SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Depois de derrotas em série nas eleições do ano passado, quando ficaram com 17 dos 645 municípios paulistas, os partidos de esquerda enfrentam dificuldades para iniciar diálogos sobre qual estratégia adotar para enfrentar Tarcísio de Freitas (Republicanos) ou algum adversário indicado por ele na disputa pelo Governo de São Paulo no ano que vem.
O PSB, com nove prefeituras, o PDT e o PT, com quatro cada, e o PSOL, que não governa nenhuma cidade, terão de enfrentar uma máquina estadual turbinada pelo apoio do PSD de Gilberto Kassab, que controla sozinho 206 municípios.
Petistas e integrantes do PSOL, ainda não iniciaram canais de diálogo para tratar das eleições. Eles foram derrotados juntos na capital contra a candidatura de Ricardo Nunes (MDB), que contava com apoio de Tarcísio e Kassab.
Nas conversas informais entre deputados estaduais e federais, há indicações de possíveis rumos diferentes na disputa.
Na Assembleia Legislativa, deputados petistas avaliam, nos bastidores, que não há no partido nenhum nome capaz de bater o projeto de Tarcísio, mesmo diante da percepção de que há fragilidades a serem exploradas, como a condução da segurança pública.
Petistas consideram a possibilidade de o partido apoiar uma candidatura do PSB ao Palácio dos Bandeirantes. Os principais nomes cogitados entre os parlamentares são os dos ex-governadores Geraldo Alckmin e Márcio França, respectivamente vice-presidente e ministro do Empreendedorismo.
No entanto, enquanto Alckmin já fez chegar aos petistas sua rejeição a uma nova disputa (ele governou São Paulo por quatro mandatos), França não esconde de seus aliados o desejo de concorrer ao governo. Petistas afirmam que outro possível nome no PSB, o da deputada Tabata Amaral, ainda não foi avaliado.
Em entrevista à Folha no ano passado, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, defendeu a permanência de Alckmin na Vice-Presidência e disse que Lula (PT) não poderia ter tido um vice melhor, descrevendo-o como “um vice extremamente leal e trabalhador, característica essencial para o cargo”.
Apesar disso, petistas na Câmara dos Deputados rejeitam a possibilidade de o partido abrir mão da cabeça de chapa para o governo paulista no ano que vem. Eles lembram que a estratégia determinada por Lula de ceder a prefeitura da capital para Guilherme Boulos (PSOL) terminou em derrota.
Entre os possíveis candidatos petistas, são citados os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Luiz Marinho (Trabalho). No entanto, reconhece-se que todos eles teriam de passar por um processo de convencimento que poderia depender de uma ordem direta de Lula.
“Se o PT insistir e houver uma outra correlação de forças em 2026, em que um outro ator político se coloque com peso para ocupar esse espaço, o PSB não terá o que fazer. Aí teremos que ver o que será negociado, porque o partido com certeza vai pleitear outros cargos e espaços”, afirma o historiador e pesquisador da esquerda brasileira Herbert Anjos.
No caso do PSOL, representantes da Câmara dos Deputados, da Assembleia Legislativa e da Câmara Municipal da capital afirmam que haveria muita resistência entre a militância do partido em um acordo que envolvesse o apoio a algum dos ex-governadores do PSB a dificuldade passa até por identificar Alckmin e França como nomes de esquerda.
No partido, nenhuma conversa institucional para debater a eleição foi programada até o momento, e elas só devem começar no segundo semestre.
O entendimento, contudo, é que, diante da possibilidade de Tarcísio chegar forte às urnas, uma candidatura que enfatizasse as bandeiras e propostas de esquerda do partido, em contraponto às da direita, poderia render mais assentos no Legislativo do que uma composição com um projeto mais centrista, segundo a avaliação de uma parlamentar da sigla.
Por outro lado, na Câmara, integrantes do PSOL afirmam já terem sido sondados por dirigentes do PSB para uma composição que incluiria um apoio a França ou até mesmo a Alckmin em uma disputa pelo Senado.
Por ora, o partido tem colocado apenas o nome de Boulos para uma disputa majoritária, que poderia ser tanto para uma das vagas ao Senado quanto para o próprio governo.