Pronto, agora acabou.
“O trabalho de artista é muito instável, daqui a alguns anos as coisas podem não estar dessa forma. Então vamos aproveitar o momento enquanto eu tenho energia para aguentar.”
De todos os trabalhos, o musical entrou quase por acaso. “Quando comecei a fazer aula de canto, não era para ser um ator de musical, e sim para saber cantar, para ser completo. Nunca pensei que eu fosse protagonizar um musical da Broadway.”
Sucesso nos anos 1990, “Uma Babá Quase Perfeita” se transformou em musical apenas em 2019, primeiramente em Seattle (EUA). Depois foi para a Broadway e fez temporada no Reino Unido, em Manchester e West End. Foi lá que Sterblitch assistiu à versão adaptada agora em português.
“Já estava totalmente envolvido no projeto e fui até Londres para fazer o molde do rosto”, lembra.
Por pouco, “Uma Babá” não escapou de suas mãos. Quando soube do projeto, Sterblitch ficou empolgado, mas ao mesmo tempo estava envolvido com “Beetlejuice” além de outros projetos citados acima e não tinha agenda disponível para a empreitada. “A Renata [Borges Pimenta, produtora] tentou outras pessoas, eu mesmo cheguei a indicar alguns amigos. Mas quando é para ser ”
Com filho pequeno, que tem visto bem menos do que gostaria, o ator comemora o público bem família do musical, que tem classificação etária livre.
“É uma delícia, vem muita criança, e elas se divertem com os pais. Aliás, você vê um monte de pai chorando e as crianças não entendem na hora. Vi muitos pais que, depois de ver a peça, apresentaram o filme. Ou vice-versa.”
Sterblitch pontua que essa é uma das diferenças entre “Babá” e “Beetlejuice”, que ele classifica como “um infantil para adulto.”
“Vem muita criança também em Beetlejuice, mas de pais irresponsáveis”, diz, rindo. “Tem esse lado lúdico, do Tim Burton, e tem piada o tempo inteiro, mas é quase um proibidão”, conta, citando alguns trechos que seriam mais pesados da versão americana e que precisaram ser amenizadas para o público brasileiro.
“Os filhos da Taís Araújo foram ver Beetlejuice e ela falou, nossas eles amaram, não param de falar disso e estão repetindo os palavrões aqui”, diverte-se.
Para o protagonista dos dois musicais, o afeto recebido do público é mais perceptível em “Babá”. “Beetlejuice é um humorista, uma coisa mais para fora. Babá é um comediante, mais para dentro, mais emocional. Mas você não deixa de rir o tempo inteiro.”
Antes de encerrar, o ator ainda propõe um desafio à inteligência artificial. “Pode perguntar para o ChatGPT qual a melhor peça para ver com a família em março que ele vai responder Uma Babá quase Perfeita… vamos fazer esse teste?”, brinca.
Depois de dar os parâmetros de data (a partir de 12 de março) e lugar (São Paulo), ele espera a resposta: “Olá, algumas peças bem divertidas que estão em cartaz são: 1) Charlie e a Fábrica de Chocolates, cheia de fantasia ”.
O ator ri e interrompe a IA. “Você está desatualizada, é 12 de março de 2025”, e depois completa. “Mas se perguntar para o Deep Six, ele vai te responder a Babá.”
Beetlejuice o Musical
Dir.: Tadeu Aguiar. Com: Eduardo Sterblitch. 14 anos
Musical inspirado no filme “Os Fantasmas Se Divertem”, de Tim Burton, que virou peça da Broadway. Na trama, um casal morre e vira fantasma em sua própria casa. Beetlejuice é um Com um humor sombrio, Beetlejuice, fantasma mais experiente, ajuda o casal a expulsar os novos inquilinos do local. Em sua primeira temporada, de 2023, a peça ganhou dois prêmios Bibi Ferreira, importante no nicho de teatro musical: melhor ator para Sterblitch e melhor musical estrangeiro para o conjunto da obra.
Teatro Multiplan Village Mall – av. das Américas 3.900, Piso SS1, Barra da Tijuca, zona oeste.
Estreia: 7/8. Até 21/9. Qua. a sex., às 20h. Sáb. e dom., às 16h.
Ingr.: a partir de R$ 42 em Sympla
Teatro Liberdade – r. São Joaquim, 129, Liberdade, região central.
Estreia: 3/10. Até 30/11. Qua. a sex., às 20h. Sáb., às 16h e às 21h. Dom., às 16h e às 20h30.
Ingr.: a partir de R$ 42,36 em Sympla
Uma Babá Quase Perfeita
Dir.: Tadeu Aguiar. Com: Eduardo Sterblitch, Thais Piza e Gabriella Di Grecco. Livre
Após um divórcio difícil, um homem se disfarça de babá para poder ficar mais próximo de seus filhos. O musical é inspirado no filme de 1993 estrelado por Robin Williams (1951-2014), que virou peça da Broadway. Na versão brasileira, o protagonista é feito por Eduardo Sterblitch.
Teatro Liberdade – r. São Joaquim, 129, Liberdade, região central.
Até 11/5. Qua. a sex., às 20h. Sáb. e dom., às 16h e às 20h30.
Ingr.: a partir de R$ 39,6 em Sympla