SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Uma mulher de 25 anos está sendo apontada pela Polícia Civil do Tocantins como chefe de uma organização criminosa local ligada ao PCC (Primeiro Comando da Capital), em São Paulo. Esta semana foram cumpridos mandados de prisão para o grupo, que movimentou R$ 20 milhões.

A Polícia Civil do Tocantins identificou Lúcia Gabriela Rodrigues Bandeira como gerente do tráfico na região. Segundo o delegado Alexander Costa, da 1ª Divisão Especializada de Repressão a Narcóticos (Denarc-Palmas), ela ocupava um cargo de gerência na organização criminosa e era responsável pelo armazenamento e distribuição de drogas. “Ela era uma peça-chave do esquema, atuando diretamente no abastecimento do tráfico e garantindo que a estrutura criminosa continuasse funcionando”, afirmou o delegado.

A organização criminosa possuía cinco setores distintos, sendo Lúcia parte do núcleo gerencial, ligado ao PCC. Segundo a polícia, o grupo era estruturado com um comando paulista, enquanto a jovem e outras duas mulheres administravam a distribuição dos entorpecentes. “Essa facção tinha uma estratégia clara de colocar mulheres em posições de gerência para evitar suspeitas e dificultar as investigações”, explicou Costa. Em conversas encontradas em grupos de mensagens com o nome de “Lojistas”, a jovem era identificada como “Dama do Crime”.

Lúcia mantinha uma loja de roupas virtual, usada como fachada, segundo a investigação, para dissimular suas atividades. Em vídeos no TikTok, ela aparece com diversos modelos de vestidos, saias e blusas, fazendo dancinhas ao som de músicas que fazem apologia ao crime. Neles, ela fica em frente a um cartaz que mostra uma mulher de rosa, vestindo um capuz, fazendo sinal de silêncio e segurando um maço de dinheiro.

A gerente do tráfico operava uma “casa bomba” (tipo de imóvel que armazena grande quantidade de drogas) em Paraíso do Tocantins, utilizada como depósito. O local contava com câmeras de segurança, e os entorpecentes eram enterrados em tonéis para dificultar a ação policial. “Ela foi presa em flagrante dentro desse depósito, onde armazenava uma farta quantidade de drogas, completamente estruturada para evitar apreensões”, disse o delegado.

Mesmo após ser flagrada com uma grande quantidade de entorpecentes, em junho do ano passado, Lúcia foi solta na audiência de custódia. Segundo o delegado, a organização criminosa utilizava mulheres em posições estratégicas, possivelmente para evitar suspeitas e facilitar a soltura em casos de prisão. “Ela foi solta na audiência de custódia, possivelmente pelo fato de ser mulher e ter filhos”, explicou Costa.

Poucos meses depois, em dezembro, a jovem foi presa novamente, de forma preventiva, transportando drogas e armas, reforçando seu papel central na organização. A captura aconteceu em dezembro de 2024, durante a Operação Lady’s Fall (Queda da Dama). “Ela não conseguiu se desligar do grupo criminoso, simplesmente porque tinha um papel de liderança. Era um cargo essencial na estrutura da facção”, afirmou o delegado.

O advogado de Lúcia, Barcelos Filho, informou que a defesa ainda não tem conhecimento dos detalhes sobre a acusação, por conta do sigilo da operação. “Só vamos nos pronunciar quando tivermos certeza, total ciência, na verdade, da decisão que decretou a prisão preventiva e os fatos que a motivaram”, declarou.

O grupo criminoso movimentou pelo menos R$ 20 milhões em um ano e oito meses. Segundo relatório do COAF, esse valor passou apenas por quatro laranjas, sugerindo que a rede de lavagem de dinheiro era ainda maior. “O que identificamos até agora é apenas uma fração do que realmente circulou. Essa organização movimentava muito mais do que isso”, disse Costa.

Além do Tocantins, a facção operava em outros estados, como Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí e Maranhão. A organização enviava entorpecentes e armamento para essas regiões, fomentando a criminalidade e intensificando conflitos entre facções rivais. “Eles não estavam apenas traficando drogas, mas também fornecendo armas usadas diretamente em assassinatos e disputas entre criminosos”, revelou o delegado.

As investigações também revelaram que a facção remetia armas para criminosos em vários estados. O delegado afirmou que pistolas de origem turca, enviadas pelo grupo, foram apreendidas em confrontos entre facções em Palmas, durante o primeiro semestre de 2023. “Eles estavam fomentando uma verdadeira guerra, fornecendo armas para alimentar a violência entre grupos criminosos”, destacou Costa.

Os próximos passos da investigação incluem a análise de materiais apreendidos com Hector Evangelista, o Itaipava, preso em Barueri (SP). A polícia busca identificar outras lideranças do grupo em São Paulo, que ainda não foram localizadas. “Sabemos que há outros chefes operando no estado, e nosso objetivo é identificá-los para desmontar essa estrutura criminosa de cima para baixo”, afirmou o delegado.

Com a prisão de Lúcia Gabriela e outros 16 envolvidos na Operação Asfixia, a Polícia Civil acredita ter enfraquecido a estrutura do tráfico no Tocantins. No entanto, as investigações seguem para rastrear novas ramificações da organização e o fluxo financeiro do grupo.