FLORIANÓPOLIS, SC (FOLHAPRESS) – Na praia de Canasvieiras, ponto tradicional dos argentinos em Florianópolis, o espanhol impera praticamente como língua oficial. Não só na faixa de areia no litoral de Santa Catarina, mas em bares, restaurantes, shoppings e outros pontos turísticos é comum ouvir turistas e também atendentes falando no idioma dos vizinhos latinos.

“Muito lindo. E agora o câmbio está muito mais favorável para nós do que há quatro anos”, diz a argentina Mônica Colarte, que depois de quatro anos voltou à capital catarinense para comemorar seu 60º aniversário ao lado da filha, Karina Colarte. Moradoras de San Juan, elas chegaram em uma excursão com 60 pessoas.

Restaurantes, hotéis, agências de passeios e até supermercados sentem o efeito desse poder de compra maior.

“Eles trouxeram outro ritmo para Canasvieiras. Como gostam de ir à praia de dia e de jantar tarde, eles saem para fazer compras de noite”, disse Simoney do Nascimento, dono de uma imobiliária no bairro. “Tem lojista que está fechando duas horas da madrugada. À meia-noite o centrinho de Canasvieiras está lotado de argentinos.”

O jovem Agustin Silva, 21, dirigiu desde Buenos Aires até o norte da Ilha de Santa Catarina com um grupo de 28 amigos, divididos em seis carros.

“Gasto em média entre R$ 250 e R$ 350 por dia. Agora, com o câmbio favorável, conseguimos aproveitar atrações que antes não cabiam no bolso, como o passeio de escuna”, relata Silva.

A tradição argentina de passar as férias em Florianópolis não é recente. Desde à década de 1970 que esse fluxo existe, quando as praias catarinenses passaram a se popularizar como alternativa às já tradicionais Mar del Plata e Punta del Este.

A família Repetti, de Buenos Aires, mantém uma rotina de quase três décadas de veraneio na cidade. “Viemos todos os anos, desde que a Aldana tinha um ano. Desta vez, o câmbio está ainda melhor”, explica Julio Ricardo Repetti, 57.

Ele pretende aproveitar 15 dias ao lado da esposa, Maria Rosa Sallas, e da filha, Aldana, 28. Em tom de brincadeira, Julio brinca que a única coisa que o incomoda nesta temporada é “ter argentinos demais” dividindo espaço com ele na areia.

No centrinho de Canasvieiras, é comum ver rodas de amigos ouvindo as clássicas do rock argentino nos carros, em frente à orla de noite, e o impressionante número de pessoas com suas cuias de mate.

Nos restaurantes e demais estabelecimentos, se tem uma televisão, jogos do Boca Juniors não passam despercebidos.

Esse aumento da presença dos vizinhos também refletiu em outras regiões da cidade, principalmente com o esgotamento das estadias desde o Réveillon.

“Eles estão mais presentes no centro esse ano também. Acho que uns 15% do meu público hoje é de argentino”, disse o comerciante Cleyton de Lima Souza, que mantém um minimercado no centro de Florianópolis.

Do extremo sul da Argentina, a família Leguizamón encarou quatro dias de viagem de carro para visitar Florianópolis pela segunda vez. E desta vez o roteiro não inclui só a região das praias.

“O centro da cidade é lindo, com casarões históricos, e a noite é bastante agitada”, disse Lucia Leguizamón, 20, que está na cidade acompanhada do pai e da irmã.

Pablo elogia os serviços locais, mas observa que a coleta de lixo e a segurança pública não acompanharam o aumento de pessoas. “Gostamos muito do atendimento nos restaurantes, nas lojas e aqui na beira da praia. Aqui está bem limpo, mas no bairro tem muito lixo e também vi pouca presença da polícia este ano.”

Outro ponto que tem chamado a atenção no comércio é que os argentinos estão usando o Pix para pagamentos através de serviços de bancos que oferecem o armazenamento de múltiplas moedas.

“Quase não se vê mais argentinos nas casas de câmbio como antigamente”, afirma Renato Luiz Fernandes, dono de uma banca de revistas no shopping Beira Mar, na região central. “Esse ano a presença deles aqui pelo shopping é visível mesmo, estão vindo bastante aqui. Nos dias de chuva isso aqui fica lotado de argentinos”, afirma o comerciante.

O argentino Esteban Weinzettel, 36, assumiu recentemente um restaurante em Canasvieiras. “O movimento está muito bom. Aqui, os argentinos podem comer aquilo de que sentem falta, como empanadas e o fernet”, conta.

Weinzettel chegou à capital catarinense há 11 meses como nômade digital, mas viu na temporada uma oportunidade de empreender e oferecer um cardápio típico para seus conterrâneos.

Segundo pesquisa da Fecomércio SC, os “hermanos” representam 22% dos visitantes no estado só nas primeiras semanas da alta temporada, mais que o dobro do ano anterior, quando eram 10%.

Em relação ao total de estrangeiros, a parcela de argentinos chega a 81%. Os demais incluem uruguaios, chilenos, paraguaios, portugueses e norte-americanos.

“Os argentinos voltaram com tudo. Essa temporada está lembrando os anos 1990, quando havia a paridade entre o peso e o dólar”, disse o presidente da Fecomércio SC, Hélio Dagnoni.