SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta alta nesta quinta-feira (30), com o mercado repercutindo as decisões de juros do Brasil e dos Estados Unidos do dia anterior.

Enquanto o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) manteve a taxa inalterada e interrompeu a sequência de cortes, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) subiu a taxa Selic em 1 ponto percentual, a 13,25% ao ano —ambas as divulgações em linha com as expectativas do mercado.

Às 12h13, a moeda norte-americana subia 0,47%, cotada a R$ 5,894. Já a Bolsa disparava 1,74%, aos 125.586 pontos.

Na ponta brasileira, o Copom manteve a indicação da reunião de dezembro e aumentou a Selic em 1 ponto percentual, a 13,25% ao ano. Esse foi o primeiro encontro sob o comando de Gabriel Galípolo –nome de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A decisão foi unânime entre todos os membros do colegiado.

No comunicado, o comitê reafirmou a sinalização de que pretende fazer mais uma alta da mesma intensidade na próxima reunião, em março, citando a “continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação”. No entanto, evitou se comprometer com qualquer ritmo de ajuste em maio.

A principal função da taxa Selic é segurar a inflação. No último boletim Focus, analistas ouvidos pelo BC esperam que IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) termine o ano em 5,50%.

O centro da meta para a inflação é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Com a previsão de inflação mais alta para este ano, analistas dizem que a taxa de juros pode ultrapassar os 15% ao ano. Segundo eles, sem ajustes fiscais que garantam reequilíbrio das contas públicas, uma elevada taxa de juros seria a única forma de frear o avanço nos preços.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, descreveu como preocupante o recente aumento das expectativas de inflação e disse que o ciclo de alta da Selic pode ser maior do que o esperado. “Nesse sentido, naturalmente, pode ser que algumas casas [representantes do mercado] comecem a revisar para cima a expectativa de alta de juros.”

“A gente esperava que subisse até 15%. Agora a gente vai ter que sentar, começar a fazer alguns cálculos e esperar na próxima semana a ata [do Copo] para entender no detalhe, reavaliar o cenário e saber se sobe essa [expectativa de] taxa de juros, chegando ali a talvez 16%. É bem provável que chegue nesse nível”, completou Agostini.

Ao mesmo tempo, a falta de indicação para além de março abriu margem para a interpretação contrária: a de que o pico da Selic pode ser menor do que o esperado anteriormente.

O comitê afirmou que, depois da próxima reunião, a magnitude do ciclo de aperto será ditada “pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta” e dependerá de fatores como a evolução dos preços, projeções, expectativas de mercado, nível de ocupação da economia e do balanço de riscos para a inflação.

“A mensagem do Copom, na margem, sugere que a Selic terminal pode não ser tão alta quanto os mercados haviam precificado. O tom do comunicado foi duro, mas não o suficiente para deixar claro que a nova gestão será tão ‘hawkish’ [favorável à alta de juros] quanto a anterior”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.

“Um tom menos crítico com o cenário fiscal e a falta de orientação futura abrem espaço para interpretações sobre o compromisso da gestão.”

Essa percepção também era observada na curva de juros, onde as taxas futuras para contratos de curto prazo chegavam a recuar acima de 10 pontos-base nesta sessão, refletindo um cenário de juros mais baixos do que o esperado anteriormente. O Ibovespa também surfava nessa percepção, com quase todas as empresas da carteira teórica no positivo.

Já na ponta norte-americana, o Fed manteve a taxa de juros na banda de 4,25% e 4,5%, como amplamente esperado.

No comunicado, removeu a linguagem das últimas atas que dizia que a inflação estava progredindo em direção à meta e, agora, observou que o ritmo de aumento nos preços “permanece elevado”. As autoridades ainda disseram acreditar que o progresso na redução da inflação será retomado este ano, embora não tenham dado nenhuma indicação de quando as taxas irão voltar a cair.

Após reunião de dezembro, o Fed —de olho na persistência da inflação acima da meta de 2%, no mercado de trabalho forte e na incerteza sobre efeitos da política econômica do presidente Donald Trump— já tinha indicado uma postura mais cautelosa e previsto menos cortes em 2025.

Em entrevista coletiva após a reunião, o presidente da autarquia, Jerome Powell, disse que é muito cedo para dizer o que as possíveis medidas de Trump causarão sobre a economia e que o banco central levará o tempo necessário para avaliar o significado do novo regime de políticas governamentais.

Desde a campanha eleitoral, o republicano tem prometido elevar as tarifas de importação para produtos vindos da China, Canadá, União Europeia, México, entre outros.

Segundo especialistas em comércio, a imposição de tarifas mais altas afetaria os fluxos comerciais, aumentaria custos e provocaria retaliações. Na economia doméstica dos EUA, ainda há o risco de um repique inflacionário, o que pode comprometer a briga do Fed contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados.

Nenhuma ordem foi assinada por enquanto. A leitura é que a política tarifária tem sido menos agressiva do que se esperava para os primeiros dias de governo, e o mercado pondera se as ameaças são bravatas políticas ou de fato planos concretos do presidente. Até agora, Trump apenas orientou que as agências federais investiguem os déficits comerciais dos EUA e práticas comerciais “injustas” de países parceiros.

As autoridades do Fed estão “esperando para ver quais políticas serão promulgadas”, disse Powell.

“Não sabemos o que acontecerá com as tarifas, com a imigração, com a política fiscal e com a política regulatória.”

Ainda na cena internacional, o BCE (Banco Central Europeu) cortou a taxa de juros novamente e manteve a porta aberta para maiores afrouxamentos. Por lá, os temores de uma estagnação na economia superam as preocupações com a inflação.

O mercado repercute dados do PIB (Produto Interno Bruto) do quarto trimestre de 2024 dos Estados Unidos. A economia norte-americana cresceu 2,3% no período —uma desaceleração em relação aos 3,1% do trimestre anterior.