SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O MPSP (Ministério Público de São Paulo) se manifestou contra o pedido da defesa do preso Cristian Cravinhos de Paula e Silva para cumprir o restante da pena fora da cadeia. A Justiça ainda não se manifestou.
Decisão do MPSP foi proferida na quinta-feira (30) após a inclusão do laudo do Teste de Rorschach no processo. O exame psicológico que avalia a personalidade de uma pessoa foi requisitado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Ainda falta a Justiça de São Paulo analisar e decidir pelo deferimento ou não do pedido.
A conclusão é bem analítica e mostra a inadequação social do sentenciado, segundo o MP. O UOL teve acesso à manifestação feita pelo promotor de Justiça Gustavo José Pedroza Silva.
Promotor afirma que Cravinhos “apresenta traços de imaturidade”. Ainda segundo a manifestação do Ministério Público, o preso também tem propensão a concretizar impulsos reprimidos e tomar medidas “irrefletidas e descontroladas”.
A conclusão do MP é de que o preso ainda necessita de melhorias para retornar ao convívio em sociedade. “O indeferimento é de rigor se o laudo se posicionou contrariamente ou permitiu margem a dúvidas, até porque a exposição de motivos da Lei de Execuções Penais sustenta que a progressão deve ser uma conquista do condenado pelo seu mérito”, concluiu o promotor.
A reportagem procurou a defesa de Cristian Cravinhos. Em nota, a advogada Maieli Luana Rodrigues declarou que só irá se manifestar “no momento oportuno”, quando for intimada nos autos.
O QUE DIZ O LAUDO DO TESTE DE RORSCHACH DE CRISTIAN CRAVINHOS
Laudo indicou traços disfuncionais de personalidade, caracterizados por rigidez emocional e controle excessivo. Segundo o documento, Cristian demonstra dificuldade em lidar com as emoções de forma espontânea, optando predominantemente por estratégias de racionalização e distanciamento emocional. “Entre suas fragilidades, destaca-se uma expressão afetiva marcadamente rígida e controlada, o que compromete sua espontaneidade emocional”, diz o laudo.
O preso também apresenta dificuldade em compreender e integrar suas emoções de maneira objetiva. Conforme o resultado do teste, as suas reações são frequentemente influenciadas por fantasias e ideias pouco realistas. Além disso, o documento também destaca que embora tenha conhecimento das normas sociais, Cristian não se identifica com elas, o que pode indicar dificuldade em internalizar valores sociais de maneiras consistente.
“Esses aspectos refletem dificuldades em compreender e expressar os afetos de maneira madura e adaptativa, além de apontarem para mecanismos empáticos deficitários, que comprometem sua capacidade de reconhecer e responder de forma apropriada às emoções e necessidades dos outros”, diz o laudo do Teste de Rorschach.
“Esse conjunto de características aponta para um funcionamento que, embora evidencie capacidades cognitivas preservadas, é impactado por instabilidade emocional e dificuldades de integração entre os aspectos intelectuais e afetivos. Essas limitações interferem negativamente na qualidade de suas interações e na adaptação às demandas do cotidiano”, diz o laudo do Teste de Rorschach.
CRISTIAN FOI CONDENADO POR PARTICIPAR DO ASSASSINATO DO CASAL
O condenado está preso em Tremembé, na penitenciária P2. Cristian está no regime semiaberto e tenta a progressão do regime para aberto na Justiça de São Paulo. Cristian Cravinhos foi preso em 2002. Ele foi condenado em 2006 a 38 anos de prisão por participar da morte de Manfred e Marísia Von Richthofen.
Justiça exigiu teste psicológico. A decisão é da juíza Sueli Zeraik de Oliveira Armani.
Cristian chegou a ter o benefício do regime aberto em 2017. No entanto, voltou a ser preso em 2018. Ele foi acusado de agredir a ex-mulher, portar arma de fogo e tentar subornar policiais.
Cristian Cravinhos é autor de crimes graves como homicídio qualificado e corrupção ativa. Ele foi condenado por participar, junto ao irmão Daniel Cravinhos e Suzane Von Richthofen, do assassinato de Manfred e Marísia Von Richthofen, em 2002. À época o crime abalou o Brasil, por contar com requintes de crueldade. O casal foi morto em casa a pauladas e o crime foi amplamente repercutido.
Em maio de 2024, após a defesa de Cristian requisitar o regime aberto, o MP-SP pediu exame criminológico. O laudo foi favorável para Cristian. O documento apontou que o detento não usou drogas desde que foi preso, mesmo tendo histórico de uso. Além disso, foi frisado que ele foi inserido às normas morais sociais, de educação e afeto, apontando para um “bom convívio”. Foi pontuado, também, que o condenado quer voltar a conviver com a mãe e com a filha.
SUZANE E DANIEL ESTÃO EM REGIME ABERTO
Suzane foi ao regime aberto em janeiro de 2023. Ela foi condenada a 39 anos, hoje estando em regime aberto e levando uma vida pacata no interior de São Paulo – ela se casou, teve uma filha e está frequentando a faculdade.
Daniel foi condenado a 38 anos e 11 meses. O ex-namorado de Suzane teve direito concedido para regime aberto em 2018 e hoje trabalha em uma oficina de motos. Sua progressão aconteceu após boa conduta na cadeia e trabalhar na confecção de cadeiras e mesas utilizadas em escolas públicas.