SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O Santiago Bernabéu, estádio do Real Madrid, passou por uma grande reforma para virar uma arena multiuso nos últimos anos. A diretoria merengue optou por trocar o gramado natural por um híbrido, que surge como uma alternativa ao gramado sintético, mas que ainda não atende às necessidades do Allianz Parque, o estádio do Palmeiras.

POR QUÊ?

Gramado híbrido não aguentaria cargas de shows que os estádios brasileiros recebem —no Allianz Parque, por exemplo, foram 47 shows em 2024, um recorde na história da arena. O gramado híbrido é um campo natural reforçado com tecnologia de fibras artificiais, o que faz ele atender à demanda de eventos durante os jogos de forma moderada. Além disso, ao invés da borracha vai a grama natural e ao invés da base rígida existe uma construção como se fosse de um natural.

“É preciso entender se é um estádio de futebol ou uma casa de eventos. Não adianta você colocar um gramado híbrido, fazer 10 shows no ano e achar que não vai acontecer nada. Mas é uma solução muito boa que na Europa muitos estão adotando: o estádio do Real Madrid é assim, o estádio Olímpico de Berlim [onde foi disputada a final da Euro 2024] também e até o de São Petersburgo, todos são híbridos”, afirma Christian Truda, representante comercial da Limonta Sport no Brasil (responsável pelo gramado do Santiago Bernabéu), em entrevista ao UOL.

Gramado híbrido foi testado no Allianz Parque, mas não deu certo. Alessandro Oliveira, CEO da SoccerGrass (que cuida do gramado do Allianz), disse à reportagem que o gramado híbrido foi cogitado no Allianz Parque após os problemas com a grama natural, mas os testes apontaram que não daria certo.

“O híbrido é um campo 100% de grama natural, onde enxertam fios de grama sintética, cerca de 20% do campo. Mas você tem todo o campo de grama natural, que vai se estressar por que o sol não bate pelas arquibancadas cobertas por determinação da Fifa nessa novas arenas, com shows, e a grama natural sofre com isso. Pensamos e testamos o gramado híbrido no Allianz Parque e não deu certo. Testamos onde a grama morria, ficava seca, e não funcionou. Isso seria Allianz e Maracanã”, disse Alessandro Oliveira.

“Quando fizeram a grama híbrida no Maracanã não fiz orçamento porque não daria certo. Com o estresse de jogo, só 20% de fio não seria o suficiente de manter qualidade. Ele serve mais para o visual, estética, para não ver grama estressada, queimada. Pintam a grama de verde. Para o Allianz não seria uma saída. O sucesso do Allianz é o sintético com padrão de qualidade”, completou.

Corinthians é exemplo de gramado híbrido de sucesso no futebol brasileiro. Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, se rendeu ao gramado da Neo Química Arena no ano passado e disse que era o melhor do Brasil.

O estádio do Alvinegro tem 20 centímetros de fibra sintética inserida dentro do solo em que cresce a grama natural, recebe um número muito menor de eventos que o Allianz Parque e recebe boa quantidade de luz do sol — o que possibilita esse tipo de gramado.

SINTÉTICOS TÊM APOIO DA FIFA, MAS GERAM DIVERGÊNCIAS: ‘LOUCURA’

No caso do Allianz Parque, a Fifa realiza inspeções anuais desde a sua implementação, em 2020, para comprovar que o piso segue os mesmos parâmetros de um campo de grama natural em perfeito estado. Além disso, o Palmeiras é um dos clubes com menos lesões no futebol brasileiro nos últimos anos jogando a maioria de seus jogos em casa no sintético.

O gramado teve um problema com o composto de termoplástico no início do ano passado, mas o problema já foi resolvido: “Depois que fizemos a troca [para a cortiça] não houve nenhuma queixa. Resolvemos de forma rápida e acabou. Falam do VAR, arbitragem, mas ninguém fala do gramado. Para nós é perfeito, o gramado é figurante”, disse Alessandro.

Na última segunda-feira (17), vários jogadores se uniram nas redes sociais contra o gramado sintético. Figuras de peso como Lucas Moura, Thiago Silva e Neymar promoveram uma ação que tem como reclamação o efeito do sintético na qualidade e na característica que dá ao jogo.

Para Christian Truda, da Limonta Sport, esse movimento dos sintéticos com composto de cortiça nas arenas aqui no Brasil são uma “loucura”.

“Isso que fizeram no estádio do Botafogo é uma loucura. O Allianz fez, replicou em Barueri, e agora tem no Pacaembu e na Arena MRV. Depois do terceiro ano, o campo vai ficar duro, o jogo vai ser outro. O sintético desses estádios não é a pior grama do mundo, mas não é o melhor. Virou queridinho do Brasil pelo Botafogo e virou moda. As reclamações só vão piorar com o passar dos anos e as condições desses campos vão caindo gradativamente”, concluiu.