BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública apontam um aumento de 40,92% na apreensão de drogas pelas polícias estaduais na região da Amazônia Legal em 2024.
A área tem sido amplamente utilizada como rota do tráfico de entorpecentes no Brasil, um dos fatores apontados por especialistas para explicar o aumento significativo nas apreensões. Atribuem também à intensificação da atuação policial.
As informações divulgadas pelo ministério do governo Lula mostram que passou de 78.426 quilos para 110.518 a apreensão de cocaína e maconha. Outros tipos de drogas não foram divulgados pela pasta.
A apreensão de maconha cresceu 63,73%, de 39.680 quilos em 2023 para 64.970 em 2024. A de cocaína saltou de 38.746 quilos para 45.548, um aumento de 17,56%.
A Amazônia Legal é composta pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão.
Os estados onde mais aumentou a apreensão de maconha foram o Acre (217,73%) e Mato Grosso (174,56%). No caso da cocaína, os destaques ficaram com Maranhão (221,76%) e Amazonas (91,05%).
David Marques, coordenador de projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cita que um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) aponta para um aumento na produção de cocaína, especialmente na Colômbia, Bolívia e Peru.
Grande parte dessa droga escoa pela Amazônia Legal, tornando a região um ponto estratégico para o tráfico.
Marques acrescenta que o Brasil, além de ser um importante mercado consumidor, desempenha um papel central como hub logístico na rota do tráfico.
Aiala Colares, diretor-presidente do Instituto Mãe Crioula, afirma que o dado mais alarmante é o volume de drogas apreendidas em Mato Grosso, evidenciando a vulnerabilidade do estado frente às ações do narcotráfico.
No estado, a apreensão de maconha quase triplicou, passando de 6.386 quilos para 17.535 quilos entre 2023 e 2024. Já a apreensão de cocaína cresceu 19,55%, saltando de 19.822 para 23.697 quilos.
Ele avalia que esse cenário se agrava devido ao elevado número de aeronaves que pousam em pistas clandestinas construídas na região.
“Sabemos que as operações das polícias estaduais e federais foram intensificadas, mas esses números também revelam a grande quantidade de drogas que ingressa na área, consolidando a Amazônia como uma rota essencial para a entrada de cocaína no território brasileiro”, afirmou Colares.
Os dados da terceira edição das Cartografias da Violência na Amazônia, produzido pelo Fórum e pelo Mãe Crioula, mostra que 3 de cada 10 cidades da Amazônia Legal têm presença de ao menos uma facção criminosa. Dos 772 municípios na região, 260 convivem com a ação desses grupos.
Uma das hipóteses para a expansão do crime organizado na região é o fato de ser uma rota obrigatória para redes de mercado de drogas. Nessa logística do tráfico, portos como o de Manaus, de Vila do Conde, em Barcarena, e o de Santarém, oferecem uma entrada direta no trânsito global da droga rumo aos países consumidores.
“A apreensão é uma das estratégias, mas é preciso muito mais para combater o tráfico de drogas. O fortalecimento do enfrentamento a essas organizações deve incluir o aprimoramento do combate à lavagem de dinheiro para descapitalizá-las, além de um trabalho integrado de inteligência”, disse Marques.
“O narcotráfico é um problema no Brasil e no mundo, sendo um mercado lucrativo para as organizações criminosas. Os estados precisam mudar suas estratégias para enfrentar esse desafio”, acrescentou.
Em números, o Comando Vermelho, surgido no Rio de Janeiro, está sozinho em 129 cidades. Já a facção paulista PCC (Primeiro Comando da Capital) tem 28 cidades sob seu domínio. Outras 85 cidades têm presença de duas ou mais facções, segundo o mapeamento feito entre janeiro e setembro de 2024.
Os dados são colhidos, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em visitas a algumas cidades, entrevistas de campo e com autoridades de Polícia Federal, Polícia Militar e Ministério Público, informações de órgãos públicos, notícias e redes sociais. As informações, então, são cruzadas ao longo da elaboração do estudo.
Uma hipótese da publicação para o crescimento das facções em solo amazônico é o modelo da alianças e adesões entre grupos dentro das prisões, que amplia as fileiras do crime organizado. Essa medida também acaba por enfraquecer grupos locais por meio de fusões ou incorporações, como ocorreu, segundo o texto, com o Bonde dos 13, do Acre, a Família Terror do Amapá e a União Criminosa do Amapá.
No caso do Bonde dos 13, o grupo é apoiado pelo PCC na tentativa de fazer frente ao domínio do CV em quase todo o território acreano.
Por outro lado, outros grupos locais mantêm uma presença relevante, como o Bonde dos 40, que está sozinho em dez cidades maranhenses. Em outras seis, divide o espaço com o CV, e em Porto Franco, Alto Alegre do Maranhão e Santa Inês, com a facção do Rio de Janeiro e também o PCC.