SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Há 25 anos, durante uma aula na Universidade Columbia, em Nova York, o professor Dickson Despommier pediu ao seus alunos que imaginassem soluções para os problemas do mundo em 2050, entre eles a insegurança alimentar -que é quando as pessoas não têm acesso a comida suficiente para sobreviver. Entre as ideias que surgiram estava a de usar a cobertura dos prédios da cidade para plantar vegetais. Mas só isso não seria suficiente.

O professor, então, teve um lampejo ao ver os prédios desocupados na cidade: por que não usar o interior deles para produzir alimentos? Os alunos fizeram as contas. Viram que um edifício de 30 andares poderia alimentar 50 mil pessoas com 2.000 calorias por ano. Se fossem 200 prédios, teriam o suficiente para toda a população de Nova York. Nasciam ali as fazendas verticais.

Nesse sistema, as plantas crescem dentro de prédios, em prateleiras enfileiradas. Nesses ambientes, luz, temperatura, umidade e vento, são controlados com cuidado. Lâmpadas LED, em vez do Sol, fornecem energia luminosa para a fotossíntese. Já os nutrientes são transmitidos não pela terra, mas pela água.

O professor passou a defender que fazendas verticais seriam uma alternativa menos agressiva ao meio ambiente do que as plantações convencionais por usar menos metros quadrados de terra e menos água. O esquema funcionaria melhor também para fornecer alimentos frescos nos grandes centros urbanos sem precisar transportar uma alface, por exemplo, do interior até a cidade.

Embora já dê para plantar uva, lúpulo, abacate e mirtilo nessas fazendas, as hortaliças têm sido a escolha principal, porque elas precisam de pouco espaço para crescer e porque crescem rápido, o que torna o negócio mais lucrativo.

Mas as fazendas verticais também têm suas desvantagens: as hortaliças cultivadas nelas costumam ser mais caras do que as produzidas em terra de verdade, afirma Ítalo Guedes, cientista da Embrapa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, que estuda esse modelo. Isso porque na cidade, onde ficam essas fazendas, o metro quadrado é mais caro do que no campo. Também gasta-se muito com a

energia das luzes que substituem o Sol.

Por causa disso, muitas empresas desse ramo já enfrentaram dificuldades financeiras. Mas à medida que a tecnologia evolui e se torna mais barata, e novas técnicas são desenvolvidas, as fazendas verticais ganham um novo fôlego.

Um estudo feito recentemente pela Embrapa, por exemplo, desenvolveu um jeito de produzir vegetais e morangos nessas fazendas. Ítalo Guedes foi o pesquisador responsável.

“O sistema que criamos é como um programa de computador que sabe tudo o que é preciso para produzir esse ou aquele vegetal, como quantidade de luz e concentração de nutrientes na água”, explica. “Também descobrimos o papel do vento na nutrição das plantas, que até então não sabíamos. Agora temos controle total do cultivo indoor.”