SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A brasileira atropelada em 1º de janeiro por uma atriz argentina em Buenos Aires foi transferida para um hospital em São Paulo na noite de quinta-feira (30).

Cleusa Adriana Nunes Pombo, 50, foi encaminhada ao Hospital Alvorada Moema, na capital paulista. Transferência foi realizada após família conseguir dinheiro com campanha online.

A transferência foi feita em um voo sanitário. Segundo a família, não houve nenhuma intercorrência durante o trajeto. A brasileira estava lúcida, apesar de não conseguir falar devido à traqueostomia, procedimento cirúrgico que pode ser necessário em casos de doenças ou lesões pulmonares graves.

Estado de saúde ainda é delicado, mas a paciente está estável. Segundo Bárbara Nunes, filha de Cleusa, os médicos no Brasil já começaram a fazer uma nova bateria de exames. “Ela passou ontem por uma tomografia na cabeça e no tórax. Hoje ela vai ser avaliada por um neurologista e um pneumologista”, detalhou.

Bárbara está aliviada após a mãe chegar ao Brasil. “Sensacional, nos recepcionaram muito bem”, afirmou.

A brasileira teve uma série de fraturas após ser atropelada. Cleusa tem um hematoma no pulmão, nove costelas quebradas, fraturas no punho, na clavícula e no crânio.

Família conseguiu arrecadar valor necessário para transportar a mulher para São Paulo. Arrecadação do dinheiro foi feita por doações em uma vaquinha virtual.

Bárbara também contou que precisou parar a própria vida para ir até a Argentina acompanhar a mãe. “Meu emprego ficou para trás, tudo ficou no Brasil, e cada dia aqui é uma luta não apenas contra o medo de perder minha mãe, mas também contra a indiferença das autoridades”, afirmou.

Uma das principais queixas da família é o fato de que Patrícia Scheuer, atriz que atropelou o casal, está solta. A mulher, que, segundo Bárbara não prestou qualquer apoio à família, alegou que não se lembra do ocorrido e disse que o airbag do carro explodiu. Ela é investigada pelo crime de homicídio culposo.

“Minha mãe merece viver. Meu padrasto merece justiça. Essa tragédia não pode ser mais uma estatística que será esquecida em poucos dias”, disse Bárbara Nunes, filha de Cleusa, em entrevista ao UOL.

Fernando Pereira de Amorim Junior, 62, e Cleusa Adriana Nunes Pombo, 50, foram atropelados pela atriz Patrícia Scheuer em 1º de janeiro. Eles estavam no bairro da Recoleta, em Buenos Aires, para passar a virada do ano quando sofreram o acidente.

A motorista perdeu o controle do veículo e bateu em um semáforo antes de atingir os dois. Fernando foi o mais atingido, ficando preso sob o carro.

A morte de Fernando foi constatada no local do acidente. Cleusa também ficou ferida e foi internada com politraumatismo em um hospital público de Buenos Aires.

Polícia investiga o caso. As investigações do acidente ficam sob os cuidados do Juizado Penal número 9. Inicialmente, a motorista foi acusada de “homicídio e lesões”. A atriz não estava alcoolizada, estava sozinha e não sofreu ferimentos graves. O Consulado do Brasil em Buenos Aires informou que “acompanha o caso e que está em contato com os familiares e com as autoridades locais, além de prestar assistência consular cabível”.

Atriz chegou a ser presa, mas foi solta. No dia do acidente, Scheuer foi levada ao Gabinete de Controle e depois transferida para a Delegacia Comunal 15, em Chacarita. Após prestar depoimento, ela foi liberada. A sua defesa alega que houve “perda de consciência”.

À Justiça, Patricia Scheuer disse ter tido um “apagão de uns 10 segundos”. Conforme declarações à imprensa do advogado da defesa Alfredo Humber, “ela sofreu uma desconexão no tempo e no espaço”. Fontes do Ministério Público acrescentaram que Patricia alegou sofrer de uma síndrome de perda de consciência, conhecida como “síndrome de despersonalização” que provoca repentinas desconexões temporo-espaciais. Essa desconexão, segundo a defesa, teria levado a empresária a perder a consciência e o controle do veículo.

No seu depoimento, a mulher citou antecedentes psiquiátricos. A empresária também falou sobre um prolongado tratamento contra depressão e ansiedade. Contou que, há um ano, viveu um episódio semelhante, onde tudo apagou por 10 ou 15 segundos. “Ela relatou já ter vivido um episódio semelhante, mas dentro de casa”, contou o advogado.

A acusada vai responder ao processo em liberdade. As penas por condução imprudente, negligente ou irregular vão de dois a cinco anos de prisão e inabilitação da carteira de motorista entre cinco e dez anos.