SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As ações das oito principais empresas de tecnologia se valorizaram em 57% desde o início do ano passado até a última sexta-feira (7). O grupo inclui Apple, Nvidia, Microsoft, Google, Meta, Amazon, Tesla e Netflix.
Como essas companhias já estão supervalorizadas, analistas divergem se é o melhor momento para investir no sucesso delas, mas avaliam que os ativos continuam a ser uma boa aposta no longo prazo.
Os brasileiros têm três principais caminhos para ir às compras de títulos no exterior. Uma é adquirir os chamados BDRs (recibos de depósitos brasileiros) certificados negociados no Brasil de ações de empresas estrangeiras. Outra é usar uma carteira internacional, como Wise ou Nomad, para negociar os papéis com uma corretora sediada nos Estados Unidos. A última é comprar uma participação em um ETF (fundo negociado em Bolsa), que é um consórcio de investidores ancorado no valor de uma ação ou índice.
O interessado, antes de investir, deve considerar que as ações de empresas de tecnologia são ativos de risco mais elevado. Uma das empresas mais valiosas do mundo, a Nvidia, por exemplo, começou o ano com papéis negociados a US$ 195,95 (R$ 1.126,38), e, na última sexta (7), caiu a US$ 120 uma desvalorização de 40%, em três meses.
Existem também riscos macroeconômicos na indústria da tecnologia, como os juros em patamar alto para os Estados Unidos e a imprevisibilidade do governo de Donald Trump. “Por enquanto o mercado apenas bonificou os ativos do setor pela expectativa de menos regulação, mas não calculou as perdas de natureza mais protecionista e bélica do presidente americano”, afirma Thomas Monteiro, analista-chefe da plataforma de dados financeiros Investing.com.
Além disso, a Netflix, a Amazon e a Tesla optam por reinvestir seus lucros e não pagam dividendos aos acionistas.
O investidor ainda precisa observar que lidará com câmbio, já que as ações têm seu preço definido em dólar.
COMO USAR CARTEIRA INTERNACIONAL
Hoje, o mercado de serviços financeiros oferece ferramentas como as carteiras globais que permitem manter depósitos em diversas moedas. Trata-se de um arranjo corporativo com sede no Brasil e em outros países, no qual uma única equipe administra as remessas internacionais sob regulação do Banco Central. Dessa forma, as taxas se barateiam.
Algumas opções disponíveis são as fintechs Avenue, Nomad, Wise, e as carteiras globais do C6 Bank, da XP e do Nubank (montada em cima da infraestrutura da Wise).
Essas carteiras fazem parcerias com corretoras americanas para facilitar o acesso aos ativos financeiros lá disponíveis. “O cliente acessa uma série de produtos listados nos Estados Unidos, como ações, ETFs e também títulos de renda fixa”, afirma Paula Zogbi, gerente de pesquisa da Nomad.
As opções ainda são mais diversas na compra direta com corretoras americanas. O mercado financeiro dos Estados Unidos oferece acesso a cerca de 8.000 ativos, contra 850 BDRs listados na Bovespa.
Além disso, as corretoras americanas vendem recibos similares aos BDRs (os ADRs, american depositary receipt) de empresas listadas em outros países, a exemplo da Volkswagen (listada em Frankfurt na Alemanha) e da Tencent (listada em Hong Kong).
Monteiro, da Investing.com, afirma que a compra direta de uma corretora no exterior é uma forma de proteger o investimento de uma possível desvalorização do real, mesmo que seja necessário pagar algumas taxas como IOF (imposto sobre operações financeiras).
“O movimento natural do real em relação ao dólar ao longo de dez anos é a desvalorização, que a gente pode ver desde o dia que o real foi implementado até hoje, apesar de algumas flutuações de curto prazo”, afirma Monteiro.
A proteção contra essa tendência é chamada, no mercado, de dolarização do patrimônio converter os ativos de valores em real para valores em dólar.
Tirar os ativos do Brasil também exime o investidor, por ora, do imposto de renda, que varia entre 7,5% e 27% ao ano para os investimentos de valores acima de R$ 1.903,99. Essa fatura, entretanto, será cobrada quando a pessoa trouxer os valores de volta ao país.
QUANDO BDRS PODEM COMPENSAR
A depender da conjuntura, o real pode ganhar força diante do dólar. Nesse caso, o BDR protegeria o investidor brasileiro da desvalorização da moeda americana, diz o analista de renda variável da W1 Capital, Tales Barros.
Quem já investe no Brasil também pode adquirir o BDR mais facilmente. Com poucos cliques, é possível comprar o recibo no site da B3, diz Monteiro, da Investing.
Entre as 850 empresas cujos papéis são negociados de forma indireta no Brasil estão gigantes da tecnologia como Microsoft e Meta. As empresas usam a ferramenta para ampliar a sua presença no Brasil, afirma a B3.
Por outro lado, o mercado de BDRs tem menos circulação de ativos do que a bolsa americana, o que pode dificultar a venda dos recibos.
Além disso, o BDR é um serviço oferecido pela B3 mediante o pagamento de uma taxa que varia entre 3% e 5% dos valores recebidos em dividendos ou negociação de ativos. Cada pagamento de dividendo da ação também será taxado com o imposto de renda americano, com alíquota de 30%, uma vez que terá de haver uma remessa internacional para efetuar o pagamento.
Zogbi, do C6 Bank, argumenta que o BDR foi um mecanismo financeiro para permitir acessibilidade ao mercado de ações internacionais. “Mas agora o cliente pode investir na Bolsa americana completa com poucos cliques, sem precisar abrir uma conta em uma corretora no exterior.”
O QUE SÃO OS ETFS E COMO COMPRÁ-LOS
A outra opção é investir nos ETFs, fundos de investimento organizados para replicar os resultados de um índice (como a performance da Bolsa de tecnologia Nasdaq) ou de uma ação específica.
A B3 vende cotas em parte desses fundos. Há, porém, uma variedade maior de produtos à venda na Bolsa americana, em que o acesso pode ser feito com carteiras globais.
Embora os ETFs sejam desenhados para reproduzir os resultados de uma ação ou índice, na prática, os resultados ficam ligeiramente abaixo, seja por razões de liquidez no mercado financeiro ou pelos custos administrativos do fundo (em geral, mais baixos do que os de um fundo normal que procura oportunidades diversas de ganho).
A vantagem dos ETFs em relação à compra de ações é o preço menor da cota em relação ao papel individual da empresa, o que abre mais possibilidades de diluir riscos, diversificando os ativos.
Uma ação da Meta, por exemplo, custa, hoje, mais de R$ 3.700, enquanto há cotas em ETF sendo vendidas por cerca de R$ 100.
Na comparação com os fundos tradicionais de investimento, além do menor custo de administração, os ETFs oferecem mais transparência, por terem de reportar resultados, com mais frequência, aos reguladores (no Brasil, a CVM).