WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Diante de ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de interferir na gestão de Washington e em meio a uma ofensiva de republicanos, a prefeita da capital, a democrata Muriel Bowser, anunciou que pretende fazer uma mudança num dos marcos da cidade.

Bowser afirmou nesta semana que deve remover a inscrição “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam) feita no asfalto de uma via nas redondezas da Casa Branca.

A arte foi pintada em 2020, durante os protestos por justiça racial nos EUA, numa praça que também recebeu a alcunha de Black Lives Matter e se tornou um dos pontos turísticos e símbolo de resistência da capital.

Sem dar detalhes, Bowser informou nas redes sociais que vai repintar a praça como parte de um projeto para celebrar os 250 anos da capital, comemorados no ano que vem. Disse ainda que a praça não pode ser um motivo para o que chamou de distrações, em aparente referência às tentativas de Trump de gerir a cidade e de investidas de republicanos de interferir no Distrito de Colúmbia. Na última segunda-feira (3), o deputado Andrew Clyde, republicano da Geórgia, apresentou um projeto de lei exigindo que Washington repintasse e trocasse o nome da praça sob pena de perder um financiamento milionário em transporte.

O anúncio de que o Black Lives Matter seria removido ocorreu no dia seguinte. “O mural inspirou milhões de pessoas e ajudou nossa cidade a passar por um período muito doloroso, mas agora não podemos nos dar ao luxo de sermos distraídos por interferências congressionais sem sentido”, escreveu Bowser nas redes sociais. “Os impactos devastadores dos cortes de empregos federais devem ser nossa principal preocupação.” Não está claro ainda é se a praça onde fica a pintura também terá o nome alterado.

À rede NBC Bowser confirmou que a decisão de repintar a via ocorreu após conversas com a Casa Branca. Ela evitou pormenores, mas admitiu que integrantes do governo não gostaram do mural.

A prefeita decidiu criar a praça em 2020 também como uma forma de protesto ao primeiro mandato de Trump. Em maio daquele ano, o país foi tomado por uma série de manifestações depois do assassinato de George Floyd, homem negro morto asfixiado em ação policial naquele mês.

Bowser disse, porém, que a decisão de reformar a praça Black Lives Matter já estava tomada antes de o deputado republicano ameaçar a cidade com perda de financiamento.

Nesta semana, Trump fez outro movimento de pressão sobre a gestão da capital. Nas redes sociais, exigiu que a administração local fizesse uma “limpeza” e acabasse com os acampamentos de moradores de rua, sobretudo nas redondezas da Casa Branca e do Congresso.

“Notificamos a prefeita de Washington DC para limpar todos os acampamentos feios de moradores de rua na cidade, especificamente incluindo aqueles fora do Departamento de Estado e perto da Casa Branca”, escreveu Trump. “Se ela não for capaz de fazer isso, seremos forçados a fazer isso por ela! Washington, DC deve se tornar LIMPA e SEGURA! Queremos nos orgulhar de nossa Grande Capital novamente”, afirmou.

Horas depois, a prefeitura deu início à retirada dos acampamentos nos locais apontados por Trump. Em entrevista, Bowser negou que tivesse visto a publicação como uma ordem. “Eu disse ‘Obrigada pelo aviso — nós cuidaremos disso.'”

Em fevereiro, Trump já havia levantado a possibilidade de o Executivo federal gerir o Distrito de Colúmbia. “Acho que deveríamos administrá-lo com força, com lei e ordem, torná-lo absolutamente impecavelmente bonito.”