BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – O governo de Donald Trump anunciou a medida até aqui mais importante contra a ditadura da Venezuela. O republicano disse na Truth Social, sua rede, que está revogando as licenças petrolíferas concedidas em 26 de novembro de 2022, na administração Biden.
Naquele dia, a gigante americana Chevron foi autorizada a retomar de forma limitada suas operações de extração de petróleo em território venezuelano, no que Washington chamou de um amortecimento nas sanções em troca de ações concretas para restabelecer a democracia.
O contexto era outro: a ditadura chavista e a oposição acabavam de se reunir no México para firmar acordos que possibilitariam eleições em 2024. De lá para cá, o pleito ocorreu, os principais opositores foram cassados, e Maduro foi reeleito sob acusações internacionais de fraude.
Trump faz menção a isso em sua publicação. Diz que “as condições eleitorais não foram cumpridas pelo regime de Maduro”. Trata-se de um pequeno sopro de esperança para a oposição majoritária na Venezuela, que pedia aos EUA, publica e reiteradamente, o fim da licença de operação da Chevron.
O republicano afirma que o fim da licença passa a valer no próximo sábado (1º). É um duro golpe que fecha a torneira dos petrodólares que ajudam, de diferentes maneiras, a sustentar a cúpula do poder.
A número 2 do regime, Delcy Rodríguez, afirmou em resposta ao anúncio que essa é uma decisão “danosa e inexplicável”. “Com a ideia de prejudicar o povo venezuelano, ele está na verdade infligindo um dano aos EUA, à sua população e às suas empresas.”
A Chevron, por sua vez, disse ainda estar avaliando a situação. O porta-voz Bill Turanne, segundo relatou a agência Reuters, afirmou que a companhia está ciente do anúncio e considera as suas implicações.
A reportagem apurou que os diretores da empresa em Caracas ainda não foram comunicados da suspensão da licença. Eles esperam receber até sábado uma carta da OFAC, o Escritório de Controle de Ativos no Estrangeiro, o responsável legal pelo tema.
Não há informações públicas sobre o balanço da operação da gigante petroleira na Venezuela. Conselheiros da Chevron na capital Caracas estimam, sob reserva, que a empresa produza de 200 mil a 220 mil barris de petróleo ao dia, se somados também seus associados no país.
A gigante ajudou a minimizar a bancarrota do regime e, igualmente importante, ainda contribui no mercado de câmbio para aumentar as entradas de dólares, diante de diferentes limitações impostas. Um dos conselheiros diz que agora a economia pode desmoronar em série e que as consequências são “terríveis”.
É quase um jogo de morde e assopra entre a Casa Branca e o regime chavista ou, como reage um opositor após saber da notícia, “uma ameaça e um golpe para depois possivelmente sentar à mesa”.
Isso porque, há poucas semanas, Caracas recebeu a primeira visita de um enviado especial de Trump para a América Latina.
Acordos foram firmados naquela conversa para a liberação de seis presos de nacionalidade americana que estavam na Venezuela e para que o regime passasse a receber os venezuelanos deportados dos EUA.
Agora, Trump também diz que “o regime não tem transportado os criminosos violentos que enviaram para o nosso país de volta à Venezuela no ritmo que tinham concordado”. A Venezuela tem enviado aviões da sua estatal do setor, a Conviasa, para buscar os deportados nos EUA e levá-los a Caracas, onde são recebidos com pompa pelo regime que, ironicamente, está na origem da diáspora de cerca de 8 milhões de venezuelanos.
Entre analistas e opositores, há quem acredite que até o dia 1º de março algo pode mudar.