SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os crimes estão migrando para o espaço digital, de acordo com o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. “Podemos agora chamar essa tendência de cangaço digital.”
“A cada 16 segundos, tem uma fraude bancária, um crime no sistema financeiro eletrônico do Brasil”, afirmou em evento sobre prevenção de fraudes realizado pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos) nesta terça-feira (11). “O fato é desesperador.”
O prejuízo gerado por roubo e furto de celulares, além de golpes virtuais, ultrapassou os R$ 186 bilhões entre julho de 2023 e julho de 2024, estimou o Datafolha, a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Como não há dados oficiais consolidados sobre o assunto, o instituto de pesquisa estimou a perda média de cada ocorrência e a multiplicou pelo número de vítimas.
De acordo com Rodrigues, monitorar o dinheiro do crime organizado dentro do sistema financeiro, incluindo os valores extraviados por meio de fraudes, ajuda a PF a descapitalizar os criminosos. “Assim tiramos o que é mais importante, que é o provento do crime, além de prender as lideranças”, afirmou.
Ainda segundo o diretor-geral, a força policial aumentou os esforços contra os delitos virtuais desde a criação da Diretoria de Crimes Cibernéticos em 2023. A medida veio na sequência da criação, em 2022, de uma Unidade Especial de Investigação de Crimes Cibernéticos
“O número de operações contra crimes cibernéticos passou de pouco mais de 300 em 2022 para mais de mil em 2024”, disse Rodrigues. Em 2023, foram pouco mais de 700 ações contra quadrilhas especializadas em fraudes virtuais.
Esse avanço, avalia Rodrigues, foi possível também graças à comunicação entre a PF e as polícias civis estaduais. “São ações concretas que nós temos feito a par da integração dos estados com as nossas Forças Integradas de Combate ao Crime Organizado, que são financiadas pelo Senado.”
Porém, há dificuldades para lidar com a característica transnacional do crime virtual. “Os recursos [obtidos por meio de fraude] são transformados facilmente em criptoativos e levados para territórios estrangeiros”, disse Rodrigues.
Por isso, a Polícia Federal busca cooperação com a iniciativa privada e com outros entes do pacto federativo e do mundo. “Não há outro caminho que não seja a integração entre o setor público e o setor privado, além das outras unidades federativas, o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e outros países”, disse o diretor-geral.
A maior operação da Polícia Federal contra cibercrime, por exemplo, foi uma cooperação entre as autoridades brasileiras, as espanholas e a Interpol. A ação, deflagrada em janeiro do ano passado, desmantelou o grupo nacional Grandoreiro, que tinha atuação em 45 países.
No início deste ano, o Ministério da Justiça e da Segurança Pública estendeu os pactos de cooperação internacional em visitas a Bruxelas, na Bélgica, e a Haia, na Holanda. Rodrigues e o ministro Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) fecharam um acordo com a Europol (polícia judiciária europeia) para compartilhar informações sobre crimes cibernéticos com a Polícia Federal.
O Secretário Nacional de Segurança Pública, Mauro Sarrubbo, afirmou que os bancos e cidadãos também devem se engajar no combate ao crime cibernético. “A Constituição diz que segurança pública é dever do estado, mas é de responsabilidade de todos.”
Ele lembrou do sistema de compartilhamento de informações dos bancos com as autoridades brasileiras, chamado Tentáculos, que serve de fonte de inteligência para atuação das polícias brasileiras contra o crime cibernético.
Porém, assumiu que o Estado brasileiro “ainda atua de forma muito engessada”. “Precisamos dialogar de forma integrada, unindo Polícia Federal, forças estaduais e também o setor privado, além do Ministério Público.”
A Febraban afirmou que colabora com a Polícia Federal desde 2017, quando foi criado o Tentáculos. A entidade acrescentou que prorrogou o termo de cooperação que deu origem à plataforma no fim de 2023, quando o compartilhamento de informações foi estendido também às polícias civis.