Matheus Praça

Dois goianos que foram deportados dos Estados Unidos descreveram situações de desespero e sofrimento durante o voo que os trouxe de volta ao Brasil. Kaleb Barbosa, de 28 anos, e Wendel Lourenço fazem parte de um grupo de 88 brasileiros que chegaram a Minas Gerais no último sábado (25). Além de enfrentarem problemas técnicos na aeronave, os passageiros relataram terem sido algemados, agredidos e submetidos a situações degradantes.

Kaleb, que deixou Rubiataba, Goiás, para tentar uma vida melhor nos EUA há seis anos, descreveu o voo como aterrorizante. Segundo ele, o avião apresentou falhas graves e precisou ser acompanhado por um mecânico durante o trajeto. “Nunca vi nada igual. O avião estava em más condições, com problemas nas turbinas e no ar-condicionado. Foi assustador”, afirmou.

O problema se agravou quando o ar-condicionado parou de funcionar em pleno voo. “As pessoas começaram a passar mal, algumas desmaiaram e crianças entraram em pânico. Foi desesperador, parecia um pesadelo”, contou Kaleb. Ele acrescentou que as turbinas chegaram a emitir fumaça após o pouso em Manaus, forçando a abertura das saídas de emergência.

Wendel Lourenço, instalador de pisos, viveu outro lado da mesma tragédia. Separado de sua família – esposa, filhos e netos – que ficou nos EUA, ele chegou ao Brasil com pés e mãos algemados. “A ordem era clara: nos transportar sob vigilância máxima, sem consideração alguma”, desabafou. Wendel ainda destacou o impacto emocional da deportação e prometeu lutar para reunir sua família em Goiás.

Intervenção do Governo Brasileiro

Após o pouso emergencial em Manaus, o governo brasileiro determinou que os deportados fossem transferidos para um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), em uma tentativa de garantir a segurança dos passageiros. A ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, esteve presente no desembarque em Belo Horizonte, acompanhando as famílias que chegavam em condições emocionais e físicas fragilizadas.

Contexto das Deportações

As deportações em massa realizadas pelo governo dos Estados Unidos têm deixado marcas profundas em milhares de famílias. Desde o início da gestão Trump, políticas mais rígidas contra imigrantes ilegais foram implementadas, classificando a imigração como uma “emergência nacional”.

Na semana passada, uma operação de larga escala deteve mais de 500 imigrantes, com centenas sendo deportados imediatamente. Essas ações, conduzidas de maneira rigorosa, frequentemente resultam em histórias como as de Kaleb e Wendel, marcadas pela separação familiar, traumas psicológicos e incertezas sobre o futuro.

Enquanto isso, os deportados retornam ao Brasil apenas com seus pertences pessoais e a difícil tarefa de reconstruir suas vidas após terem enfrentado a dura realidade de serem estrangeiros indesejados.