BUENOS AIRES, ARGENTINA E WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Em uma mensagem de grande peso simbólico, a primeira viagem da administração de Donald Trump às Américas foi a Venezuela. O enviado escolhido pelo líder republicano para missões especiais, Richard Grenell, viajou a Caracas nesta sexta-feira (31).
A informação foi confirmada no início desta tarde durante entrevista coletiva com Mauricio Claver-Carone, o enviado da Casa Branca para a América Latina, que então afirmou que a visita não se tratava de uma negociação. “Estamos levando uma mensagem inequívoca que, se não for cumprida, levará a consequências claras”, disse aos jornalistas.
Horas depois, a imprensa alinhada ao regime compartilhou fotos de Grenell ao lado do ditador Nicolás Maduro e de altos membros de seu regime: Jorge Rodríguez, hoje presidente do Legislativo, e Yvan Gil, chanceler. Eles estavam ao lado de bandeiras dos dois países.
Ainda que Washington reconheça o opositor Edmundo González como presidente eleito da Venezuela, a Casa Branca precisa de Maduro para partes-chaves de seus objetivos de política doméstica e externa.
Para a política de deportação em massa de imigrantes em situação irregular que planeja implementar, Trump precisaria selar algum acordo com Caracas para poder deportar venezuelanos, o que hoje não existe. Segundo, ele também precisa da ditadura sul-americana para ampliar os controles contra o tráfico de drogas que chega aos EUA.
Segundo Claver-Carone: “Os criminosos venezuelanos do Trem de Arágua têm de ser deportados e aceitos pela Venezuela, isso não é negociável; segundo, os reféns norte-americanos hoje na Venezuela têm de ser imediatamente soltos e enviados aos EUA.”
O número de pessoas é incerto, mas Caracas afirma ter cidadãos dos EUA detidos em suas prisões acusados de serem mercenários que buscavam desestabilizar o poder. Também há presos de outras nacionalidades, como a ucraniana e a colombiana.
Claver-Carone enfatizou que reprimendas poderiam ser dadas na agenda econômica venezuelana, em especial no setor de petróleo.
O secretário de Estado, o ex-senador pela Flórida Marco Rubio, já havia dito, em audiência no Senado, que os EUA deveriam rever a permissão que deram para a Chevron atuar em solo venezuelano.
Conselheiros da Chevron em Caracas estimam que a empresa produza de 200 mil a 220 mil barris de petróleo ao dia, se somados também seus associados, na Venezuela. A gigante petroleira ajudou a minimizar a bancarrota do regime e também ajuda no mercado de câmbio do país, para aumentar as entradas de dólares limitadas pelo regime.
Washington havia aliviado sanções econômicas contra Caracas em 2022, no escopo do chamado Acordo de Barbados, firmado para que o país tivesse eleições gerais no ano passado. As promessas feitas pelo regime, de que permitiria participação livre da oposição e observação eleitoral estrangeira, porém, não se cumpriram em sua totalidade.
Antes da viagem à Venezuela, pesava-se que os primeiros destinos do governo Trump no continente seriam, nesta ordem, Panamá, El Salvador, Costa Rica, Guatemala e República Dominicana.
É para esses países que Marco Rubio viajará a partir deste sábado (1º), em um giro com duas frentes principais: o debate sobre imigração e o debate sobre a presença da China na região.
Ainda nos primeiros dias de governo, Trump revogou uma proteção temporária concedida a 600 mil venezuelanos que não podem retornar com segurança ao país por serem, de alguma maneira perseguidos.
A medida foi criticada por organizações de direitos humanos e chamou a atenção por também despertar as primeiras críticas da oposição venezuelana à administração Trump.
A força política de María Corina Machado e Edmundo González disse discordar da medida e pediu que os EUA protejam os venezuelanos que não são membros de grupos criminosos. É um tema sensível, dado que a oposição aposta no apoio de Trump como uma peça fundamental de sua estratégia para pressionar Maduro a deixar o poder.
Mais do que isso, ainda nesta semana o ex-diplomata González, o real vencedor das eleições presidenciais segundo projetos de checagem, pediu, em entrevista ao jornal Washington Post, que Trump não fizesse um acordo com Maduro e que, em vez disso, enviasse os deportados venezuelanos para um terceiro país que aceitasse recebê-los.
González esteve na posse de Trump no último dia 20, em Washington, quando se reuniu com alguns políticos republicanos. Antes, também esteve com Joe Biden, quando o democrata ainda era presidente. Por sua vez, há uma recompensa vigente nos EUA no valor de R$ 150 milhões por informações que levem à prisão de Maduro.
Mas, ao que parece, nem todos clamores dos opositores venezuelanos têm sido escutados, e o pragmatismo pode imperar em algumas das decisões de Trump para a região.