BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Ao menos 270 carros foram vandalizados nos últimos meses em diversas cidades da Alemanha. O que parecia ser obra de ativistas ambientais radicais, porém, é agora investigado como sabotagem e interferência eleitoral bancada pela Rússia.

Reportagem da revista Der Spiegel, publicada nesta quarta-feira (5), mostra que a prisão de três homens no sul do país, em dezembro, desencadeou a suspeita. Uma intensificação dos ataques híbridos ordenados por Moscou era prevista pelo serviço de inteligência alemão desde que as eleições parlamentares foram antecipadas de setembro para 23 de fevereiro.

No fim do ano passado, quando a crise política alemã recrudesceu e a coalizão do governo Olaf Scholz ruiu, vários episódios de vandalismo aparentemente banais começaram a pipocar no noticiário, chamando a atenção das autoridades. Escapamentos de carros eram preenchidos com espuma isolante usada em construção. Os veículos também recebiam adesivos com slogans como “seja mais verde” e imagens de Robert Habeck, líder dos Verdes e candidato a primeiro-ministro.

A ação foi logo atribuída a ativistas climáticos radicais, e a suspeita chegou a habitar, por exemplo, as manchetes do Bild, o tabloide mais popular da Alemanha. Ao lado da economia estagnada e da crise imigratória, a retórica antiambiental ocupa espaço de destaque no debate eleitoral.

Habeck, atual ministro da Economia, é responsabilizado por conservadores e pela extrema direita por patrocinar legislações que encarecem o custo de vida alemão. Da renúncia da energia nuclear, bandeira histórica dos Verdes, à imposição de carros e aquecimento elétricos, atos impopulares de sua gestão são muito explorados pelos adversários.

Na entrevista que deu a Elon Musk há algumas semanas, Alice Weidel, candidata da AfD ao cargo de premiê, chegou a declarar que iria derrubar “todas as torres eólicas do país” caso fosse eleita. No discurso da extrema direita, o alto custo da energia no país é provocado pela insistência dos Verdes na transição energética.

A estratégia repete a cartilha bem-sucedida do populismo em outros países europeus e nos EUA, onde Donald Trump prometeu e está desmontando a política ambiental do antecessor, Joe Biden. A diferença, na Alemanha, é o peso histórico e político do Partido Verde, terceira força do campo democrático no país.

Na investigação revelada pela revista, um sérvio, um bósnio e um alemão confessaram estar recebendo 100 euros por carro vandalizado. O dinheiro viria de um homem de origem russa estabelecido na Sérvia. Segundo a inteligência alemã, sem recursos devido à guerra na Ucrânia, Moscou estaria apelando para criminosos comuns para fazer os chamados ataques híbridos —em geral, atos de sabotagem mais sofisticados, como explosões e incêndios provocados, feitos para desestabilizar adversários e países inimigos.

Em agosto, um pacote provocou um princípio de incêndio em um centro de distribuição da DHL em Leipzig. À época, a polícia federal alemã fez um alerta sobre “dispositivos incendiários não convencionais” que estariam sendo enviados de forma anônima por serviços de correio. Episódios semelhantes foram registrados na Inglaterra e na Polônia.

Também no ano passado, Vladimir Putin foi acusado de interferir em eleições nacionais na Moldova, na Geórgia e na Romênia, tendo como alvo sempre os candidatos e partidos pró-Europa. O pleito romeno foi cancelado pela corte superior do país, depois que os serviços de segurança detectaram uma campanha irregular e maciça no TikTok que teria favorecido Calin Georgescu, azarão defensor de uma aproximação com a Rússia.

Moscou nega as alegações de interferência externa.