RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Polícia Militar do Rio de Janeiro realiza nesta sexta-feira (31) uma grande operação na região chamada de Complexo de Israel, que abrange bairros como Vigário Geral, Parada de Lucas, Brás de Pina e Cidade Alta, na zona norte do Rio. Um policial militar foi baleado.

A avenida Brasil, principal via expressa do Rio, foi interditada nos dois sentidos, na altura da Cidade Alta, ainda na madrugada. A via chegou a ser totalmente liberada, mas voltou a ter uma faixa interditada pela PM por volta as 7h.

A avenida Brasil dá acesso às comunidades que compõem o Complexo de Israel. Três linhas de ônibus tiveram o trajeto alterado, por questão de segurança.

Tiros atingiram a rede aérea da SuperVia, concessionária que administra os trens urbanos do Rio, na altura de Vigário Geral. Os trens pararam de circular por alguns minutos no sentido Central do Brasil, o mais movimentado durante as manhãs.

Uma equipe de manutenção tenta substituir os equipamentos que foram danificados, e passageiros do ramal Saracuruna, em Duque de Caxias, precisam trocar de composição na estação da Penha para seguir viagem. O intervalo médio é de 50 minutos.

Com ajuda de tratores e retroescaveiras, policiais retiraram barricadas que teriam sido colocadas nas ruas de acesso ao Complexo e Israel para dificultar a entrada da polícia.

Cinco pessoas foram presas, segundo a PM, todas suspeitas de envolvimento com o tráfico local. Três fuzis, três granadas e drogas foram apreendidos por policiais do 16° Batalhão, de Olaria.

O PM baleado foi levado ao hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha, e está em estado grave.

A operação desta sexta tenta novamente encontrar Álvaro Malaquias Rosa, o Peixão, suspeito de liderar o Complexo de Israel, e conter o avanço da facção TCP (Terceiro Comando Puro). Na última semana, traficantes do TCP e do Comando Vermelho trocaram tiros em Vigário Geral.

A ação acontece três meses após um confronto entre traficantes e policiais militares que deixou três mortos e três feridos, fechou a avenida Brasil e gerou pânico na cidade. A investigação policial apontou que os tiros que atingiram as vítimas, todas a caminho do trabalho, foram disparados por traficantes.

Nesta sexta, policiais militares do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), do Choque e de outros batalhões especializados saíram da sede da corporação ainda por volta das 4h.

Em Duque de Caxias, policiais civis realizam nesta sexta uma outra operação, contra um grupo suspeito de praticar roubos de cargas e carros. Os suspeitos, segundo apuração policial, fazem parte do Comando Vermelho.

Agentes da DRFA (Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis) e da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) fazem a operação no Parque das Missões, em Duque de Caxias. Duas pessoas foram presas.

QUEM É PEIXÃO

Peixão fundou o Complexo de Israel em 2021, durante a pandemia de Covid-19, aproveitando a ausência de operações policiais nas favelas. Após tomar territórios do Comando Vermelho, ele uniu as comunidades com pontes, sendo a maior sobre o rio Pavuna. As obras facilitaram o deslocamento de seus comparsas, que se autodenominam Tropa do Arão —o nome que Peixão escolheu após se batizar como evangélico.

No Antigo Testamento da Bíblia, Arão é descrito o como o irmão mais velho de Moisés e desempenhou um papel fundamental na liderança do povo de Israel durante o período do Êxodo, quando os israelitas foram libertados da escravidão no Egito.

Em Parada de Lucas, o traficante ergueu dois espaços de luxo. Em um deles, há um grafite de 10 metros de altura com a frase: “Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor”. A mesma imagem conta com uma representação da favela e, ao fundo, o Domo da Rocha, local sagrado em Jerusalém. Em primeiro plano, homens vestindo uniformes militares com a bandeira de Israel.

Nesse mesmo local, a polícia encontrou equipamentos de sadomasoquismo; ao lado, bíblias.

Já em outra residência, com praia particular e lago artificial, há também um campo de futebol, piscina, sauna e área para churrasco. Neste ano, mesmo após a polícia ter ido ao local, o traficante realizou uma obra: ergueu uma espécie de montanha. Segundo os investigadores, seria um monte de oração.