SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A denúncia de que alunos do ensino médio do colégio Santa Cruz, em São Paulo, faziam trote em alunos mais novos pegou os pais de surpresa. Uma das mães disse que a situação machucou a todos: as vítimas, os educadores e até mesmo os próprios agressores.
Nesta primeira semana de volta às aulas, 34 alunos foram suspensos após serem acusados de terem cometido bullying e feito ameaças contra outros estudantes em grupos de WhatsApp. Algumas mensagens continham manifestações racistas, homofóbicas e misóginas.
Segundo relatos obtidos, adolescentes do 3º e do 2º ano do ensino médio estavam aplicando trotes em alunos do 1º, que ingressaram no colégio em 2025. Em grupos de WhatsApp compostos só por meninos, eles pediam que os mais novos executassem tarefas e faziam ameaças, inclusive de estupro.
Nesta sexta-feira (31), a direção do colégio fez uma reunião com os pais de alunos do ensino médio para explicar quais eram as acusações, o que foi descoberto e qual será o encaminhamento para o caso.
A escola decidiu que a punição aos alunos será feita conforme o envolvimento de cada um no caso. A maioria dos estudantes foi suspensa por dois dias, mas alguns foram suspensos por tempo indeterminado.
A mãe de um aluno do 3º ano disse que a situação deixou todos os pais muito abalados. Ela afirmou que nunca tinha ouvido relato de trotes dentro da escola, e que as denúncias pegaram todos de surpresa.
Ela pediu para não ser identificada para preservar a identidade do filho.
Para ela, a sensação é de que todos saem muito machucados, inclusive os acusados.
A coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, apurou que algumas das mensagens continham conteúdo racista e misógino.
“Vou mandar um anão preto em cima de um porco pra te estuprar”, diz uma das mensagens. Em outras, eles pressionavam os mais novos a beber álcool ou mandar vídeos de cueca. Pediam também que eles dissessem qual era o “alvo deles”, se referindo às meninas, e de qual posição sexual mais gostavam.
Um aluno também teria sido agredido por colegas por usar um banheiro do colégio que seria reservado apenas aos mais velhos.
Em nota, o colégio diz “repudiar qualquer forma de violência” e lamentar “profundamente que tais atos tenham ocorrido entre estudantes da escola”.
Afirma também que, após receber as denúncias de agressões, a escola iniciou uma apuração e tomou as “medidas educacionais cabíveis”, além de comunicar os fatos aos alunos e às famílias envolvidas.
O Santa Cruz é um dos colégios mais tradicionais de São Paulo. O valor da mensalidade para alunos do ensino médio é de R$ 7.315. Para ingressar na escola, é preciso fazer uma prova.
Nesta sexta-feira (31), a direção do colégio enviou um comunicado à comunidade escolar em que expressa “tristeza e profunda indignação em relação às agressões” que foram denunciadas. Segundo a carta, o comportamento “fere os valores estruturais do Santa Cruz, de convivência, ética e respeito ao próximo.”
O comunicado diz que, além da suspensão dos 34 alunos, o colégio passou a ampliar um trabalho de conscientização sobre a violência e responsabilidade na criação de um ambiente respeitoso.
“Continuaremos firmes com o propósito de educar nossos estudantes de acordo com os princípios humanistas e cristãos do colégio Santa Cruz, ancorados no respeito, na empatia e dignidade”, diz o comunicado.
VEJA A NOTA NA ÍNTEGRA DO SANTA CRUZ
“Recebemos denúncias de agressões em grupo de WhatsApp envolvendo alunos do ensino médio do colégio.
Prontamente, iniciamos a apuração dos fatos e estamos tomando as medidas educacionais cabíveis e comunicando-as aos alunos e às famílias envolvidas.
O Colégio Santa Cruz, instituição pautada pelo respeito ao ser humano, repudia qualquer forma de violência e lamenta profundamente que tais atos tenham ocorrido entre estudantes da escola.”