SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Muslim Public Affairs Council, MPAC —Conselho Muçulmano de Questões Públicas—, que defende os direitos de seguidores da religião islâmica, criticou tuítes publicados pela atriz espanhola Karla Sofía Gascón, estrela de “Emilia Pérez”, em 2020 e 2021 que foram recuperados nesta semana, em meio à campanha pelo Oscar.

Dentre as postagens, Gascón questiona o “aumento de muçulmanos” na Espanha, seu país de origem. “Toda vez que vou buscar minha filha na escola, há mais mulheres com o cabelo coberto e saias até os calcanhares. No próximo ano, em vez de inglês, teremos que ensinar árabe”, afirmou ela numa postagem hoje já fora do ar.

“Apagados ou não, esses tuítes são dolorosos, ofensivos e chocantes, principalmente vindos de alguém que é membro de outra comunidade vulnerável”, disse a vice-presidente sênior do escritória do MPAC em Hollywood, Sue Obeidi, ao portal The Wrap. Gascón é a primeira pessoa trans indicada ao Oscar de melhor atriz.

“Os muçulmanos fazem parte de todas as comunidades, incluindo a comunidade transgênero. ‘Valores europeus’?”, segue Obeidi. “Ela quer dizer aqueles que levaram ao Holocausto? Ela precisa mergulhar na história islâmica. Quando a Europa estava na era das trevas, os muçulmanos estavam ocupados descobrindo matemática, ciência e equipamentos médicos. Aprenda, mulher.”

Outra de suas postagens, publicada em setembro de 2020, ironiza o tratamento às mulheres pelo islamismo a partir de uma foto em que um casal e uma criança comem em um restaurante.

“Islã é maravilhoso, sem qualquer machismo. As mulheres são respeitadas, e quando são tão respeitadas, ficam com um pequeno buraco quadrado no rosto para que seus olhos sejam visíveis e suas bocas, mas apenas se elas se comportarem. Embora se vistam assim para seu próprio prazer. Que nojo mais profundo da humanidade!”

Em outra publicação, feita em janeiro de 2021, Gascón afirmou que “O Islã não cumpre com os direitos internacionais”. “Devem ser proibidas enquanto não cumprirem com os DDHH [abreviação para direitos humanos segundo a legislação espanhola]”, disse ela em outra publicação.

Meses mais tarde, em agosto, ela expande as suas críticas a outras religiões. “Estou tão cansada de tanta merda, do islamismo, do cristianismo, do catolicismo e de todas as crenças idiotas que violam os direitos humanos”.

Outro tuíte polêmico de Gascón foi sobre George Floyd, vítima de policiais nos Estados Unidos que se tornou símbolo e provocou uma série de manifestações em relação à violência policial, e expressa seu ponto de vista sobre a população muçulmana, entre outros exemplos.

“Eu realmente acho que muito poucas pessoas se importaram com George Floyd, um vigarista viciado em drogas, mas sua morte serviu para demonstrar mais uma vez que ainda existem pessoas que consideram os negros como macacos sem direitos e consideram os policiais como assassinos”, diz ela em uma postagem feita em novembro de 2020.

Gascón também está no centro de uma polêmica envolvendo Fernanda Torres, que compete com ela no Oscar pelo seu papel em “Ainda Estou Aqui”.

Um vídeo da declaração, dada em entrevista a este jornal, circulou pelas redes sociais na noite desta quarta-feira (29), acompanhado de mensagens de usuários pedindo o cancelamento da indicação de Gascón ao Oscar de melhor atriz por supostamente infringir as regras da Academia.

“Acredito que a Fernanda é uma mulher que merece qualquer reconhecimento do mundo”, disse Gascón, estrela de “Emilia Pérez”, na entrevista, em que não poupou elogios à brasileira e que foi feita dois dias antes do anúncio dos indicados ao Oscar, cerimônia na qual elas competem pela estatueta de melhor atriz.

Uma fonte próxima à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela entrega do Oscar, confirmou à Folha que seus diretores se reuniram para avaliar a fala de Karla Sofía Gascón de que “muitas pessoas que trabalham no ambiente de Fernanda Torres” falam mal de sua atuação e de seu filme. A conclusão teria sido de que ela não feriu o regulamento da premiação.