RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O traficante Marcio dos Santos Nepomuceno, 55, passou a maior parte da vida na prisão. Detido no século passado, em 1996, está há 18 anos no sistema de presídios federais. Ainda assim, a polícia afirma que ele se mantém como líder do CV (Comando Vermelho), ordenando crimes no Rio de Janeiro.
Pai do rapper Oruam, de quem recebe homenagens, Marcinho VP, como é conhecido, foi preso em setembro de 1996 sob acusação de comandar o tráfico no Complexo do Alemão, na zona norte.
Desde então acumula penas de mais de 60 anos de prisão. A principal delas decorre da acusação de ter ordenado, de dentro de Bangu 1, a morte e o esquartejamento de dois traficantes de uma facção rival.
Da cadeia, também foi investigado sob suspeita de mandar matar outro traficante conhecido também como Marcinho VP, Márcio Amaro de Oliveira, chefe do tráfico do morro Dona Marta, na zona sul.
O VP do Dona Marta ganhou fama em 1996, quando concedeu entrevistas durante a gravação de um clipe de Michael Jackson na favela. Depois, teve a história contada no livro “Abusado”, do jornalista Caco Barcellos.
A divulgação de detalhes sobre a rotina do CV irritou o líder da facção. O traficante de mesmo apelido foi encontrado morto com sinais de estrangulamento numa lixeira de Bangu 3, onde estava detido.
Marcinho VP foi enviado para o presídio federal de Catanduvas (PR) em janeiro de 2007 pelo então governador recém-empossado Sérgio Cabral. Ele foi acusado de ter ordenado uma série de ataques no fim do ano anterior que atingiram até o Palácio Guanabara, sede do governo.
Depois de Catanducas, Marcinho VP passou pelos presídios federais de Mossoró (RN) e Campo Grande, onde está detido atualmente. Ainda assim, manteve, segundo a polícia, sua influência no crime do Rio de Janeiro, sendo suspeito de ordenar novas séries de ataques em 2010, 2013, 2014 e 2017.
Tal proeminência levou a um reconhecimento extra-oficial de que Marcinho VP “talvez seja mais importante que o secretário de Segurança”. A frase foi proferida pelo então secretário de Administração Penitenciária, Raphael Montenegro, em 2021, durante encontro com o próprio traficante no presídio federal de Catanduvas.
O encontro, gravado, tinha como objetivo negociar o retorno do traficante ao sistema penitenciário do Rio de Janeiro. Montenegro, segundo a investigação, queria negociar uma trégua nos conflitos entre facções em troca da transferência. O ex-secretário chegou a ser preso, mas foi posteriormente solto e teve a denúncia rejeitada.
Da prisão, Marcinho VP escreveu dois livros. Em “Marcinho VP O Direito Penal do Inimigo Verdades e Posições” (Gramma Editora, 2017), em co-autoria com o jornalista Renato Home, ele conta sua trajetória no crime e nega algumas das acusações que lhe são atribuídas. Na obra, afirma que deu apoio a Sérgio Cabral em campanha para a prefeitura, em 1996. O ex-governador nega.
Em “Execução penal banal comentada”, analisa o sistema penitenciário e o Código Penal.